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Estado de Minas

Economia avança só 0,6% no trimestre e decepciona

Com investimentos em queda, geração de riqueza tem recuperação abaixo do esperado e expansão no ano deve ser inferior a 1%. Dilma cobra e Mantega afirma estar surpreso


postado em 01/12/2012 00:12 / atualizado em 01/12/2012 07:24

O engenheiro civil Rodrigo Prado Soares, com a mulher Rosana e os filhos Giovana e Bruno: gastos estão mantidos, mas o futuro preocupa(foto: MARCOS MICHELIN/EM/D.A PRESS)
O engenheiro civil Rodrigo Prado Soares, com a mulher Rosana e os filhos Giovana e Bruno: gastos estão mantidos, mas o futuro preocupa (foto: MARCOS MICHELIN/EM/D.A PRESS)

A economia brasileira continua emperrada pela falta de investimentos e pela desconfiança do setor produtivo. O Produto Interno Bruto (PIB), soma da produção de bens e serviços no país, cresceu apenas 0,6% no terceiro trimestre em relação ao segundo e só 0,9% na comparação com igual período do ano anterior, somando R$ 1,09 trilhão. Ao ficarem abaixo da menor das estimativas que vinham sendo feitas nas últimas semanas, os números divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) decepcionaram investidores e analistas, e criaram um clima tenso na equipe econômica do governo.

Na noite de quinta-feira, ao ser informada do resultado, a presidente Dilma Rousseff cobrou explicações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que vinha apostando em uma aceleração mais intensa do ritmo da atividade econômica no período. O cenário descortinado pelo IBGE, no entanto, é bem diferente. Com ajuste sazonal, o resultado acumulado nos quatro trimestres terminados em setembro revela uma economia crescendo ao ritmo também de 0,9%. Se for considerada a performance apenas dos nove primeiros meses de 2009, o avanço é ainda mais tímido, de 0,7%, indicando que nem mesmo a já modesta estimativa do Banco Central de que o PIB poderia avançar 1,6% neste ano deverá ser alcançada.

Mantega, que na semana passada ainda apostava em alta trimestral de 1,3% , ontem se disse “surpreso” com o “pibinho”, sobretudo porque o setor de serviços, responsável por 60% da composição do indicador, teve variação nula no período. “Não foi tão alto quanto todo mundo esperava”, disse ele, em São Paulo, observando que nenhum dos principais analistas do mercado estimava um aumento menor do que 1%.

Mesmo assim, o ministro manteve o discurso otimista, disse que nos últimos três meses do ano a economia deve crescer 1% e reafirmou a aposta em uma expansão de 4% do PIB em 2013. “O que está acontecendo na economia brasileira é um movimento difuso de recuperação de todos os setores”, garantiu. A mesma avaliação foi manifestada pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que, em nota, afirmou que os dados do IBGE “indicam continuidade da recuperação da atividade econômica neste segundo semestre.”

Apesar de os consumos do governo e, sobretudo, das famílias terem apresentado forte expansão na comparação com o terceiro trimestre de 2011, os técnicos do IBGE apontam o tombo dos investimentos como fator mais preocupante e o vilão do baixo crescimento do PIB. A chamada formação bruta de capital fixo (FBCF), que mede a compra de máquinas e equipamentos voltados à atividade produtiva doméstica, caiu 5,6% na comparação anual e  2% em relação ao trimestre anterior.

A retração dos investimentos vai obrigar o governo federal a dar atenção especial ao problema, no sentido de tomar medidas específicas, na avaliação do presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão. “A economia tem de entrar num ritmo de liberação dos investimentos em infraestrutura, com o gerenciamento de obstáculos que enfrentamos aos projetos e à aprovação das fontes de financiamentos”, afirma.

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Pesada de Minas Gerais (Sicepot-MG), Alberto José Salum, aponta uma paralisia das obras de infraestrutura há mais de um ano, o que estaria comprometendo as possibilidades de crescimento da economia. “Lamento que o Brasil seja considerado um país do grupo dos emergentes e esteja na rabeira das outras nações (China, Índia, Rússia e África do Sul). Precisamos lançar mão de todas as medidas para dar velocidade às obras e investimentos”, reclama.

Novo passo A desoneração dos investimentos e a criação de estímulos à importação de equipamentos sem similar nacional são duas das medidas esperadas por Lincoln Gonçalves, presidente do Conselho de Política Industrial e Econômica da Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIemg). “O passo que tem de ser dado agora é no sentido de investimentos robustos, que estão ligados, fundamentalmente, às áreas de infraestrutura e logística.”

Foi a quinta retração trimestral seguida dos investimentos e a queda mais forte dos últimos três anos e meio, mostrando que as medidas tomadas pelo governo para estimular a atividade não foram capazes de superar a desconfiança dos empresários sobre os rumos da economia e convencê-los a tirar da gaveta os projetos de ampliação ou construção de fábricas. “O que puxou o PIB para baixo foi o recuo na produção de bens de capital, como consequência imediata do cenário de incertezas no Brasil e no exterior”, comentou Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE.

Consumo ignora crise

Ana Carolina Dirnardo e Marinella Castro

O consumo das famílias continuou desafiando todos os demais indicadores da economia e mantendo a trajetória de alta. Favorecido pelo elevado nível de emprego e pelo aumento real da massa salarial, o gasto na compra de bens duráveis apresentou uma expansão de 3,4% no terceiro trimestre em relação a igual período do ano anterior. Foi o 36º crescimento trimestral das famílias na comparação anual. “A demanda continua crescendo mais que a oferta disponível, também estimulada pelo crédito e pelos incentivos do governo a alguns setores”, sublinhou Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico (IBGE).

Com crescimento nominal de 13,7% no saldo de operações de crédito do sistema financeiro com recursos livres para pessoas físicas e salários 6,6% maiores que a média, o consumo das famílias é um fator importante de aquecimento da economia. Mas já há sinais preocupantes no horizonte, como a inadimplência recorde e menos investimento na produção, observa Rebeca. A incapacidade de quitar os débitos preocupa também o economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) Fábio Bentes. Ele ressaltou que a fartura de crédito existente no mercado comprometeu o orçamento dos brasileiros, que ainda pagam compromissos assumidos anteriormente. “O crescimento nas vendas de bens duráveis continua, mas em ritmo menor”, destacou.

IPI reduzido Os incentivos dados para que as famílias brasileiras não tenham medo de gastar e permaneçam colocando dinheiro em circulação foram decisivos para que o servidor público Manoel Antônio Ribeiro, 50 anos, decidisse presentear o sobrinho. Ele aproveitou o desconto do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para eletrodomésticos de linha branca e comprou uma geladeira de R$ 1,2 mil. O pagamento foi à vista. “Como ele se casa ainda este mês, eu já vinha planejando isso. E esta é uma boa hora”, disse.

Firme no mercado de trabalho, a família do engenheiro Rodrigo Soares não sentiu o esfriamento da economia. O orçamento doméstico está em dia e as atividades como os gastos com educação e lazer para os filhos Bruno, de 17 anos, e Giovana, de 13, seguem sem cortes. As despesas do lar e até as viagens de férias também estão mantidas. Rodrigo e a mulher, Denise Araújo, professora de inglês, sentem que a demanda do mercado continua aquecida nos setores em que atuam, mas reconhecem uma preocupação real com o futuro. “Conseguimos manter um equilíbrio financeiro no dia a dia. A preocupação agora é com os próximos anos, já que o mercado para a construção civil já começa dar alguns sinais de desaquecimento”, comenta.

Serviços 
Apesar de ter participação crescente na economia do país, o setor de serviços não contribuiu para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre. O crescimento zero em relação ao trimestre anterior e de 1,4% sobre igual período do ano passado revela uma fraqueza generalizada, puxada pelo recuo de 1% dos serviços financeiros. Segundo os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registraram crescimento os serviços de informação (0,5%), comércio (0,4%), atividades imobiliárias e aluguel (0,4%) e outros serviços (0,3%). Administração, saúde e educação pública (0,1%) e transporte, armazenagem e correio (-0,1%) ficaram estáveis. Na avaliação de Fábio Bentes, o fraco desempenho do setor de serviços, que corresponde a pelo menos 60% do (PIB), está relacionado ao ritmo lento de investimento das indústrias.


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