O desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, conforme o mapa divulgado pelo IBGE, foi frustrante. Ninguém previa crescimento tão chocho: 0,6% sobre o segundo trimestre e 0,9% em relação a 2011. O ministro Guido Mantega esperava algo como o dobro do que veio. Ficaram todos com cara de tacho: o mercado, o governo. O engano, ou autoengano, foi democrático: ninguém ficou de fora.
Não fosse a expectativa fomentada pelo governo, reverberada pelos economistas e sugerida pela prévia do PIB anunciada três semanas atrás pelo Banco Central, todos apontando crescimento acima de 1%, e até que o resultado intertrimestres efetivo poderia ter merecido melhor tratamento. Foi o triplo do observado no trimestre anterior, 0,6% contra 0,2%. E isso depois de a economia marcar passo desde o terceiro trimestre de 2011, exibindo taxas de crescimento de 0,1%.
Mas quem dirá que o bicho é menos feio do que parece se a chamada era para o maior espetáculo da Terra e veio um show de mafuá? Puiu-se a credibilidade dos modelos de projeção da Fazenda, do BC e das consultorias, assim como a dos atletas de “levantamento” do PIB.
Sem um choque de confiança pela presidente Dilma Rousseff, que já sofre o desgaste pelas decisões açodadas que vem tomando nas áreas regulatórias, receia-se pela recuperação da taxa de investimentos – a variável-chave para acelerar o crescimento da economia em 2013 e mais que isso: evitar que os acréscimos de demanda sejam capturados pelas importações, como aconteceu com a totalidade do adicional de consumo em 2011. Temos nadado como náufrago, sem sairmos da praia.
Se o governo implanta uma baciada de incentivos para revigorar o consumo, a produção e o investimento e nem assim a economia decola, algo deve ser feito, mesmo que a la Lampedusa. Como fez a CBF, ao trocar Mano Menezes por Felipão. A alternativa é pagar para ver (e o chato é que há progressos despercebidos na economia), e correr o risco de o empresariado esperar 2014 para voltar a investir.
Comunicação desastrosa
A saída da economia da quase estagnação para um crescimento menos arrastado também se encontra no mapa trimestral do PIB, podendo se atribuir a tal movimento a mesma importância das causas que levaram à frustração. O comprometimento da renda com o pagamento de dívidas e o endividamento total das famílias em relação ao salário líquido, por exemplo, continuam elevados, segundo os dados mais recentes do BC, relativos a setembro. Mas pararam de piorar. Ninguém do governo lançou luzes sobre isso, e, se o fizesse, talvez não fosse ouvido. A demanda agregada resulta da renda potencializada pelo crédito. A economia começou a patinar quando a capacidade de consumo esgarçou e inflou a taxa de inadimplência, sobretudo de veículos comprados a prazo, levando a banca a frear as novas concessões de crédito. Elas voltaram a crescer em outubro, depois de quatro meses em queda. Mas poucos se atreveram a dizer que isso possa configurar um viés.
Meio cheio ou meio vazio?
O crescimento intertrimestre de 0,6% do PIB, e não 1% a 1,3% como a maioria esperava, tem causas tanto pelo lado da oferta como pelo da demanda, ambas levando ao mesmo resultado. Pela oferta, o vilão foi o setor de serviços, responsável por quase 60% do produto, que ficou estagnado na passagem do segundo para o terceiro trimestre. Entre os subgrupos do setor de serviços, o segmento financeiro foi o que deu para trás, recuando 1,3% na margem. Em termos simples, a Selic desinflou, o spread (ou lucro por operação) caiu (sob pressão do governo) e a inadimplência aumentou. O resultado da banca, que desconhecia retrocesso há um bom tempo, recuou por tais razões. Pelo lado da demanda, o investimento negou fogo, recuando 2% – a quinta taxa negativa intertrimestres. Já o consumo de famílias teve a 36ª variação positiva interanual, subindo agora 3,4% (e a taxa de investimento, nessa mesma base, desabou 5,6%). Está tudo conectado.
Com viés de tecnocracia
Do consumo não se espera muito até que se desafogue a dívida das famílias. Mas o BC poderia dar algum conforto à banca privada, que é o segmento que mais se retraiu, para facilitar a renegociação de dívidas e deslanchar o crédito. No caso do investimento, boa parte das ações mais firmes, como o juro fortemente subsidiado do BNDES, veio no fim de setembro e acaba em dezembro. Só um refresquinho. O governo tem de fazer mais que isso e por prazo longo, para que o investimento adquira consistência. E, especialmente, precisa de uma interlocução com o empresariado que nunca teve. Reuniões eventuais com um punhado deles no Palácio não significam nada, persistindo o intervencionismo sobre o balanço das empresas e decisões fechadas. Pode funcionar na teoria, mas é um desastre para a economia real.