Na casa de 1,5% desde meados de setembro, a previsão de fechamento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano foi abruptamente revisada pelos cerca de 100 especialistas de mercado ouvidos pelo Relatório Focus do Banco Central, ao cair para 1,27%. Já há, inclusive, quem aposte em um PIB abaixo de 1% para 2012, o que pode levar a novos ajustes do boletim nas próximas semanas. O resultado decepcionante da atividade econômica no terceiro trimestre – quando o PIB cresceu apenas 0,6% contra 1,2% esperado pela mediana do mercado – foi a principal motivação para o corte.
“Os dados que saíram mudaram todas as expectativas. Nossa previsão de 1,7% estava embasada em uma retomada no terceiro trimestre que não se concretizou”, afirma o economista da agência classificadora de riscos, Austin Rating, Felipe Queiroz. A estimava da Austin é de que o ano feche com crescimento de 0,9% em relação a 2011. A Tendências Consultoria também jogou para menos de 1% as apostas de expansão da economia nacional para este ano. “Passamos de 1,3% para 0,8%. PIB que pode ser comparado ao de países em crise como os da Europa”, avalia a economista Alessandra Ribeiro.
O corte de 0,23 ponto percentual nas previsões no Relatório Focus de ontem é o mais expressivo desde 1º de junho, dia em que os resultados do PIB do primeiro trimestre foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelando alta moderada de 0,2% frente ao trimestre anterior. Naquele relatório, a atividade econômica pulou de 2,99% para 2,72% em 2012. A indústria e os investimentos estão entre os principais responsáveis pelo resultado desanimador que vem surpreendendo desde o início do ano.
Análise da consultoria LCA reforçam que, no terceiro trimestre, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) fechou o quinto trimestre consecutivo em queda. O indicador é sinônimo de investimentos, considerado um dos principais vetores de expansão do PIB. “Responde diretamente por quase 19% do produto e possui um efeito multiplicador bastante elevado. Nossas estimativas apontam que esse efeito é de 1,4, ou seja, cada R$ 10 bilhões a mais de investimentos agregam R$ 14 bilhões ao PIB total”, avalia a LCA em nota para o mercado, que traz a nova estimativa de alta para o ano, de 1,2%, ante 1,7% na estimativa anterior.
2013 NÃO ESCAPA
O próximo ano também irá crescer menos. A alta de 4% já foi descartada e as revisões começam a se aproximar de 3,5%. No relatório Focus, a aposta é de avanço de 3,7%, enquanto a Tendências Consultoria trabalha com expansão de 3,2% e o Bradesco de 3,5% a 3,6%. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) continua apostando em crescimento de 4% para o próximo ano, ancorada pela expansão de 7% dos investimentos, 3,8% do consumo das famílias e 4,1% da própria indústria. Tudo isso depende da redução dos custos de produção e do aumento da produtividade.
Caso estes fatores não se concretizem, a indústria crescerá 2,3%, o PIB ficará nos 3% e os investimentos em 4%, segundo avaliação da CNI. A expectativa é de que a produção industrial comece a trajetória de recuperação a partir dos dados de outubro, que serão divulgados hoje pelo IBGE. A Tendências Consultoria espera avanço de 1,2% na produção industrial, e o Bradesco estima aceleração de 1,7%.