Paris – No alvoroço do mercado e em meio às indefinições sobre as concessões do sistema aeroportuário brasileiro à iniciativa privada, o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, pode ficar à margem do interesse dos grandes consórcios de investidores e operadores de aeroportos. O Planalto ainda não bateu martelo sobre a oferta do terminal, mas, antes mesmo do início do processo, ele se vê diante de um grande rival: o Internacional Maestro Tom Jobim, o Galeão, no Rio de Janeiro, a bola da vez nos bastidores das operações. Confins obedece a uma série de requisitos, mas perde no mais importante: a capacidade de crescimento do tráfego internacional.
Uma das empresas mais interessadas na concorrência é a Aéroports de Paris (ADP), responsável por 14 aeroportos na França e em outros países. O chefe adjunto de Desenvolvimento Internacional da ADP, Emmanuel Coste, explica que o interesse parte de três ângulos. A primeira estratégia da empresa é focar nos aeroportos do Brics, bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e em outros países com crescimento semelhante ao do grupo. A segunda é direcionar as ações aos terminais que tenham movimento de pelo menos 10 milhões de passageiros ao ano. A última está ligada ao potencial de crescimento e dinamização de tráfego de passageiros, de melhoria no comércio e da qualidade dos serviços, além da capacidade de facilitar a operação das companhias aéreas.
“Tanto Confins quanto Galeão têm capacidade para fazer melhor, mas temos mais apetite pelo Rio, porque é maior e com fluxo mais rápido. Confins tem pouco tráfego internacional e penso que não aumentará muito nos próximos anos”, diz. Ele explica que voos diretos de rotas internacionais dependem de decisões das companhias aéreas e de regras do mercado. “Nesse quesito, conta muito a atração da cidade do Rio de Janeiro e o desenvolvimento econômico dela, por causa, especialmente, das atividades ligadas ao petróleo e da presença do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES)”, completa.
Se de um lado Confins fica na corda bamba, no outro, causa expectativa. A Egis Airport Internacional, outra empresa francesa que, junto com a Triunfo Participações e UTC Participações, detém a concessão de Viracopos, em Campinas, aguarda com ansiedade o lote relativo ao terminal mineiro. O diretor geral da empresa na França, Cédric Barbier, diz que o grupo não está numa corrida, mas que, por meio de Viracopos, pretende mostrar que é uma verdadeira sociedade – a empresa opera 12 aeroportos pelo mundo, de nível intermediário. Ele afirma que, se as condições forem favoráveis, vão participar da concorrência. “Se exigirem uma empresa muito grande, não poderemos, o que não significa que não nos interessa”, disse.
Pela ADP, Emmanuel Coste garante que há estudos sobre as necessidades de Confins, mas prefere manter a informação em sigilo. Ele adiantou apenas que tudo o que precisa ser feito dependerá da demanda do contrato – o que inclui fazer novas obras ou simplesmente adequar o que já existe. Segundo ele, três pontos estão certos: melhoria do circuito de passageiros, da parte comercial e da infraestrutura. “A capacidade e a performance não são específicas de um aeroporto. Não é diferente o tipo de necessidade de Confins, Guarulhos, Campinas ou Galeão.”
Quanto à participação efetiva do grupo numa possível oferta de concessão, ele é claro: “Os dois aeroportos nos interessam, mas tudo dependerá do modelo proposto pelo governo brasileiro e do preço inicial do lance”. Por modelo, entenda-se a possibilidade de a estatal Infraero ficar no comando da gestão dos aeroportos. Nas concessões já efetivadas, nos terminais de Brasília, Guarulhos e Campinas (ambos em SP), os consórcios privados têm 51% de participação. A Infraero é sócia, mas com 49% de participação e poder de veto em questões estratégicas, como venda de controle acionário. Mas uma mudança está sendo estudada nos gabinetes de Brasília.
NEGATIVO Um sonoro não. Foi assim a recepção à comitiva formada pelo alto escalão da Secretaria de Aviação Civil (SAC) e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), incumbida de ir a Paris há algumas semanas para sondar se, caso a Infraero seja majoritária nos processos de concessão de aeroportos que estão porvir, a ADP permaneceria no páreo. A Aéroports de Paris respondeu negativamente, sem cerimônia.
Entre os aeroportos sob responsabilidade da empresa estão, entre outros, os dois principais da capital francesa: Chares de Gaulle e Orly. A composição da ADP é dividida em quatro partes: 52% pertencem ao governo francês, 8% ao Schiphol (aeroporto da Holanda), outros 8% são de um fundo estratégico do Estado francês e os 32% restantes são capital aberto em ações na bolsa. “Não queremos ser majoritários. Podemos nos associar a um outro grupo sem problemas, mas com a Infraero na ponta, não nos interessa”, afirmou Emmanuel Coste.
Apesar do desconforto para a comitiva brasileira, as conversas não estão encerradas. A Secretaria de Aviação Civil informou que o modelo de concessão para os próximos lotes será decidido pela presidenta Dilma Rousseff. Acrescentou que, por enquanto, não há nenhuma definicão.
*A repórter viajou a convite do governo francês
Pista vai ser reformada
Cinco empresas apresentaram propostas ontem para a licitação para as obras de reforma e ampliação da pista de pouso e decolagem e do sistema de pátio do aeroporto de Confins. A empresa vencedora apresentou proposta dentro do valor de referência estipulado pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). A empresa vai ter um dia para apresentar a documentação e três dias para estipular a composição de preço dos materiais (tijolo, madeira e concreto).
A previsão é que a homologação da licitação aconteça em janeiro de 2013. A pista possui atualmente 3 mil metros de comprimento e vai ser ampliada em 600 metros. O pátio vai ganhar mais 100 mil metros quadrados (atualmente tem 53,9 mil).
A reforma do terminal 1 de Confins, prevista para terminar em dezembro de 2013, segue na novela. O atraso levou o consórcio Marquise a dar um xeque-mate na Infraero. Segundo o consórcio, a obra está com nove meses de atraso na execução. A reportagem do Estado de Minas teve acesso a dois documentos enviados pelo consórcio à estatal. No primeiro, de 26 de outubro, a empresa alegou que a obra se encontra no 12º mês de andamento, mas tem apenas três meses do cronograma executados.
No segundo, de 14 de novembro, o consórcio informou que iria paralisar as obras por tempo indeterminado. A alegação é de que o atraso da Infraero no repasse de documentos referente ao projeto de engenharia atingiu “nível exorbitante”. Mas em 21 de novembro a Infraero informou que as obras no aeroporto de Confins não seriam paralisadas, como havia anunciado o consórcio Marquise/Normatel, responsável pela reforma e ampliação do terminal 1.
O presidente da Infraero, Gustavo do Vale, reuniu-se no aeroporto com a direção do consórcio e com o superintendente da Região Sudeste da Infraero, Mário Jorge de Oliveira. Ficou decidido que a Infraero vai continuar se encontrando com os técnicos do consórcio para dar continuidade ao planejamento.
Pacote dos portos
A presidente Dilma Rousseff anunciou ontem que lança na quinta-feira o novo plano de concessão de portos. Dilma participou da inauguração de uma ampliação do porto de Itaqui, em São Luís (MA), feita com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e afirmou que quer trazer a iniciativa privada para parcerias no setor. “Um dos desafios para o Brasil enfrentar essas décadas iniciais do século 21 está em (ter) portos eficientes. Com eles vamos diminuir os custos, melhorar os ganhos do nosso agronegócio e aumentar a nossa competitividade internacional”, afirmou a presidente em discurso. “Sempre olhando parceria entre governo federal, estadual, mas sobretudo também trazendo iniciativa privada”, acrescentou Dilma referindo-se ao pacote que será lançado em Brasília.
Uma das empresas mais interessadas na concorrência é a Aéroports de Paris (ADP), responsável por 14 aeroportos na França e em outros países. O chefe adjunto de Desenvolvimento Internacional da ADP, Emmanuel Coste, explica que o interesse parte de três ângulos. A primeira estratégia da empresa é focar nos aeroportos do Brics, bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e em outros países com crescimento semelhante ao do grupo. A segunda é direcionar as ações aos terminais que tenham movimento de pelo menos 10 milhões de passageiros ao ano. A última está ligada ao potencial de crescimento e dinamização de tráfego de passageiros, de melhoria no comércio e da qualidade dos serviços, além da capacidade de facilitar a operação das companhias aéreas.
“Tanto Confins quanto Galeão têm capacidade para fazer melhor, mas temos mais apetite pelo Rio, porque é maior e com fluxo mais rápido. Confins tem pouco tráfego internacional e penso que não aumentará muito nos próximos anos”, diz. Ele explica que voos diretos de rotas internacionais dependem de decisões das companhias aéreas e de regras do mercado. “Nesse quesito, conta muito a atração da cidade do Rio de Janeiro e o desenvolvimento econômico dela, por causa, especialmente, das atividades ligadas ao petróleo e da presença do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES)”, completa.
Se de um lado Confins fica na corda bamba, no outro, causa expectativa. A Egis Airport Internacional, outra empresa francesa que, junto com a Triunfo Participações e UTC Participações, detém a concessão de Viracopos, em Campinas, aguarda com ansiedade o lote relativo ao terminal mineiro. O diretor geral da empresa na França, Cédric Barbier, diz que o grupo não está numa corrida, mas que, por meio de Viracopos, pretende mostrar que é uma verdadeira sociedade – a empresa opera 12 aeroportos pelo mundo, de nível intermediário. Ele afirma que, se as condições forem favoráveis, vão participar da concorrência. “Se exigirem uma empresa muito grande, não poderemos, o que não significa que não nos interessa”, disse.
Pela ADP, Emmanuel Coste garante que há estudos sobre as necessidades de Confins, mas prefere manter a informação em sigilo. Ele adiantou apenas que tudo o que precisa ser feito dependerá da demanda do contrato – o que inclui fazer novas obras ou simplesmente adequar o que já existe. Segundo ele, três pontos estão certos: melhoria do circuito de passageiros, da parte comercial e da infraestrutura. “A capacidade e a performance não são específicas de um aeroporto. Não é diferente o tipo de necessidade de Confins, Guarulhos, Campinas ou Galeão.”
Quanto à participação efetiva do grupo numa possível oferta de concessão, ele é claro: “Os dois aeroportos nos interessam, mas tudo dependerá do modelo proposto pelo governo brasileiro e do preço inicial do lance”. Por modelo, entenda-se a possibilidade de a estatal Infraero ficar no comando da gestão dos aeroportos. Nas concessões já efetivadas, nos terminais de Brasília, Guarulhos e Campinas (ambos em SP), os consórcios privados têm 51% de participação. A Infraero é sócia, mas com 49% de participação e poder de veto em questões estratégicas, como venda de controle acionário. Mas uma mudança está sendo estudada nos gabinetes de Brasília.
NEGATIVO Um sonoro não. Foi assim a recepção à comitiva formada pelo alto escalão da Secretaria de Aviação Civil (SAC) e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), incumbida de ir a Paris há algumas semanas para sondar se, caso a Infraero seja majoritária nos processos de concessão de aeroportos que estão porvir, a ADP permaneceria no páreo. A Aéroports de Paris respondeu negativamente, sem cerimônia.
Entre os aeroportos sob responsabilidade da empresa estão, entre outros, os dois principais da capital francesa: Chares de Gaulle e Orly. A composição da ADP é dividida em quatro partes: 52% pertencem ao governo francês, 8% ao Schiphol (aeroporto da Holanda), outros 8% são de um fundo estratégico do Estado francês e os 32% restantes são capital aberto em ações na bolsa. “Não queremos ser majoritários. Podemos nos associar a um outro grupo sem problemas, mas com a Infraero na ponta, não nos interessa”, afirmou Emmanuel Coste.
Apesar do desconforto para a comitiva brasileira, as conversas não estão encerradas. A Secretaria de Aviação Civil informou que o modelo de concessão para os próximos lotes será decidido pela presidenta Dilma Rousseff. Acrescentou que, por enquanto, não há nenhuma definicão.
*A repórter viajou a convite do governo francês
Pista vai ser reformada
Cinco empresas apresentaram propostas ontem para a licitação para as obras de reforma e ampliação da pista de pouso e decolagem e do sistema de pátio do aeroporto de Confins. A empresa vencedora apresentou proposta dentro do valor de referência estipulado pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). A empresa vai ter um dia para apresentar a documentação e três dias para estipular a composição de preço dos materiais (tijolo, madeira e concreto).
A previsão é que a homologação da licitação aconteça em janeiro de 2013. A pista possui atualmente 3 mil metros de comprimento e vai ser ampliada em 600 metros. O pátio vai ganhar mais 100 mil metros quadrados (atualmente tem 53,9 mil).
A reforma do terminal 1 de Confins, prevista para terminar em dezembro de 2013, segue na novela. O atraso levou o consórcio Marquise a dar um xeque-mate na Infraero. Segundo o consórcio, a obra está com nove meses de atraso na execução. A reportagem do Estado de Minas teve acesso a dois documentos enviados pelo consórcio à estatal. No primeiro, de 26 de outubro, a empresa alegou que a obra se encontra no 12º mês de andamento, mas tem apenas três meses do cronograma executados.
No segundo, de 14 de novembro, o consórcio informou que iria paralisar as obras por tempo indeterminado. A alegação é de que o atraso da Infraero no repasse de documentos referente ao projeto de engenharia atingiu “nível exorbitante”. Mas em 21 de novembro a Infraero informou que as obras no aeroporto de Confins não seriam paralisadas, como havia anunciado o consórcio Marquise/Normatel, responsável pela reforma e ampliação do terminal 1.
O presidente da Infraero, Gustavo do Vale, reuniu-se no aeroporto com a direção do consórcio e com o superintendente da Região Sudeste da Infraero, Mário Jorge de Oliveira. Ficou decidido que a Infraero vai continuar se encontrando com os técnicos do consórcio para dar continuidade ao planejamento.
Pacote dos portos
A presidente Dilma Rousseff anunciou ontem que lança na quinta-feira o novo plano de concessão de portos. Dilma participou da inauguração de uma ampliação do porto de Itaqui, em São Luís (MA), feita com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e afirmou que quer trazer a iniciativa privada para parcerias no setor. “Um dos desafios para o Brasil enfrentar essas décadas iniciais do século 21 está em (ter) portos eficientes. Com eles vamos diminuir os custos, melhorar os ganhos do nosso agronegócio e aumentar a nossa competitividade internacional”, afirmou a presidente em discurso. “Sempre olhando parceria entre governo federal, estadual, mas sobretudo também trazendo iniciativa privada”, acrescentou Dilma referindo-se ao pacote que será lançado em Brasília.