A festa do Natal na Região Metropolitana de Belo Horizonte encareceu mais neste ano em relação à variação dos gastos de 2011, sob a pressão dos aumentos dos preços das carnes, embutidos, frutas e bebidas. O conjunto das despesas com a celebração cristã nem passou perto do clima de proteção divina que cerca a data, enfrentando uma inflação de 5,16% de janeiro a novembro, comparada com a registrada em dezembro do ano passado, baseada numa cesta contendo 34 itens típicos de consumo no período, conforme o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No mesmo período de 2011, confrontado com dezembro de 2010, o indicador calculado pelo analista do escritório do IBGE em Minas Gerais Antonio Braz de Oliveira e Silva havia mostrado alta de 1,27%.
Para algum consolo das famílias da capital mineira e entorno, apesar da pancada no orçamento de 2012, a inflação do Natal na Grande BH foi a terceira mais baixa entre as 11 regiões metropolitanas onde o IPCA é apurado, depois de Brasília e do Rio de Janeiro. O custo da festa, no entanto, pode ter superado a evolução encontrada nos números do IBGE, uma vez que desconsidera produtos com demanda ativa nesta época, a exemplo do peru, panetone, frutas secas, castanhas e bacalhau, itens que não entram na composição do IPCA.
A inflação natalina inclui carnes de porco, frango, filé-mignon, camarão, presunto, cerveja, eletrodomésticos e equipamentos eletrônicos, TV, som e informática, joias e bijuteria, brinquedos e material esportivo, entre outros gastos. Âncoras da carestia, o grupo dos alimentos encareceu 7,72% na Região Metropolitana de BH, ante deflação de 0,79% registrada no ano passado, seguido da remarcação de 11,15% dos preços das bebidas, que já haviam encarecido 13,10% em 2011. O resultado não surpreendeu Antonio Braz diante da elevação do custo da comida em geral neste ano.
“Em todas as regiões do país, as variações dos preços de alimentos e bebidas ficaram acima do IPCA, seja no domicílio ou fora dele”, afirma o analista do IBGE. O IPCA acumulou 5,48% de janeiro a novembro na Grande BH, impulsionado pela variação de 8,48% do grupo de alimentos e bebidas.
Houve ainda uma revisão do cálculo do indicador, para adaptação à mais recente Pesquisa de Orçamentos Familiares, a POF, de 2008/2009, que aboliu o bacalhau, por exemplo, um produto sazonal, diferença que ajuda a entender parte das alterações da inflação do Natal de 2011 para 2012. Os preços do frango inteiro aumentaram 14,04% e os da carne de porco subiram 7,36%, em média, ganhando destaque que gera reclamações.
Enquanto confere o atendimento dos clientes do açougue Feijoada de Minas, no Mercado Central de BH, Rogério Belo, dono do estabelecimento, diz que a carne de porco despontou com uma elevação de preços de 10% só nos últimos seis meses. “Não há como deixar de repassar um aumento desses”, afirma. Consumidora frequente de carneiro, a aposentada Maria Aparecida da Silva já se preparou para cortar outros ingredientes da ceia de Natal para 30 pessoas da família, como parte das frutas, na tentativa de compensar o aumento da despesa com a carne preferida. O preço subiu R$ 3 por quilo em menos de três meses, saindo de R$ 19,90 para R$ 22,90. “A solução é deixar de comprar alguns produtos”, afirma.
DE GOLE EM GOLE
Insatisfeito com as remarcações da cerveja neste ano, o garçom Marcos Rogério Lima diz que chega a pagar até R$ 7 pela garrafa da bebida em bares e restaurantes da cidade, aumento médio que correspondeu a R$ 2,25, e vai tornar mais cara a festa da família. “Vamos ter de apelar para a vaquinha”, sugere, ao lado do amigo Carlos Alberto Paulino, estudante, que não dispensa a paixão na mesa do Natal. A compra direto nas distribuidoras pode ser a saída para Carlos. Elas vendem a caixa de 24 garrafas na faixa de R$ 70, ante os R$ 85 que o cliente pagaria num bar. O aperto na tributação estadual explica a alta, de acordo com Cristiano Lamêgo, superintendente do Sindicato das Indústrias de Bebidas de Minas Gerais (Sindbebidas).
No caso da cerveja, pesa também o consumo sazonal muito forte da bebida do fim da primavera até o carnaval, que eleva os preços no varejo. Só a cachaça fugiu ao aumento médio de 2% da taxação sobre a pauta dos itens que compõem o cálculo do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) incidente nas bebidas, consideradas produto supérfluo. “Há um excesso de tributação que acaba inibindo investimentos na produção e em novas fábricas, o que poderia favorecer os preços para o consumidor”, justifica Lamêgo.
Clientes tentam driblar preços
Nos extremos do ranking da inflação do Natal, a Região Metropolitana de Porto Alegre (RS) ficou na dianteira, com uma variação de 6,41%, em contraposição à elevação modesta para os padrões de 2012 de 3,51% em Brasília. A média do índice no Brasil acumulou 5,37%. “A inflação continua sob controle, mas, de fato, desejávamos uma variação mais próxima da meta (estabelecida pelo governo federal em 4,5%)”, diz Wanderley Ramalho, coordenador de pesquisas da Fundação Ipead, vinculada à UFMG, que apura os índices IPCA e IPC-R na capital mineira.
Boa parte da elevação do IPCA no fim do ano reflete um forte componente especulativo na formação dos preços, que só o brasileiro indignado e que recusa aumentos exagerados pode evitar. “O consumidor tem de mostrar explicitamente que está vigilante. Do contrário, a componente especulativa ganha força”, diz Ramalho. Convicta desse papel, a dona de casa Lúcia Teixeira Campos não vê explicação razoável para remarcações de até 30% dos preços das carnes de boi e frango neste ano.
Para a ceia de Natal da família, que reúne pelo menos 60 pessoas, Lúcia Campos costuma preparar bacalhau e pernil, mas se necessário não pensará duas vezes em substituir itens típicos do jantar. “Uma alternativa é comprar os ingredientes mais perto da data, porque sempre aparecem as ofertas”, recomenda. Além dos alimentos e bebidas, pesaram na inflação do Natal na capital mineira os grupos de despesas com recreação e joias e bijuterias. Os preços dos eletrodomésticos, equipamentos eletrônicos, TV, som, informática e aparelhos telefônicos, por sua vez, ajudaram a conter o fôlego do dragão.
A valorização do ouro, embalada pela crise financeira mundial, foi um dos fatores de encarecimento do grupo de joias e bijuterias – de 16,39%, mais do dobro da variação de 5,95% no ano passado –, na avaliação de Raimundo Viana, presidente do Sindicato das Indústrias de Joalheria, Ourivesaria, Lapidação de Pedras Preciosas e Relojoaria de Minas Gerais (Sindijoias). Outro argumento é o de que, acuada pela invasão chinesa, a indústria de folheados migrou para a fabricação de bijuterias , segmento que necessita de muita mão de obra, e valorizou a produção com o uso de pedras como o quartzo em substituição ao material sintético, movimento que ajudou a elevar os preços no varejo. “A alta reflete um produto que tem maior valor e qualidade embutidos na produção”, garante Viana. (MV)
Para algum consolo das famílias da capital mineira e entorno, apesar da pancada no orçamento de 2012, a inflação do Natal na Grande BH foi a terceira mais baixa entre as 11 regiões metropolitanas onde o IPCA é apurado, depois de Brasília e do Rio de Janeiro. O custo da festa, no entanto, pode ter superado a evolução encontrada nos números do IBGE, uma vez que desconsidera produtos com demanda ativa nesta época, a exemplo do peru, panetone, frutas secas, castanhas e bacalhau, itens que não entram na composição do IPCA.
A inflação natalina inclui carnes de porco, frango, filé-mignon, camarão, presunto, cerveja, eletrodomésticos e equipamentos eletrônicos, TV, som e informática, joias e bijuteria, brinquedos e material esportivo, entre outros gastos. Âncoras da carestia, o grupo dos alimentos encareceu 7,72% na Região Metropolitana de BH, ante deflação de 0,79% registrada no ano passado, seguido da remarcação de 11,15% dos preços das bebidas, que já haviam encarecido 13,10% em 2011. O resultado não surpreendeu Antonio Braz diante da elevação do custo da comida em geral neste ano.
“Em todas as regiões do país, as variações dos preços de alimentos e bebidas ficaram acima do IPCA, seja no domicílio ou fora dele”, afirma o analista do IBGE. O IPCA acumulou 5,48% de janeiro a novembro na Grande BH, impulsionado pela variação de 8,48% do grupo de alimentos e bebidas.
Houve ainda uma revisão do cálculo do indicador, para adaptação à mais recente Pesquisa de Orçamentos Familiares, a POF, de 2008/2009, que aboliu o bacalhau, por exemplo, um produto sazonal, diferença que ajuda a entender parte das alterações da inflação do Natal de 2011 para 2012. Os preços do frango inteiro aumentaram 14,04% e os da carne de porco subiram 7,36%, em média, ganhando destaque que gera reclamações.
Enquanto confere o atendimento dos clientes do açougue Feijoada de Minas, no Mercado Central de BH, Rogério Belo, dono do estabelecimento, diz que a carne de porco despontou com uma elevação de preços de 10% só nos últimos seis meses. “Não há como deixar de repassar um aumento desses”, afirma. Consumidora frequente de carneiro, a aposentada Maria Aparecida da Silva já se preparou para cortar outros ingredientes da ceia de Natal para 30 pessoas da família, como parte das frutas, na tentativa de compensar o aumento da despesa com a carne preferida. O preço subiu R$ 3 por quilo em menos de três meses, saindo de R$ 19,90 para R$ 22,90. “A solução é deixar de comprar alguns produtos”, afirma.
DE GOLE EM GOLE
Insatisfeito com as remarcações da cerveja neste ano, o garçom Marcos Rogério Lima diz que chega a pagar até R$ 7 pela garrafa da bebida em bares e restaurantes da cidade, aumento médio que correspondeu a R$ 2,25, e vai tornar mais cara a festa da família. “Vamos ter de apelar para a vaquinha”, sugere, ao lado do amigo Carlos Alberto Paulino, estudante, que não dispensa a paixão na mesa do Natal. A compra direto nas distribuidoras pode ser a saída para Carlos. Elas vendem a caixa de 24 garrafas na faixa de R$ 70, ante os R$ 85 que o cliente pagaria num bar. O aperto na tributação estadual explica a alta, de acordo com Cristiano Lamêgo, superintendente do Sindicato das Indústrias de Bebidas de Minas Gerais (Sindbebidas).
No caso da cerveja, pesa também o consumo sazonal muito forte da bebida do fim da primavera até o carnaval, que eleva os preços no varejo. Só a cachaça fugiu ao aumento médio de 2% da taxação sobre a pauta dos itens que compõem o cálculo do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) incidente nas bebidas, consideradas produto supérfluo. “Há um excesso de tributação que acaba inibindo investimentos na produção e em novas fábricas, o que poderia favorecer os preços para o consumidor”, justifica Lamêgo.
Clientes tentam driblar preços
Nos extremos do ranking da inflação do Natal, a Região Metropolitana de Porto Alegre (RS) ficou na dianteira, com uma variação de 6,41%, em contraposição à elevação modesta para os padrões de 2012 de 3,51% em Brasília. A média do índice no Brasil acumulou 5,37%. “A inflação continua sob controle, mas, de fato, desejávamos uma variação mais próxima da meta (estabelecida pelo governo federal em 4,5%)”, diz Wanderley Ramalho, coordenador de pesquisas da Fundação Ipead, vinculada à UFMG, que apura os índices IPCA e IPC-R na capital mineira.
Boa parte da elevação do IPCA no fim do ano reflete um forte componente especulativo na formação dos preços, que só o brasileiro indignado e que recusa aumentos exagerados pode evitar. “O consumidor tem de mostrar explicitamente que está vigilante. Do contrário, a componente especulativa ganha força”, diz Ramalho. Convicta desse papel, a dona de casa Lúcia Teixeira Campos não vê explicação razoável para remarcações de até 30% dos preços das carnes de boi e frango neste ano.
Para a ceia de Natal da família, que reúne pelo menos 60 pessoas, Lúcia Campos costuma preparar bacalhau e pernil, mas se necessário não pensará duas vezes em substituir itens típicos do jantar. “Uma alternativa é comprar os ingredientes mais perto da data, porque sempre aparecem as ofertas”, recomenda. Além dos alimentos e bebidas, pesaram na inflação do Natal na capital mineira os grupos de despesas com recreação e joias e bijuterias. Os preços dos eletrodomésticos, equipamentos eletrônicos, TV, som, informática e aparelhos telefônicos, por sua vez, ajudaram a conter o fôlego do dragão.
A valorização do ouro, embalada pela crise financeira mundial, foi um dos fatores de encarecimento do grupo de joias e bijuterias – de 16,39%, mais do dobro da variação de 5,95% no ano passado –, na avaliação de Raimundo Viana, presidente do Sindicato das Indústrias de Joalheria, Ourivesaria, Lapidação de Pedras Preciosas e Relojoaria de Minas Gerais (Sindijoias). Outro argumento é o de que, acuada pela invasão chinesa, a indústria de folheados migrou para a fabricação de bijuterias , segmento que necessita de muita mão de obra, e valorizou a produção com o uso de pedras como o quartzo em substituição ao material sintético, movimento que ajudou a elevar os preços no varejo. “A alta reflete um produto que tem maior valor e qualidade embutidos na produção”, garante Viana. (MV)