Do ditado português que anuncia a bonança depois da tempestade, a indústria siderúrgica brasileira poderá se aproveitar pelo menos em parte do bom presságio em 2013, mas sem que se livre de dos rumos ainda incertos da crise internacional. No mercado doméstico é que o provérbio cai como uma luva, na visão de analistas do setor, amparada na expansão do consumo de aço puxada pelas obras de infraestrutura e da construção civil . Entre as principais empresas do setor, no cenário traçado para o ano novo a Usiminas sai do prejuízo e começa a colher resultados do programa de reestruturação interna conduzido na companhia pelo grupo ítalo-argentino Techint.
As margens de rentabilidade, por sua vez, vão continuar apertadas, destaca Pedro Galdi, analista-chefe da SLW Corretora. “O cenário continua desafiador, por mais que a crise na Europa tenha perdido força, mas os resultados da Usiminas e da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) tendem a melhorar”, afirma. As duas companhias, assim como o grupo siderúrgico Gerdau, de Porto Alegre, que tem pela frente uma espécie de céu de brigadeiro por ser um grande fornecedor de aços longos (para a construção), vão se beneficiar do crescimento da demanda por aço nos projetos de infraestrutura, tanto para preparar o Brasil para os eventos da Copa das Confederações e da Copa do Mundo quanto para revigorar portos e ferrovias.
A dificuldade que persiste é a restrição para recomposição de preços, avalia Rafael Weber, analista de mineração e siderurgia da Geração Futuro. Ele prevê correção máxima de preços em torno dos 3%, em média. “Há alguma melhora na expectativa da demanda de aço não só nos projetos de infraestrutura como também na indústria, que pode apresentar números melhores depois do fraco PIB (Produto Interno Bruto) de 2012 e isso movimenta a cadeia da siderurgia”, afirma. Os analistas financeiros reduziram à casa de 1% as estimativas de crescimento da economia brasileira, medido pelo PIB, neste ano.
ALAVANCAS A desoneração da folha de salários da indústria, adotada pelo governo federal, e a redução do custo da energia a partir de janeiro também contribuirão para a melhora dos resultados da siderurgia. A reação do consumo de aço será comandada pela construção, avalia Felipe Queiroz, economista da consultoria Austin Rating. “A construção leva a um aumento da demanda na chamada indústria de base, do ferro, aço, ligas, plástico e madeira. Empresas como a Usiminas sairão favorecidas, mas no mercado externo a recuperação é meio cambaleante”, diz.
A siderúrgica nascida em Ipatinga, no Vale do Aço mineiro, teve prejuízo de R$ 125 milhões no terceiro trimestre, depois de registrar perdas de R$ 87 milhões de janeiro a março. A diretoria da companhia tem destacado iniciativas tomadas para redução dos custos de produção, do endividamento e da necessidade de capital de giro; controle rígido do caixa e aumento da produtividade.
O presidente da companhia, Julián Eguren, tem dito que sabe dos desafios que a economia impõe à empresa e ao setor. “Porém, a Usiminas está fazendo a sua parte, preparando-se para ser mais competitiva, desenvolvendo a melhoria do atendimento ao cliente e fortalecendo a eficiência industrial”, afirmou, recentemente. No Brasil, a produção de aço bruto alcançou 32,1 milhões de toneladas de janeiro a novembro, amargando uma queda de 1,4% frente ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Instituto Aço Brasil (IABr). Quando considerado só o mês passado, há registro de aumento de 2,4% ante 2011.