O ano se renova, assim como as expectativas do mercado em relação ao desempenho da economia nos próximos 12 meses. Sem muito otimismo, diante da sequência de dois anos de frustração, economistas garantem que a margem para erros – muito cometidos em 2011 e 2012, por sinal – está menor. Primeiro porque a base de comparação está bastante deprimida e qualquer reação – ainda que sutil – da atividade econômica nos próximos trimestres tende a garantir resultados positivos sobre o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que cresceu 2,7% no ano passado e dificilmente vai superar a marca de 1% este ano.
Andrew Storfer, diretor de Economia e membro do Conselho de Administração da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), mantém um certo ceticismo, e entre os especialistas é o que prevê o pior desempenho do PIB no próximo ano (veja quadro). “É a segunda vez consecutiva que o governo promete uma coisa e não entrega. Em 2011 estimou crescimento entre 5% e 5,5% e este ano entre 4% e 4,5%. Quando se fala em 3,5% a 4% em 2013, todos já ficam desconfiados”, afirma.
O superintendente-executivo de Gestão de Patrimônio do HSBC, Gilberto Poso, também faz avaliações mais cautelosas quanto ao futuro, principalmente no que diz respeito aos investimentos. “As intervenções realizadas pelo governo em determinados setores da economia não são bem-vistas e atrapalham a entrada de capital estrangeiro”, explica Poso. “Existe um alto nível de incerteza por parte do empresariado diante de uma política econômica que ainda se pauta por ações de curto prazo, sem consistência e voltadas apenas para apagar incêndios”, acrescenta. Storfer ainda completa: “O governo gera insegurança ao passar por cima das boas práticas do mercado”.
O câmbio, por sua vez, deve garantir um certo fôlego aos empresários e ajudar a tirar alguns projetos do papel. “Os investimentos foram adiados este ano por conta da concorrência com o importado. Gerou-se um receio de ampliar fábricas e produção diante da possibilidade de perda de mercado para produtos de fora”, observa o sócio e diretor da consultoria LCA, Fernando Sampaio. Para o especialista, a mudança na política cambial reforça a expectativa de um ano melhor.
SELIC ESTÁVEL?
A reação da atividade econômica não deve ser suficiente para pressionar a inflação ou motivar a elevação da taxa básica de juros. Sete entre nove instituições procuradas pela reportagem apostam na manutenção da Selic em 7,25% ao longo de 2013, menor nível já registrado pela economia brasileira.
Os economistas do Itaú acreditam que ainda há espaço para cortes e aposta em Selic de 6,25% no encerramento do próximo ano, enquanto a agência classificadora de riscos Auntin Rating espera alta de 1,5 ponto percentual, motivada pelo ritmo mais acelerado de crescimento.
DRAGÃO CONTIDO? A verdade é que a maioria não acredita que a inflação exercerá pressão suficiente para balizar as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom). A perspectiva mais pessimista em relação ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) é de 5,6% resultado abaixo do teto da meta de 6,5% estipulada pelo Palácio do Planalto.
Este ano o índice que mede o custo de vida dos brasileiros acumula alta de 5,53%, cenário que dificilmente será mudado. As últimas decepções e as constantes revisões dos indicadores de 2012 e 2011, porém, mostram que o jogo não está ganho e que 2013 pode guardar grandes surpresas como as dos últimos dois anos.
Erros em cascata
Assim como 2013, o ano que se despede hoje também começou carregado de expectativas quanto à recuperação, mesmo que gradual, da economia. A cada novo indicador divulgado, porém, elas foram caindo por terra. No último Boletim Focus de 2011 – uma compilação das análises de mercado realizada pelo Banco Central com cerca de 100 economistas – as apostas eram de PIB de 3,3% em 2012, percentual amplamente revisado até o atual 1%.
O sócio e diretor da consultoria LCA, Fernando Sampaio, reconhece que havia um otimismo, mesmo que moderado, na virada do ano. “Achávamos que cresceria 3,1% e agora estamos estimando 1,2%”, afirma. Ele confere as constantes frustrações à instabilidade econômica nos países ricos. “Essa crise está demorando a se dissipar e ainda há receio de uma recaída mais forte, o que mantém o empresariado mais cauteloso”, explica.
O superintendente-executivo de Gestão de Patrimônio do HSBC, Gilberto Poso, reconhece que é sobre a Europa que devem pairar as maiores incertezas em 2013, sem contar o abismo fiscal americano. “Acredito que esse último está caminhando para uma solução”, afirma. É preciso lembrar ainda da desaceleração da China, que tem importantes efeitos sobre a economia brasileira. “O grande impacto ficou por conta da dinâmica internacional”, avalia Poso.
Com a expectativa de que o crescimento do tigre asiático supere 8% em 2013 – pouco mais que os 7,7% estimados para este ano – o diretor de Economia da Anefac, Andrew Storfer, acredita que o principal parceiro comercial do Brasil possa incentivar mais negócios daqui para frente. “Dá um certo alento. Além disso, há um cenário mais provável de que a Europa e os Estados Unidos continuem andando de lado e o mercado internacional continue como está hoje”, avalia.
Analistas não descartam influências internas nos resultados atuais. Em 2011, o governo tomou uma série de medidas para frear a economia, que vinha embalada de 2010, quando cresceu 7,5%, e que já pressionava a inflação, que acabou cravando 6,5% no fim do ano – limite tolerado pela equipe econômica. A Selic foi ajustada de 11,25% para 12,50% e somente em agosto voltou a sofrer cortes. Mesmo diante das interrogações, Storfer garante que 2013 será melhor que 2012 principalmente porque “pior do que está é impossível”. (PT)