Qual é a expectativa do valor do câmbio no Brasil para 2013? O mercado aposta numa variação entre R$ 2 e R$ 2,30, mas a resposta exata para essa pergunta só o governo pode dar. Nas entrelinhas, o recado do Banco Central é: o câmbio não vai explodir. É o que mostra o último relatório trimestral de inflação divulgado pelo Banco Central (BC). Segundo a autoridade monetária, o cenário de referência pressupõe manutenção da taxa de câmbio em R$ 2,05. Para garantir que a moeda americana permaneça nesse nível, o governo vem realizando uma série de operações de venda do dólar no mercado futuro (leilões de swap).
Para Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria, as medidas adotadas pelo governo para controlar a performance de preços da moeda norte-americana são preocupantes. Na avaliação dele, o governo alterou o regime cambial do país a partir de abril de 2012 na direção de uma política de câmbio administrado. “A variação do dólar não tem refletido os fundamentos econômicos do mercado e sim as decisões do governo”, pontua.
No fim de novembro, em uma reunião a portas fechadas entre empresários e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o dólar estava cotado a R$ 2,12. “Ele disse que
R$ 2 era o piso. Esperávamos mais, R$ 2,20, e a presidente a República confirmou. Mas no dia seguinte ela disse que o dólar tinha gordura para queimar”, lembra José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Comparando com a cotação de R$ 1,70, no fim de 2011, o cenário para a indústria melhorou. “Acredito que 2012 tenha encerrado com o câmbio médio entre R$ 1,90 a R$ 2 e neste ano a situação deve ficar, no mínimo, igual”, afirma.
A indústria nacional espera, pelo menos, que a moeda americana permaneça no patamar atual. Com isso, os preços dos produtos vendidos pelo Brasil lá fora ficam mais competitivos e o setor se fortalece, intensificando as exportações. O efeito colateral, nesse caso, é o aumento da inflação. Por outro lado, com o real valorizado, é mais fácil manter a alta de preços sob controle. O problema é que a enxurrada de importados desmonta o parque industrial brasileiro. (Colaborou Paula Takahashi)
Empresários na encruzilhada
As opiniões de empresários e agentes de mercado quanto ao câmbio variam. “O dólar deverá chegar ao fim de 2013 valendo algo em torno de R$ 2,20 e R$ 2,25. Nesse nível, as exportações da indústria mineira tendem a melhorar”, avalia Lincoln Gonçalves Fernandes, presidente do Conselho de Política Econômica da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). José Augusto de Castro afirma que “gostaria muito” de testemunhar a moeda americana chegar a R$ 2,30, mas vê poucas chances de isso acontecer. Por outro lado, como estímulo às vendas externas, o governo anunciou a prorrogação do Reintegra, programa que prevê a devolução de 3% do faturamento com exportações de manufatura para compensar a cobrança de tributos residuais pagos ao longo da cadeira produtiva, que venceria em 31 de dezembro. “Estamos numa espécie de encruzilhada”, pontua o professor de finanças Paulo Vieira.
Na consultoria de análise do risco Austing Rating, a projeção para 2012 é de R$ 2 a R$ 2,10. “As medidas anticíclicas que o governo vem adotando estão deixando o câmbio nessa faixa, embora isso não tenha sido anotado em lugar nenhum. Acreditamos que, em virtude da retomada tênue e gradual da economia global, o câmbio venha a ser fechado em R$ 2. Mas o mercado aposta num câmbio mais forte”, diz Felipe Queiroz, analista da Austin Rating. Na visão dele, com a moeda americana nesse nível, haverá estímulo maior à exportação.
“O câmbio vinha num processo contínuo de valorização e isso estimulava a importação no Brasil. A indústria nacional, por sua vez, não conseguia exportar por conta da retração da demanda no mercado internacional e dos preços pouco competitivos das mercadorias fabricadas no Brasil”, observa Queiroz. O diretor adjunto do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Thomaz Zanotto, no entanto, já admite que 2013 será um ano melhor do que 2012 para o comércio exterior. Para este ano, a entidade prevê um aumento do valor exportado para US$ 255,9 bilhões, enquanto as importações devem chegar a US$ 235,3 bilhões. (ZF)