A retomada do crescimento econômico mais forte dos Estados Unidos, da China e da Argentina, os três mais importantes parceiros comerciais do Brasil, pode dar uma boa ajuda ao governo Dilma Rousseff para evitar um novo pibinho em 2013. Na avaliação do Palácio do Planalto, com o aumento da demanda desses países por produtos brasileiros, o setor produtivo nacional tenderá a ser beneficiado com o incremento das exportações, já que a demanda extra compensará parte das compras que deveriam vir da combalida Europa. Não à toa, o governo insiste que o Produto Interno Bruto (PIB) avançará pelo menos 3% e as vendas ao exterior cravarão um novo recorde neste ano, de US$ 268 bilhões. Em 2012, diante da frágil atividade global, o PIB avançou menos de 1% e o comércio internacional do país sentiu o baque, com o saldo na balança ficando em US$ 19,4 bilhões — o menor em 10 anos.
Dos três países que mais compram mercadorias brasileiras, somente os EUA ampliaram os pedidos no ano passado. A tendência é de que, com a solução, ainda que temporária, do impasse em torno do chamado “abismo fiscal”, a principal locomotiva do planeta retome as rédeas do crescimento e, por tabela, ajude a China, cuja desaceleração econômica pôs o mundo em alerta. Depois de crescer por mais de uma década acima de 10% ao ano, o PIB chinês avançou em torno de 7,5% em 2012.
Para o economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, o mundo enfrentou, no ano passado, uma combinação perversa de recessão na Europa com o desaquecimento nos EUA e na China. Esse quadro, disse, contribuiu para que o preço das matérias-primas caísse nos mercados, o que afetou países produtores como o Brasil e a Argentina. “Acontece que, afetando os argentinos, o Brasil sofre duas vezes”, afirmou. “Quando os nossos vizinhos têm problemas, eles acabam importando menos. E, como eles são responsáveis por boa parte do consumo dos nossos produtos manufaturados, isso se torna um problema adicional”, complementou.
A grande aposta para 2013 é que a Argentina consiga colher uma safra recorde de soja, o que ajudaria aquele país a acumular mais reservas com os dólares de exportações. No ano passado, após enfrentar problemas climáticos, o governo de Cristina Kirchner passou a barrar importações da indústria brasileira sob a desculpa de conter uma fuga de moeda estrangeira do país. “Como eles conseguiram obter os US$ 11 bilhões de superávit de que necessitavam para financiar o rombo nas transações correntes em 2013 e com a previsão de safra maior e preços, teoricamente, maiores, a Argentina pode melhorar também o saldo comercial, o que é particularmente interessante para o Brasil”, avaliou o presidente da Associação de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro.
Ameaça europeia
Dos três principais parceiros comerciais do país, apenas para os Estados Unidos é previsto um crescimento econômico menor em 2013 do que o registrado em 2012. Mas a estimativa de alta de apenas 2,1% do PIB feita pelo FMI não levou em conta que o Congresso norte-americano e, principalmente, o presidente Barack Obama conseguiriam chegar a um acordo para postergar a redução de gastos sociais e a elevação de impostos, que jogariam aquele país no temido abismo fiscal e, pior, na recessão.
“Se houvesse uma incerteza com o abismo fiscal, isso certamente levaria a uma restrição nos fluxos de capitais e no comércio global, prejudicando todo o planeta”, afirmou Padovani. Para ele, com a resolução, ainda que temporária, desse problema, os EUA voltarão a sustentar o crescimento mundial, o que significa dizer que o Brasil poderá exportar mais, seja para eles, seja para outros países que influenciem, como a própria União Europeia.
José Augusto de Castro ainda teme a Zona do Euro. “Hoje, 37% de todo o comércio mundial passa pela União Europeia. É ela quem compra 20% das exportações brasileiras, 30% das chinesas e em torno de 20% das norte-americanas. Então, o meu grande medo para 2013 continua se chamando Europa”, afirmou.
Ginástica contábil para fechar contas
O governo recorreu mais uma vez à criatividade contábil para fechar as contas de 2012 e cumprir a meta de superávit primário. Além de antecipar o recebimento de dividendos de estatais, usar receitas extraordinárias e excluir gastos do PAC do resultado primário, o Tesouro Nacional partiu para cima do Fundo Soberano. Conforme portaria publicada ontem no Diário Oficial da União, o órgão sacou R$ 8,8 bilhões do Fundo Fiscal de Investimentos e Estabilização (FFIE) no último dia do ano passado. Por meio de outra portaria, o Tesouro antecipou o recebimento de R$ 2,3 bilhões em dividendos do BNDES. Além disso, o Ministério da Fazenda já anunciou que vai abater da meta fiscal R$ 25,6 bilhões em investimentos do PAC.