As empresas têm dinheiro em caixa disponível para ampliar seus investimentos. Pesquisa da Consultoria Economatica comprova que, apenas em 2012, juntas, 221 companhias brasileiras de capital aberto, de 19 setores, teriam movimentado R$ 239,492 bilhões. O valor é 128,2% superior ao de 2007 (R$ 104,947 bilhões), pouco antes da crise que se instalou nos países avançados. Porém, apesar dos clamores da presidente Dilma Rousseff, esses recursos não foram e não serão desembolsados, pelo menos até o fim de 2013. Os empresários meteram o pé no freio, sob o temor do que está se popularizando com o nome de “risco governo”, a tradução da insegurança, fruto da desconfiança, pela motivada indefinição e falta de regras do governo brasileiro na condução da política econômica.
No topo da lista dos protestos estão a falta de regulamentação do setor elétrico e as intervenções desmedidas na Petrobras, com o objetivo de controlar, sem sucesso, a inflação – que dá sinais de ter fechado o ano em 6%, bem próximo ao teto da meta –, somadas às previsões de pífio desenvolvimento econômico e ao fato de o Banco Central ter enganado o mercado, ao abandonar o sistema de câmbio flutuante e passar a tabelar as cotações do dólar. Na prática, os números falam mais alto. Na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), o Índice de Energia Elétrica (IEE) caiu 11,72%, depois de ter registrado alta de 19,7%, em 2011. Sozinha, a Eletrobras viu seus papéis ON (ações ordinárias nominativas) despencarem 61,36% e os preferenciais (PNB) baixarem 57,51%, em 2012. As ON da Petrobras caíram 12,99%.
Há também um medo generalizado de que as medidas paliativas adotadas pelo Ministério da Fazenda não surtam o efeito desejado. O setor produtivo cruzou os braços até que os incentivos às indústrias automobilística e de linha branca (redução do IPI) sigam o curso previsto. O andamento da crise internacional também será determinante. Apesar da aparente melhora na Zona do Euro e nos Estados Unidos, ainda há muitas dúvidas. Os donos do dinheiro preferem assistir de camarote ao desenrolar dos fatos. E se nem os brasileiros acreditam no governo que têm, os investidores internacionais passam longe. Segundo analistas de mercado, os investimentos estrangeiros diretos (IED) estão na América Latina. Mas não chegaram com força ao Brasil. Migraram para México, Chile, Peru e Colômbia.
Sem confiança
O governo vem aos poucos destruindo a credibilidade a duras penas conquistada, principalmente porque dá sinais falsos e desencontrados ao mercado. “A presidente Dilma faz um discurso bonito, promete elevar os investimentos, mas na hora de botar o dinheiro, cadê? Os cálculos dos supostos estímulos ao setor produtivo também são mirabolantes. A desoneração da folha de pagamento, por exemplo. Depois que os empresários fizeram as contas, viram que não havia mudança importante. Isso tem impactos negativos nas expectativas”, ironiza o economista César Bergo, da Corretora Openinvest. O receio dos empresários está fundamentado em três razões, no entender de Bergo: instabilidade política, precaução com os rumos da economia e desequilíbrio global.
“Primeiramente, não se sabe se o ministro Mantega (da Fazenda), que já foi visto como demitido até pela imprensa internacional, fica ou sai. Comenta-se que seu substituto será o Gerdau (Jorge Gerdau). Enfim, aconteça o que acontecer, o que não se pode é ficar aguardando a boa vontade do governo. Não basta a presidente Dilma fazer um bom governo, ter altos índices de popularidade e o Congresso se submeter às suas vontades. O mercado quer sinais claros. Um erro estratégico pode levar uma companhia sólida à morte”, afirma Bergo. Larissa Gatti Nappo, economista do BES Investimentos, concorda com os argumentos, especialmente no que se refere à tentativa “histórica e sem precedentes” de impor a qualificados investidores a decisão de botar dinheiro no escuro, sem regras claras nas concessões do setor elétrico.
Um otimista
“Ninguém acreditou nem sequer na possibilidade. Agora, passado o susto, os investidores só voltarão ao Brasil a partir do segundo semestre, quando já estarão definidas se as desonerações têm poder de alterar o atual cenário”, destaca Larissa. Destoante dos colegas, o economista Alex Agostini, da agência de risco Austin Rating, entende que o país vive um momento ímpar. Não dá para comparar aos períodos anteriores. Ele lembra que, em 2008, o Brasil recebia pela primeira vez, o investment grade (grau de investimento), carecia de marco regulatório em vários setores e o cenário internacional era diverso.
O intervencionismo do governo na Petrobras e a falta de regras e indenizações nas elétricas, para Agostini, não mexem na economia como um todo. “Afeta apenas alguns segmentos. Da mesma forma, a queda de braço com o setor financeiro é saudável. O governo precisava, sim, impor a redução dos juros. Ninguém está investindo forte, por conta da crise internacional”, justifica. Ele crê que a retomada da confiança virá até compulsoriamente. “A partir do segundo semestre, quando a situação melhorar lá fora, os empresários brasileiros não terão outra saída. Investirão, com certeza. Até porque sabem o risco de a concorrência ganhar terreno. Vão, no mínimo, sair junto. Espere e verá”, destaca.
R$ 240 BILHÕES FORA DO MERCADO