(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas FURNAS A 3,3M DO APAGÃO

Seca faz até ponte ressurgir em Furnas

Nível da represa se aproxima do mínimo operacional da hidrelétrica, que está parada da 0h às 6h. Municípios banhados por ela já contabilizam prejuízos superiores a R$ 100 milhões


postado em 10/01/2013 06:00 / atualizado em 10/01/2013 07:15

Ponte que estava submersa há 11 anos já serve de passagem entre as cidades de Três Pontas e Elói Mendes(foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Ponte que estava submersa há 11 anos já serve de passagem entre as cidades de Três Pontas e Elói Mendes (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)

 As oito turbinas da hidrelétrica de Furnas, a mãe dos reservatórios de energia no Brasil, que alimenta 11 usinas importantes do país até chegar a Itaipu, na fronteira do território nacional com o Paraguai, estão permanecendo desligadas da meia-noite às 6h. Durante o dia, a usina está gerando energia, mas em quantidade bem menor do que deveria. Ontem, o nível de água do reservatório, situado 220 metros acima do nível do mar, estava em 153,3 metros. Se baixar para 150 metros, a usina atingirá seu "nível do morto", ou seja, deixará de operar.

O volume de água é tão baixo que o cemitério da velha São José da Barra, primeiro municípo inundado pelo lago da represa de Furnas, reapareceu. Em Três Pontas, duas pontes que ligam o município às cidades de Paraguaçu e Elói Mendes, reapareceram e estão sendo usadas, inclusive por caminhões pesados, depois de 11 anos submersas.

A última vez que elas emergiram foi em 2001, ano do racionamento de energia no Brasil. As pontes ficaram debaixo d'água em 1962, quando o lago de Furnas foi formado. Em Guapé, as ruínas da igreja da cidade velha, que está no fundo da represa há 50 anos, também ressurgiram.

As ruínas de um antigo cemitério inundado em São José da Barra também ficaram expostas com o baixo nível da represa de Furnas(foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
As ruínas de um antigo cemitério inundado em São José da Barra também ficaram expostas com o baixo nível da represa de Furnas (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
O turismo, a pesca e a agricultura na região dos 34 municípios banhados pela represa de Furnas estão prejudicados e, segundo a Associação dos Municípios do Lago de Furnas (Alago), os prejuízos chegam a R$ 100 milhões. As perdas vão desde a queda na demanda nos postos de gasolina, que esperavam um bom movimento para este início do ano, até a redução no movimento nos supermercados, restaurantes, pousadas e hotéis, marinas. Sem contar os desfalques apurados na pecuária, na agricultura irrigada e na piscicultura. "São 3,5 mil quilômetros de área alagada. A última vez que o nível da represa caiu como agora foi em 2001”, diz o secretário-executivo da Alago e presidente do Comitê de Bacias Hidrográficas do Lago de Furnas, Fausto Costa.

Há nove meses, Aluísio Vicente da Silva investiu R$ 10 mil na montagem de um bar com quiosques às margens da represa, na nova São José da Barra. Ele esperava obter o retorno do seu investimento em seis meses, mas não foi isso o que ocorreu. Com a seca, a água, que fica a 150 metros do estabelecimento dele, virou barro e ninguém pode mais nadar. "Agora, nem sei quando vou conseguir recuperar o dinheiro que investi. Antes de a água secar, a gente recebia cerca de 70 pessoas nos fins de semana. Agora, não aparecem nem 30”, sustenta, diante de um cenário desolador.

Sem vizinhos

O padre Eduardo Pádua de Carvalho é pároco em Passos, município vizinho a São José da Barra. Ele tem um rancho às margens do lago, onde passa férias todos os anos. Ao todo, o pároco tem oito vizinhos. Neste janeiro, no entanto, a única casa aberta é a dele.`”Quem veio passar o fim de ano se assustou porque a represa ficou muito longe do rancho e não dava para puxar água. Cisternas de 22 metros secaram. Quem aparece está indo buscar água na minha casa, a única onde tem água", afirma.

Padre Eduardo aproveitou que a represa está baixa para levar amigos para visitar o cemitério da velha São José da Barra, que emergiu das águas. Um a um, os visitantes vão levando as pedras do antigo mortuário. De acordo com Aluíso Vicente, é o que vem acontecendo com a maioria das pessoas que vai conhecer o local. Só no grupo de padre Eduardo foram duas pedras grandes. “Estamos levando como lembrança”, explicou.

O prefeito de Três Pontas, Paulo Luiz Rabelo, diz que próximo às pontes que reapareceram no meio da várzea em que se transformou a represa há pousadas e vários restaurentes que estão secos. Antônio Sérgio Araújo, supervisor de operações de Furnas, explica que a usina cumpre um papel regulador da vazão de água para a alimentação da região e de outras usinas. “Estamos gastando nossa caixa-d’água. Agora era o período de encher", afirma.

Reflexo na produção

Réguas de medição expostas dão a medida da urgência de chuvas para o funcionamento da hidrelétrica (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Réguas de medição expostas dão a medida da urgência de chuvas para o funcionamento da hidrelétrica (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
O impacto de um racionamento de energia, embora por enquanto fora do cenário traçado pela Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), será forte nas fábricas mineiras num ano que o setor correrá atrás da recuperação. As perdas podem chegar, com facilidade, a 1% do PIB industrial do estado, estima Lincoln Gonçalves Fernandes, presidente do Conselho de Política Econômica e Industrial da Fiemg. A produção da indústria mineira voltou a amargar queda em novembro, de 0,7%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No acumulado do ano e nos últimos 12 meses, o estado mantém taxas positivas, de 1,3% e 0,9% respectivamente, desempenho superior ao da média nacional. A diferença frente ao Brasil está na contribuição importante da indústria automotiva no estado.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)