Ladainha, Araçuaí e Brasília – O trem para de passar em municípios do interior de Minas e deixa lembranças e imóveis abandonados, que acabam recebendo outras funções. Foi o que ocorreu em Ladainha, no Vale do Mucuri. “Foi um tempo bom para a nossa região. O fim da linha prejudicou nossa economia”, atesta o aposentado Hélio Abraão, de 76 anos, que trabalhava como auxiliar de pintura de locomotivas e vagões na cidade que fica a 560 quilômetros de Belo Horizonte, onde funcionava a oficina da Estrada de Ferro Bahia-Minas, mais conhecida por “Baiminas”, como pronunciam moradores daquelas bandas. A linha, que ligava Ponto de Areia (BA) a Araçuaí (MG), começou a ser construída em 1881, oito anos antes de a República ser instituída no país, e encerrou suas atividades, em 1966, na época da ditadura.
Para Hélio, o destino da estrada de trem reflete o que ocorreu com a própria família. “Cinco de meus seis filhos adotivos foram procurar emprego em outros lugares. Dois foram para Campinas (SP), outro para São Paulo, mais um para Angra dos Reis (RJ) e outro para Teófilo Otoni (MG).” Hélio ficou com a esposa e duas netas. Eles moram numa das casas construídas pela Bahia-Minas, na década de 1920, quando a oficina de trens foi montada. O local foi projetado para construir desde pequenos parafusos a complexas peças. O maquinário era um dos mais modernos para a época.
O fim da Bahia-Minas também ganhou o lamento do meio artístico. Dois dos integrantes do Clube da Esquina, Milton Nascimento e Fernando Brant, contaram a saga da linha férrea na música Ponta de areia: “Ponta de Areia, ponto final / da Bahia-Minas, estrada natural / que ligava Minas ao porto, ao mar / caminho de ferro mandaram arrancar”. O imóvel onde funcionou a importante oficina, desde 2000, foi modificado para abrigar o ginásio poliesportivo do município. A imponente fachada, contudo, continua preservada, sugerindo o quanto o endereço foi importante para a região. Parte do lugar atualmente é ocupado por um posto da Polícia Militar. A outra parte funciona como uma minirrodoviária, onde três empresas de ônibus levam passageiros para o interior de São Paulo, da Bahia e de Minas.
Longe de lá, em Araçuaí, onde era o fim da linha da “Baiminas”, a estação local abriga um centro cultural. O interior do imóvel foi melhorado, mas a parte externa precisa de revitalização: vidraças estão quebradas, a parede foi pichada e parte do passeio foi arrancada. “Quando criança, andei demais nesse trem. Me divertia bastante. Quem sabe, um dia, o trem não volta?”, deseja José Mário Ferreira, de 52, vendedor de aguardente de boa qualidade na região.
Transnordestina
Projetada para ser a mais importante ferrovia de integração dos estados do nordeste, a Nova Transnordestina deveria ser inaugurada este ano, mas o impasse financeiro entre a concessionária controlada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), e o governo federal praticamente paralisaram a construção nos últimos seis meses. Especialistas indicam que se prevalecer o ritmo atual, o trem só entrará nos trilhos em 2036.
O ponto da discórdia é o orçamento aprovado em 2005. Inicialmente previsto em R$ 4,5 bilhões, foi acrescido de R$ 900 milhões em 2008. Mesmo assim, a CSN, vencedora do leilão para construir e operar a ferrovia, garante que a verba não é suficiente e pressiona para novo acréscimo de R$ 2,8 bilhões. O governo resiste. Caso resolva ceder, o custo vai praticamente dobrar, chegando a R$ 8,2 bilhões.
Para Hélio, o destino da estrada de trem reflete o que ocorreu com a própria família. “Cinco de meus seis filhos adotivos foram procurar emprego em outros lugares. Dois foram para Campinas (SP), outro para São Paulo, mais um para Angra dos Reis (RJ) e outro para Teófilo Otoni (MG).” Hélio ficou com a esposa e duas netas. Eles moram numa das casas construídas pela Bahia-Minas, na década de 1920, quando a oficina de trens foi montada. O local foi projetado para construir desde pequenos parafusos a complexas peças. O maquinário era um dos mais modernos para a época.
O fim da Bahia-Minas também ganhou o lamento do meio artístico. Dois dos integrantes do Clube da Esquina, Milton Nascimento e Fernando Brant, contaram a saga da linha férrea na música Ponta de areia: “Ponta de Areia, ponto final / da Bahia-Minas, estrada natural / que ligava Minas ao porto, ao mar / caminho de ferro mandaram arrancar”. O imóvel onde funcionou a importante oficina, desde 2000, foi modificado para abrigar o ginásio poliesportivo do município. A imponente fachada, contudo, continua preservada, sugerindo o quanto o endereço foi importante para a região. Parte do lugar atualmente é ocupado por um posto da Polícia Militar. A outra parte funciona como uma minirrodoviária, onde três empresas de ônibus levam passageiros para o interior de São Paulo, da Bahia e de Minas.
Longe de lá, em Araçuaí, onde era o fim da linha da “Baiminas”, a estação local abriga um centro cultural. O interior do imóvel foi melhorado, mas a parte externa precisa de revitalização: vidraças estão quebradas, a parede foi pichada e parte do passeio foi arrancada. “Quando criança, andei demais nesse trem. Me divertia bastante. Quem sabe, um dia, o trem não volta?”, deseja José Mário Ferreira, de 52, vendedor de aguardente de boa qualidade na região.
Transnordestina
Projetada para ser a mais importante ferrovia de integração dos estados do nordeste, a Nova Transnordestina deveria ser inaugurada este ano, mas o impasse financeiro entre a concessionária controlada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), e o governo federal praticamente paralisaram a construção nos últimos seis meses. Especialistas indicam que se prevalecer o ritmo atual, o trem só entrará nos trilhos em 2036.
O ponto da discórdia é o orçamento aprovado em 2005. Inicialmente previsto em R$ 4,5 bilhões, foi acrescido de R$ 900 milhões em 2008. Mesmo assim, a CSN, vencedora do leilão para construir e operar a ferrovia, garante que a verba não é suficiente e pressiona para novo acréscimo de R$ 2,8 bilhões. O governo resiste. Caso resolva ceder, o custo vai praticamente dobrar, chegando a R$ 8,2 bilhões.