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Estado de Minas

Serviços caros e comida ditam inflação de 2013

Alta de 5,84% do IPCA de 2012 estoura a meta do governo. Variação de 6,03% na Grande BH ficou na sexta posição no país, puxada por gastos com empregado doméstico e alimentos


postado em 11/01/2013 06:00 / atualizado em 11/01/2013 08:27

Pelo terceiro ano, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, ficou acima do centro da meta estabelecida pelo governo, que é de 4,5%. A escalada dos preços se repetiu em dezembro, quando o indicador bateu em 0,79%, portanto acima do que os analistas financeiros esperavam, uma alta de 0,74%, em média. Com isso, 2012 fechou com uma inflação de 5,84%. Na Grande Belo Horizonte, o movimento dos preços foi semelhante, com um IPCA acumulado de 6,03%, posicionando a capital mineira na sexta posição entre as 11 regiões pesquisadas, resultado que superou São Paulo, Goiânia, Distrito Federal, Porto Alegre e Curitiba.


Pressionada pelos preços dos serviços e dos alimentos, que deverão continuar pesando no bolso em 2013, a inflação só ficou abaixo dos 6% devido à nova metodologia de cálculo usada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo índice, que alterou a ponderação dos gastos das famílias no ano passado. Não fosse isso, o IPCA teria chegado perto de estourar o teto da meta, alcançando 6,41% (o teto é de 6,5%).

No salão de beleza, Shirley Borja prefere manter o horário fixo e economizar em outros gastos
No salão de beleza, Shirley Borja prefere manter o horário fixo e economizar em outros gastos
A inflação veio subindo gradualmente desde agosto, quando estava em 0,41%, até dezembro, atingindo 0,79%. “A aceleração foi pressionada pelos aumentos nos alimentos, basicamente em função de problemas climáticos”, explicou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE. No ano, o grupo de alimentos e bebidas exerceu a maior pressão sobre o IPCA, com alta de 9,86%, percentual bem maior, comparado à variação de 7,18% verificada em 2011.

Comida e bebida respondem por 23,93% do orçamento das famílias. Embora esses itens não tenham registrado a maior variação dentro da inflação de 2012, tiveram o maior impacto porque pesam bastante nos gastos das famílias, representando 39% da taxa do IPCA no ano. Nos serviços, os empregados domésticos lideraram os reajustes. O aumento de 12,73% nos custos com os empregados domésticos em 2012 resultou em uma contribuição de 0,45 ponto porcentual para a alta de 5,84% no IPCA.

Na Grande BH não foi diferente. O conjunto das despesas pessoais, puxado pelos serviços, sofreu significativa influência da evolução dos gastos com excursões, de 12,39% em 2012. Com os preços mais altos, há quem já mude os planos para as próximas férias. Depois de uma excursão com as amigas para a Disney, em 2010, a estudante Isabela Baêta quer refazer o passeio em julho, mas desta vez na Europa. Desde novembro, ela tem pesquisado os preços, que aumentaram muito. Diante do orçamento alto, Isabela e as amigas optaram por comprar as passagens, reservar os hotéis e fazer o passeio sem guia turístico. “Não sei quanto vai ficar mais barato, mas sei que de excursão eu não vou pelos preços altos que temos encontrado.”

História anunciada


Para o professor da Fundação Getulio Vargas Paulo Picchetti, a inflação dos serviços é a grande vilão da história e não dá mostras de que vai ceder no curto e médio prazo. “É certo que vivemos um período atípico desde 2009 na saída da crise. Mas, apesar do crescimento pequeno do PIB (Produto Interno Bruto), estamos convivendo com um mercado de trabalho pungente, com aumentos reais de salário e a contrapartida disso é a disparada dos preços”, argumentou.

Os próximos meses tendem a ser os piores. Em algum momento do primeiro semestre de 2013 a inflação acumulada em 12 meses vai estourar o teto da meta. “Temos um ano começando com a economia ainda fraca e a inflação em alta”, disse Eduardo Velho, economista chefe da Planner Corretora. Segundo ele essa situação se traduz numa rigidez para uma ação do Banco Central no que se refere à taxa de juros.

O próprio Banco Central dá a entender que já se conformou com uma inflação mais alta durante algum tempo. Em nota divulgada logo após o anúncio do resultado do IPCA, o presidente do BC, Alexandre Tombini, fez questão de lembrar que a inflação recuou durante 2011. “Não obstante, na segunda metade de 2012, observaram-se pressões de preços decorrentes de choques desfavoráveis no segmento de commodities agrícolas, dentre outros fatores. No curto prazo, a inflação mostra resistência, mas as perspectivas indicam retomada da tendência declinante ao longo de 2013”, assegurou. O cenário é adverso para a inflação este ano, com riscos mais altos, na avaliação do economista Sílvio Campos Neto, da Consultoria Tendências. (Colaborou Carolina Mansur)

A diarista Terezinha Vieira corre atrás dos preços promocionais em sacolões e supermercados(foto: FOTOS: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)
A diarista Terezinha Vieira corre atrás dos preços promocionais em sacolões e supermercados (foto: FOTOS: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)
Pesquisa contra reajustes

A inflação oficial da Grande Belo Horizonte ficou acima da média nacional, pelo segundo ano. O índice regional de 6,03% representou 0,19% acima do IPCA no país. Diferentemente do que se poderia esperar, o alívio dos preços em BH e entorno no mês passado – que resultou na menor inflação medida entre as regiões metropolitanas analisadas, de 0,52% – não foi suficiente para contrabalançar o avanço do índice apresentado ao longo de todo o ano de 2012.

Assim como os resultados nacionais, as maiores variações de preços no ano passado na Grande BH foram registradas para itens de despesas pessoais (11,68%), alimentação e bebidas (9,30%) e vestuário (9,29%). Para Antônio Braz Oliveira e Silva, analista do IBGE em Minas Gerais, a forte elevação no Brasil de alguns produtos já era esperada, mas boa parte deles apresentou um aumento ainda mais significativo em Belo Horizonte. As despesas pessoais, por exemplo, sofreram remarcação 1,51% superior à média nacional. A liderança do grupo, porém, ficou com o cigarro (20,11%). “A forte elevação está associada, em grande parte, ao aumento do salário mínimo, com forte impacto nos serviços que têm valores baseados nele”, explica Braz. Isso inclui não só os salários dos empregados domésticos (14,86%), como também a remuneração da manicure (10,87%) e do cabeleireiro (13,07%).

Para muitos belo-horizontinos, os resultados da inflação divulgados ontem já podiam ser sentidos quando as despesas do ano foram colocadas na ponta do lápis – ou na memória do computador, como é o caso da psicopedagoga Shirley Borja, de 44 anos. Ela tem horário fixo semanal para fazer as unhas e já havia sido alertada pelo marido sobre o impacto do serviço da manicure. Para fazer as unhas dos pés e das mãos, ela paga R$ 34 num salão da Região Centro-Sul da capital. “Como não estou disposta a abrir mão da manicure, equilibro os gastos em outros setores”, diz Shirley.

Vice-campeão em variação de preços na região metropolitana, o grupo de alimentação e bebidas refletiu o impacto dos preços de cereais, leguminosas e oleaginosas (35,09%), com destaque para o arroz (38,01%) e feijão carioca (29,69%). O maior susto, porém, foi a variação de 58% da batata-inglesa na Grande BH. Para a diarista Terezinha Vieira, de 63 anos, o jeito encontrado para tentar driblar a alta é pesquisar. “Pego os folhetos dos sacolões e supermercados e vou comprando o arroz, o feijão, o tomate de forma picada, cada coisa em um lugar diferente, onde estiver mais barato.” (CL)


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