(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Estiagem em Furnas seca o turismo

Baixo nível do Lago de Furnas afeta toda a economia da região, que se movimenta em torno dos visitantes. Chuva fraca dos últimos dias acende a esperança, mas ainda é insuficiente


postado em 11/01/2013 06:00 / atualizado em 11/01/2013 12:06

Baixo nível do Lago de Furnas afeta toda a economia da região, que se movimenta em torno dos visitantes.(foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Baixo nível do Lago de Furnas afeta toda a economia da região, que se movimenta em torno dos visitantes. (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)

Ainda é cedo para comemorar, mas um dia e meio de chuva fina e a recuperação de 15 centímetros na altura da água medida ontem no Balneário Escarpas do Lago, no município de Capitólio, no Lago de Furnas, alimentam a esperança de que o reservatório da usina voltar a se recuperar ainda em janeiro. Mesmo assim, na avaliação de quem trabalha com a atividade turística na represa, vai levar cerca de dois anos para que a água atinja o seu nível máximo. Enquanto uma recuperação mínima não acontece, os prejuízos no turismo vão sendo contabilizados até mesmo nos locais mais próximos à usina e ao leito do Rio Grande, onde o volume de água é maior.

 


No restaurante Chico Pintado, em Escarpas do Lago, o movimento caiu cerca de 30% neste início de ano por conta da seca. Francisco de Assis Silva, proprietário do estabelecimento, que trabalha no balneário há 32 anos, explica que o motivo da retração na demanda é o baixo nível de água na represa. Com uma baixa de 14,7 metros no reservatório, a navegação ficou mais difícil. Há galhos de árvores que estavam submersas saindo à superfície e muitos tocos ao longo do espelho d'água, o que torna a navegação mais perigosa. "O pessoal vem para navegar. A maior parte das pessoas que têm casa por aqui possui um barco. Por isso houve uma retração no movimento", diz ele.

Ele teme, porém, que o reservatório não se recupere, mas, com a chuva que começou a cair, tem esperanças de que o lago encha nem que seja o suficente para permitir uma navegação mais tranquila. "Ainda está chovendo pouco. Para recuperar o nível normal, é preciso chover muito forte, daquelas chuvas com enchentes", acredita. Até a tarde de anteontem, de acordo com ele, o verão em Furnas não contabilizava sequer um dia chuvoso.

Atracados

A situação deixa na berlinda as marinas instaladas na região. Sem navegabilidade segura, os donos dos barcos não querem tirar suas embarcações da garagem, contratos vão sendo cancelados e a inadimplência aumenta. O proprietário de uma das marinas da região, que não quer se identificar por medo de uma debandada ainda maior dos clientes, explica que desde novembro os donos dos barcos se recusam a sair para a represa.

"Registramos queda de 30% em nosso número de clientes desde novembro, fora o crescimento da inadimplência. Está difícil manter os contratos", admite. Na opinião dele, se o nível da represa não se recuperar consideravelmente, poderá haver racionamento de energia elétrica no fim de 2013. "Em 2001, foi a última vez que registramos o lago tão seco, Com a água baixa, ninguém quer sair de barco", lamenta. As outras marinas da região vivem um drama semelhante. Só nas proximidades de Capitólio são quatro.

"Em algumas pousadas, antes dessa seca a água chegava até a porta. Agora é preciso caminhar um quilômetro até o lago", afirma Ricardo Rodrigues, diretor social do Balneário Escarpas do Lago e proprietário do restaurante Maria das Tranças, em Belo Horizonte. Ele explica que no clube campestre de Escarpas existem duas garagens,uma seca e uma molhada. Com o nível da água na normalidade, os proprietários podiam pegar seus barcos e colocá-los na água percorrendo uma distância mínima de 50 metros e máxima de 200 metros.

"Agora, temos que pegar o barco que está na garagem seca, rebocá-lo com um trator, atravessar parte do balneário com ele, passar pela rua principal, e só então se tem acesso ao lago", diz Rodrigues. De acordo com ele, o tempo que se levava para pôr uma embarcação na água passou de 10 para 35 minutos, dependendo do tamanho do barco.

Proprietário do restaurante que leva seu nome em Escarpas, Chico Pintado diz que o movimento caiu pelo menos 30% neste verão
Proprietário do restaurante que leva seu nome em Escarpas, Chico Pintado diz que o movimento caiu pelo menos 30% neste verão
Custo alto

Com isso, o custo, somente com essa movimentação, subiu cerca de 200%. "Os equipamentos precisam ficar ligados, os colaboradores trabalham por mais tempo, tivemos que tirar um trator de jardinagem e transferi-lo para as operações de içar e arrear os barcos", justifica. Além disso, o fluxo da navegação reduziu porque está mais perigoso sair de lancha.

Em Escarpas, existem 396 vagas para embarcações na garagem seca e 235 na molhada. Normalmente, no dia 31 de dezembro, um proprietário de lancha que chegasse ao clube por volta das 17h não teria onde estacionar, mas hoje pode escolher o lugar onde vai deixar seu barco. "Nossa expectativa é de que leve dois anos para que o lago volte a ficar totalmente cheio. Depois da seca que começou em 1999, o reservatório só se recuoerou em 2002", afirma Rodrigues.

Internet para salvar o negócio

Com a água longe de ser o principal atrativo em Furnas, a alternativa dos hotéis e pousadas tem sido investir em pacotes promocionais anunciados em sites de compras coletivas, além de atividades de lazer em terra e passeios curtos em partes da represa onde ainda há navegabilidade. Regiões próximas, como a Serra da Canastra, também têm sido utilizadas como destino para os turistas que escolhem os hotéis das regiões atingidas pela seca. Há quem garanta que a posição privilegiada tenha minimizado os impactos trazidos pela baixa na represa, mas a maioria dos proprietários e gerentes reclama do prejuízo.

No Balneário do Lago, que tem 56 apartamentos, entre suítes, chalés e quartos standart, inovar tem sido a saída para manter a taxa de ocupação, que neste mês recuou pelo menos 15%. Em um site de compras coletivas, o espaço oferece três diárias, que antes custavam R$ 1.131, por R$ 770. O problema, de acordo com o gerente-geral, Mozart Santos, é que, ao chegar ao local e se deparar com uma represa quase vazia, muitos hóspedes ficam frustrados. Para não perder clientela, o hotel oferece uma série de compensações, descontos e atividades dentro do próprio complexo. “Oferecemos um atendimento diferenciado, em alguns casos até um quarto melhor que o contratado, porque entendemos que o cliente precisa ser conquistado”, comenta.

Em Pimenta, outro complexo hoteleiro também tenta se recuperar das perdas com promoção. Em um site de compras coletivas, anuncia três diárias por R$ 750. Antes, o mesmo pacote valia R$ 1 mil. Segundo a gerente, que preferiu não se identificar, a alternativa vem para salvar parte do prejuízo do hotel, que registrou 100% de ocupação na mesma época do ano passado e hoje tem hoje apenas 40% dos 150 quartos ocupados. “Muitos chegam aqui e desistem. Vão embora. E nós temos de devolver o dinheiro”, afirma. Os prejuízos, no entanto, devem seguir até o carnaval, já que, na opinião da gerente, a represa não deverá se recuperar até lá. “Em 15 de janeiro do ano passado, tínhamos fechado todas as reservas de carnaval. Hoje ainda tenho muitas vagas e a represa está bem abaixo do normal”, conta a gerente. Segundo ela, muitos outros hotéis vivem situação semelhante.

Privilégio da água

No Hotel Escarpas do Lago, favorecido pela proximidade da nascente do Rio Grande, que alimenta o lago da Usina de Furnas, a taxa de ocupação está em 100%. Isso porque no local ainda é possível fazer os passeios de barco. “Não tivemos queda e tudo está funcionando como nos anos anteriores”, garante o gerente Erick Alves Oliveira. Mesmo assim, o estabelecimento aderiu à venda de pacotes via internet, mas alega tê-lo feito para democratizar o passeio. “Enquanto nós não dividimos o pacote, nos sites de compra coletiva eles dividem em até 10 vezes sem juros. Hoje, muitos viajam porque há flexibilidade no pagamento”, comenta o gerente.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)