O primeiro-ministro britânico, David Cameron, tentou tranquilizar a Europa nesta quinta-feira, em Davos, após o anúncio, na véspera, de que deixará que os britânicos decidam em um referendo se querem permanecer na União Europeia (UE) ou sair do bloco.
"A Grã-Bretanha não quer dar as costas à Europa, pelo contrário", disse em um esperado discurso à nata da política, das finanças e das empresas que participam desta 43ª edição do Fórum Econômico Mundial na estação alpina suíça.
O que quer fazer é contribuir para que a "Europa seja mais competitiva, aberta e flexível e garantir um lugar para a Grã-Bretanha nela", explicou. "Devemos negociar um novo modelo para a Europa que funcione para a Grã-Bretanha e conseguir o apoio para isso", disse, antes de acrescentar que não é apenas o correto para o país, mas também é o necessário para a Europa.
O primeiro-ministro conservador pretende que o referendo, uma concessão à ala mais eurocética de seu partido, seja realizado na primeira metade de sua legislatura (2015-2020), ou seja, até o fim de 2017.
As reações a este anúncio, no qual muitos veem o perigo de que seja criada uma Europa "à la carte", não demoraram. Os líderes de Irlanda, Itália e Holanda também apelaram em Davos para a Grã-Bretanha permanecer na União Europeia.
O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, lembrou em Davos que, se sair do bloco de 27 países que integram a UE, a Grã-Bretanha será uma "ilha no meio do oceano Atlântico, em algum lugar entre Estados Unidos e Europa".
"Não estaria conectada a nenhum dos dois, razão pela qual penso que é vital para nós que permaneça" na UE, disse Rutte. O primeiro-ministro irlandês, Enda Kenny, também lembrou que a UE será mais forte se Londres formar parte dela.
"Independentemente do que ocorrer, gostaria que a Grã-Bretanha continue sendo fundamental para a União Europeia. É muito importante para todos", disse. Kenny também afirmou que "cinco anos são uma eternidade" em política e convocou a Europa a utilizar a relativa calma que reina nos mercados financeiros para impulsionar as reformas necessárias e fomentar a economia.
O primeiro-ministro italiano, Mario Monti, espera que os britânicos decidam permanecer na Europa porque sair significa perder muitas vantagens econômicas. "Quero acreditar que, quando o momento chegar, os britânicos dirão 'sim' porque (...), se disserem não, terão que sair do mercado único", disse Monti.
Em Davos, empresários e investidores se preocupam de que este foco de incerteza se some a um ambiente já muito volátil. "Só nos cabe esperar, mas a incerteza e o que falta (até o referendo) incidirão no processo de decisão" de empresários e investidores, advertiu um dirigente de um importante fundo de investimentos britânico, que pediu o anonimato.
Cameron criticou a pesada maquinaria europeia e o excesso de regulação para empresas que não fazem mais do que encarecer seus custos. A Europa, disse, está perdendo competitividade e está deixando de ser um lugar atrativo para os investimentos, razão pela qual é " hora de convertê-la em um motor de crescimento", e não em uma fonte "de queixas de empresários e cidadãos".
Na agenda deste dia está prevista a intervenção da chanceler alemã, Angela Merkel, que se mostrou mais conciliadora com os planos do governo conservador britânico. "Naturalmente, estamos dispostos (...) a discutir os desejos britânicos", disse a chanceler na quarta-feira.