A Petrobras pressionou e o governo federal liberou o reajuste dos combustíveis a partir de hoje. O preço da gasolina que sai das refinarias sobe 6,6% e o do óleo diesel, 5,4%. O aumento nas bombas dos postos deverá ser menor, afirmou o presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom), Alisio Vaz. É que a gasolina vendida no varejo é uma mistura que leva 20% de etanol. Já o óleo tem 5% de biodiesel. O repasse imediato para os valores cobrados dos consumidores também dependerá do estoque de cada posto.
Economistas estimam que o impacto pode chegar a 4% nos preços nas bombas e a algo em torno de 0,3 ponto percentual na taxa de inflação anual. Os índices anunciados já eram aguardados pelo mercado, que estimava alta de 7%. O governo espera amenizar o peso dos aumentos dos combustíveis nos índices de custo de vida com a redução nas contas de luz das residências, da indústria e do comércio, e com a depreciação do dólar, que barateia as importações, inibindo aumentos de produtos nacionais.
Em Belo Horizonte, se quiser pagar mais barato pelo litro da gasolina e do diesel, o consumidor vai ter de correr logo no início da manhã para os postos. À tarde os postos devem começar a reajustar os preços, avalia Paulo Miranda Soares, presidente do Sindicato dos Revendedores de Combustível do Estado de Minas Gerais (Minaspetro). “O setor trabalha tradicionalmente com margens muito apertadas. Quando acontece um reajuste como esse, nenhum elo da cadeia tem condições de absorver”, afirma Soares.
Ele explica que os postos de combustível costumam trabalhar com estoque de dois dias. “O estoque é o capital de giro. Se eu vender pelo preço antigo, vou ter que comprar pelo valor maior”, diz. O reajuste, na sua avaliação, vai ocorrer nas bombas na mesma proporção autorizada pelo governo: em 6,6% para a gasolina e de 5,4% para o diesel. De qualquer forma, ele explica que os preços praticados pelo mercado são livres. “Temos 4,8 mil postos no estado. O reajuste vai depender de cada um”, diz.
“O valor cobrado pela refinaria é apenas um dos componentes dos preços. A gasolina, por exemplo, tem 20% de etanol na sua composição, que não teve aumento. Há ainda a margem do posto e da distribuidora”, lembra Alisio Vaz. No caso do diesel, lembra, há o valor do biodiesel, que é misturado na proporção de 5%. “Há algumas parcelas que não sofrem reajustes. O impacto ao consumidor deve ser menor do que o da Petrobras”, enfatiza Vaz.
Em Belo Horizonte, o preço médio do litro da gasolina na semana do dia 20 a 26 de janeiro foi de R$ 2,716 nos 95 postos pesquisados pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O preço médio do diesel foi de R$ 2,197 nos 54 postos levantados. Em todo o estado, o preço médio encontrado no período para a gasolina foi de R$ 2,818 em 981 postos pesquisados. E o valor do diesel foi de R$ 2,170 em 822 postos pesquisados.
Anunciado Desde junho do ano passado, a Petrobras reivindica reajuste de pelo menos 15% dos produtos para manter seu plano de investimento, que vem sendo prejudicado pela queda na geração de caixa da empresa. Porém, com a economia mostrando naquele momento dificuldade de pegar no tranco, enquanto a inflação se apresentava bem animada, o governo permitiu, naquele mês, elevação de apenas 7,83% dos valores cobrados pelas refinarias na gasolina e de 3,94% no diesel. Esse último foi aumentado ainda em julho do ano passado em mais 6%.
A estatal vem acumulando prejuízo mensal em torno de R$ 1 bilhão por conta da diferença entre os preços que paga pela importação da gasolina e do diesel e aqueles pelos quais vende os produtos no mercado interno. Em nota, a Petrobras informou que o reajuste “foi definido levando em consideração a política de preços da companhia, que busca alinhar o preço dos derivados aos valores praticados no mercado internacional em uma perspectiva de médio e longo prazo”.
Menos pressão
Apesar das pressões, o governo só liberou os reajustes após confirmar a redução das contas de energia elétrica a partir de fevereiro, para amenizar o impacto na inflação, que mantém o ritmo de alta neste início de ano, e atuar fortemente sobre o câmbio, para depreciar o dólar. Anteontem, a mesa de operações do Banco Central despejou US$ 1,8 bilhão no mercado para baixar a cotação da moeda, que ontem caiu para R$ 1,986. O Palácio do Planalto esperou o retorno das férias do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que ocorreu anteontem, para que ele desse a autorização à estatal para anunciar a alta dos combustíveis.