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Estado de Minas

Expansão do ensino superior em regiões industrializadas impulsiona comércio

Setor de serviços provoca alta do PIB e transforma cidades mineradoras em universitárias


postado em 10/02/2013 00:12 / atualizado em 10/02/2013 07:46

Nem minério, nem aço ou café. A despeito dos setores mais tradicionais da economia de Minas Gerais, a expansão do ensino superior nas regiões industrializadas do estado é que irradia uma nova era de crescimento do comércio e das empresas prestadoras de serviços, gerando renda para o consumo e ambiente para a atração de investimentos da própria indústria. Em uma revolução nada silenciosa, Minas passa por um forte ciclo de avanço das instituições públicas e privadas de educação superior. No interior, o número dessas instituições mais que dobrou em 10 anos, alcançando a marca de 302 escolas em 2011. Eram 132 instituições em 2001, segundo o Censo da Educação Superior, publicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A chegada ou ampliação das escolas transformou em cidades universitárias municípios essencialmente mineradores e exportadoras como Paracatu, no Noroeste, Ouro Preto, Mariana, Ouro Branco, Conselheiro Lafaiete e Congonhas, na Região Central, todas elas conhecidas pela riqueza do subsolo e a produção industrial.

A educação induz à diversificação da fonte de sustentação da economia local com o surgimento de uma cadeia de empreendimentos. Não é diferente em Betim, na Grande BH, segundo maior município de Minas em participação na economia estadual, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), ou em Montes Claros, polo do Norte mineiro. O curso superior torna possível o sonho de jovens, que para ter o diploma precisavam primeiro bancar as despesas de sair de casa.

Os investimentos em educação têm um grande poder multiplicador sobre a renda e o consumo e essa influência tende a se fortalecer num período de expansão do PIB como se espera para este ano, segundo o pesquisador Jorge Abrahão, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A educação recebe o equivalente a 5% do PIB e responde com um impacto substancial na economia. A cada R$ 1 gasto pelo governo em educação pública, a influência é de R$ 1,67 em aumento de renda das famílias e de R$ 1,85 na expansão do PIB, conforme o levantamento mais recente sobre o tema, o estudo Gastos com a política social: alavanca para o crescimento com distribuição de renda, coordenado por Abrahão em 2011.

Os efeitos da educação, e principalmente do ensino superior que se interiorizou nos últimos cinco anos, são múltiplos. Vão da injeção de salários de professores e servidores no comércio local à massa de consumo dos alunos em diversos atividades, como supermercados, aluguel, compra e venda de imóveis, à aquisição de materiais, equipamentos e a demanda de serviços de limpeza e segurança nas escolas. “De todos os investimentos sociais aquele feito na educação é o que mais faz o país crescer, agregando um consumo bastante razoável que dá dinamismo econômico aos municípios”, afirma Abrahão.

NOVAS ESTRELAS
Boa parte da expansão do ensino superior, lembra o pesquisador do Ipea, reflete o impulso dado pelo Programas Reuni (de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) e pela reformulação do Fies (de Financiamento Estudantil). Contribuiu, ainda, a ascensão recente das classes de menor poder aquisitivo. A história da família de Maria Diniz Couto, de 72 anos, dona de uma sabedoria que não veio da universidade, é exemplo dessa expansão do ensino superior. A família, segunda ela, prosperou com a chegada da Pontifícia Universidade Católica (PUC) a Betim.

Os quatro filhos de Maria Diniz trabalham em negócios familiares, que surgiram a partir da demanda da comunidade universitária: um prédio de quitinetes, restaurante, sacolão e lanchonete. “Para quem tem coragem, não falta trabalho e nem amizades de boa qualidade ”, afirma Maria. O filho mais velho, Marcelo, emprega os quatro filhos nos empreendimentos da família. Davi, o mais jovem, aos 19 anos, foi o primeiro a ingressar na faculdade e em poucos anos deve trocar o sacolão pela função de engenheiro de produção.

Em Paracatu, produtora de ouro industrial, pedagogia e história eram as opções de formação superior em 1987. Agora, são 40 cursos na cidade. O município que tinha como estrelas da economia o agronegócio e mineração, viu o comércio e o setor de serviços ganharem força impulsionados pelo consumo de cerca de 6 mil estudantes, dos quais 35% são de outras cidades. “De 2006 para cá, Paracatu cresceu aproximadamente 40%. Hoje é uma cidade universitária”, diz o secretário de Administração, Benedito Batista. “Em 1997, a arrecadação era de R$ 24 milhões, hoje são R$ 208 milhões.” Na esteira da expansão da educação superior, a cidade atraiu redes de fast food, de supermercados, expandiu os serviços de hotelaria e turismo. O setor imobiliário explodiu. “Resultado do rápido crescimento, temos valores de aluguéis que se equiparam a Belo Horizonte, como R$ 4 mil por uma casa de três quartos”, observou Batista.

DEVER DE CASA

Pedro Henrique Rodrigues completou 19 anos e também a primeira semana de aulas no curso de engenharia elétrica. Ele passou no vestibular para estudar no período da noite, no Centro de Educação Superior de Conselheiro Lafaiete, na Região Central do estado. Chegar ao curso superior não é tarefa fácil quando é preciso aliar a rotina de conhecimento e trabalho. Pedro já é um eletricista técnico e trabalha na cidade de Jeceaba, município vizinho ao seu, na empresa Vallourec & Sumitomo Tubos do Brasil (VSB). Feliz com a perspectiva de se tornar um engenheiro, ele está confiante de que o curso vai fazer diferença em sua vida: “O curso superior melhora a condição social, cultura e financeira”. Até chegar à formatura, Pedro vai seguir logo depois da aula para o trabalho, onde assume o turno da madrugada. O emprego lhe garante custear a mensalidade de R$ 712,41. Para ele, ter a faculdade perto de casa foi decisivo na sua escolha. “Estudando na minha cidade, consigo conciliar a faculdade, o trabalho e o convívio com a família. O ensino superior no interior permite o acesso à faculdade. Seria muito difícil ir até outro cidade para estudar.”


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