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Estado de Minas

Mão de obra trava setor de tecnologia

Apesar de investirem US$ 134 bi este ano, empresas de TI devem enfrentar falta de 140 mil profissionais em 2013


postado em 13/02/2013 06:00 / atualizado em 13/02/2013 07:27

Felipe Horta contratou 12 pessoas,mas afirma que ainda existem vagas abertas difíceis de serem preenchidas(foto: (Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press))
Felipe Horta contratou 12 pessoas,mas afirma que ainda existem vagas abertas difíceis de serem preenchidas (foto: (Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press))

Abrigadas no segundo maior mercado de tecnologia da informação (TI) entre os países emergentes, as empresas do setor no Brasil vão investir cerca de US$ 134 bilhões (R$ 264 bilhões) este ano, aumento de 6% em relação a 2012, de acordo com dados da consultoria Gartner. Ainda que as notícias sejam boas, a falta de mão de obra qualificada no mercado continua sendo o maior gargalo do segmento. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), o déficit atual é de cerca de 90 mil profissionais e pode chegar a 140 mil em 2013.

Ruim para os empregadores, mas excelente para os profissionais de alto nível do setor, que são contratados a peso de ouro e disputados pelo mercado até com uma certa selvageria. O desespero dos contratantes se justifica pela rentabilidade que esses colaboradores representam. De acordo com o censo 2012 recém-divulgado pela Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro Nacional), 30% das cerca de 300 empresas ouvidas faturam acima de R$ 100 mil ao ano por profissional.

Roberto Mayer, vice-presidente de Relações Públicas da Assespro, explica que o setor é representado principalmente por pequenas e médias empresas, que driblam a questão da falta de profissionais no mercado ao fazer o melhor uso da produtividade e capacidade de seus colaboradores. “Se não tivessem restrição de mão de obra, algumas empresas conseguiriam aumentar em 15% as suas equipes com contratações imediatas”, afirma. São profissionais como Felipe Horta, que construiu sua carreira de forma a se tornar, aos 36 anos, imprescindível para o mercado em que atua. Com 15 anos, ele era programador e, por sua experiência em várias empresas de software, foi convidado pelo fundador da Platão Inovação e Sistemas para ser CEO da empresa, em um ano de crescimento robusto, quando clientes da área de construção civil foram incluídos em um portfólio antes focado em empresas de educação.

Felipe explica que, em 2012, a empresa passou a atender 14 novos clientes somente na área de construção civil. “Foi preciso fazer 12 contratações para dar conta desse aumento.” A equipe, formada por colaboradores bem jovens, faz parte de uma geração inserida em um mercado inflacionado. Um programador júnior, com idade entre 20 e 22 anos, ganha salário inicial médio de R$ 4,5 mil. Ainda assim, existem vagas em aberto difíceis de serem preenchidas, especialmente no setor de vendas. Capacitar seria uma solução, mas Felipe afirma que o momento requer encontrar profissionais já prontos.

INDICAÇÕES Na empresa TWT Info, a situação é parecida. São cinco vagas em aberto há dois meses para as funções de implantador, programador e técnico em implantação. De acordo com Marco Flávio Gontijo Neves, CEO da empresa, o processo de seleção de funcionários foi aprimorado e um programa de indicação interna com bonificação foi implantado para tentar solucionar o problema. “Em Minas Gerais, a situação está quase desesperadora. Quando se acha um profissional bom, ele é muito caro. Se optamos por treinar, ao fim da qualificação, esse colaborador é disputado pelo mercado. O gargalo está na falta de prática. Em TI, é preciso ter quilometragem.”

Há oito meses, a empresa conta com um holandês em sua equipe, o que sinalizou a possibilidade de importar mão de obra. “Pode ser que a gente participe de um programa de intercâmbio de estagiários entre alguns países, mas há barreiras como a língua, a burocracia e o choque de cultura. Porém, procurar em BH está impossível. Os melhores alunos da UFMG, por exemplo, são todos contratados pela Google. Empresas pequenas não têm como competir.”

Moema Belo, diretora executiva do Grupo Cotemig, focado no ensino de tecnologia, confirma que está difícil encontrar até mesmo estagiários. “Muitos alunos do curso técnico em informática acabam fazendo curso superior em outras áreas. Já os cursos de graduação em TI são pesados e muitos estudantes não ficam até o fim para se formar.” De acordo com Moema, a qualificação no setor ainda é relativamente recente. Como não é uma profissão regulamentada, muitos profissionais são autodidatas e começaram a procurar uma capacitação formal porque as empresas têm demandado isso. “Não é uma exigência legal, mas é o que o mercado espera.”

Aos 25 anos, Tomás Duarte é um 'veterano' na área de TI:
Aos 25 anos, Tomás Duarte é um 'veterano' na área de TI: "O estímulo à inovação e ao empreendedorismo é a grande saída para se ter mentes brilhantes" (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Mercado mobile é a vedete

O aumento dos investimentos na área de tecnologia da informação tem um protagonista cada vez mais conhecido: a tecnologia móvel. O mercado mobile, que inclui o desenvolvimento de aplicativos para smartphones e tablets, deve dominar o segmento até 2015 e se tornar responsável por mais de 50% do faturamento mundial da área. Tomás Duarte, de 25 anos, empreendedor na Tracksale – ferramenta on-line de pós-venda para empresas, que acompanha o grau de satisfação e lealdade de seus clientes via internet – e cofundador da Associação Brasileira de Startups (ABS), sabe bem disso.

Nascido em meio a computadores, como ele próprio diz, autodidata e empreendedor desde os 14 anos – abriu a primeira empresa aos 20 anos –, Tomás aposta em uma abordagem multidisciplinar na Tracksale, com uma equipe pequena e diversificada. “Acredito que uma equipe menor gera maior impacto. Somos seis pessoas envolvidas, com formações diferentes, de engenharia da computação a publicidade”, explica ele, que está no último semestre da faculdade de direito. A opção pelo curso foi para ter uma base empresarial e jurídica no comando do seu empreendimento.

Para Tomás, ainda falta às universidades brasileiras envolver a pauta acadêmica em assuntos ligados a inovação tecnológica e reconhecer demandas atuais do mercado tecnológico. “Muitos alunos da área de computação se formam sem saber lidar com novas tecnologias e linguagens. O estímulo à inovação e ao empreendedorismo é a grande saída para se ter mentes brilhantes provenientes das instituições acadêmicas tecnológicas no Brasil.”

São essas mentes, inclusive, que podem estender o crescimento esperado do TI a outros setores da economia no país. Eros Viggiano, CEO da empresa Arkhi, explica que a empresa vai focar suas atividades este ano em soluções de aumento de desempenho para empresas de todos os segmentos, incluindo otimização de produtividade, diminuição de gastos e melhoria de processos. Para isso, uma mudança na carteira de clientes está à vista. “Trabalhamos com empresas de grande porte, mas queremos ampliar a nossa atuação para empresas de médio porte, que têm boas expectativas e projetos voltados para oportunidades, como os eventos esportivos que o país vai receber.”

COMPETIÇÃO Vai ser um trabalho árduo, que exige uma equipe engajada. A valorização dos colaboradores para reter os talentos é importante para Eros, mas ele afirma que se interessa mais por profissionais preocupados em fazer carreira do que com o salário. “Oferecemos remuneração acima da média e benefícios, mas o foco principal é no crescimento desse profissional”, afirma. Segundo o executivo, algumas empresas tornam a competição difícil com contratação por meio de pessoa jurídica, que isenta ou diminui os encargos trabalhistas. “Outras optam pelo ‘CLT flex’, em que as pessoas são contratadas com um salário menor e recebem mais dinheiro ou outros benefícios por fora, como pagamento do aluguel ou até financiamento do carro do funcionário”, acrescenta o CEO. (CL)


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