“Dizemos que no país tudo começa depois do carnaval. E se o carnaval veio mais cedo, o Brasil vai começar mais cedo. O número menor de feriados significa mais dias produtivos e pode trazer mais vendas”, afirma Osmani Teixeira de Abreu, presidente do Conselho de Relações do Trabalho da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). Nos anos com muitos feriados, diz, a indústria é prejudicada, pois o empregador paga normalmente o salário para um dia sem produção.
No ano passado, o grande número de feriados nacionais e estaduais levou a indústria a ter prejuízo estimado em R$ 44,9 bilhões no país, segundo estudo realizado pela Federação das Indústrias do Estado de Rio de Janeiro (Firjan). Em Minas Gerais, o montante perdido chegou a R$ 3,6 bilhões, enquanto em São Paulo as perdas lideraram com prejuízo de R$ 14,6 bilhões, no Rio de Janeiro R$ 5,04 bilhões e no Rio Grande do Sul o valor é de R$ 2,9 bilhões. Com menos feriados prolongados neste ano, a perspectiva é de que essas perdas sejam reduzidas em quase 30%, considerando apenas os feriados nacionais, ou algo perto de R$ 9 bilhões.
A cada feriado no meio da semana, o comércio de Belo Horizonte deixa de ganhar R$ 60,9 milhões, informa Ana Paula Bastos, economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH). “Os feriados na quarta e quinta-feira são os piores, pois as pessoas emendam a semana. Quando cai em um sábado, o impacto é menor”, observa Ana Paula. Como Belo Horizonte é uma cidade em que as pessoas tendem a viajar nos feriados, o número maior de dias úteis traz impacto positivo para a capital, avalia Gabriel de Andrade Ivo, economista da Fecomércio MG. “O comércio vem dinamizando a atividade econômica no Brasil e em Minas Gerais”, lembra.
O professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Daniel Plá, avalia que o carnaval é um grande marco na economia brasileira e a comemoração mais cedo vai tornar o ano mais produtivo e colaborar com os números. Ele lembra que para o comércio, indústria e repartições pública os melhores anos são os eleitorais e com o carnaval no início do mês. Segundo ele, o comércio de rua deve ser o grande beneficiado com o número menor de feriados. “E o estado de Minas Gerais ganha ainda mais, pois muita gente costuma viajar nos feriados”, observa.
Ritmo das máquinas O carnaval antecipado ajuda na produção do ano, mas o aumento de produtividade depende ainda da carga de trabalho mais elevada, analisa Marcelo Veneroso, sócio da Neuman & Esser, fabricante de máquinas (compressores de gases) e diretor regional da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). “A capacidade de carga da indústria ainda está baixa, em torno de 30%”, afirma. O número maior de dias úteis ajuda no desempenho da indústria, diz, mas o resultado do ano ainda é uma incógnita. “Terminamos o ano de 2012 com uma pequena baixa no desempenho. Agora esperamos mesmo que o ano comece depois do carnaval”, diz.
“Tudo que não atrapalha ajuda”, afirma Petrônio Zica, presidente do Sindicato da Indústria Mecânica de Minas Gerais e da Delp Engenharia. O Brasil, afirma, fica menos competitivo com todos os feriados ao longo do ano. “O feriado quebra o ritmo de trabalho”, diz. “O feriado é menos um dia de trabalho no ano e mais um custo para a indústria. Quando há menos recessos, há mais tempo para produzir os pedidos”, afirma Michel Aburachid, presidente do Sindicato do Vestuário de Minas Gerais (Sindivest-MG).
Entre ganhos e perdas
O setor supermercadista também agradece o número maior de dias úteis no ano. “Temos mais aspectos positivos do que negativos. Quando o feriado cai na terça, quinta ou sexta as pessoas emendam e o comércio da capital no fim de semana vende mal. O resultado é um estrago na resultado do mês”, afirma Adilson Rodrigues, superintendente da Associação Mineira de Supermercados (Amis).
Ele resssalta, no entanto, que para os supermercados de regiões turísticas, como Araxá, Ouro Preto, Tiradentes, Poços de Caldas e Caxambú, há perdas de vendas com o número menor de feriados. Ele observa ainda que os feriados ao longo do ano funcionam como “recarga de bateria” para os trabalhadores. “Se a pessoa tiver só férias, dois ou três meses depois já está esgotada. A empresa vai ter que ser criativa para equilibrar isso”, diz.
Turismo E, se a indústria ganha com poucos feriados prolongados, o turismo perde e corre para tirar o atraso. “O feriado da semana santa e de Corpus Christi vão ser muito concorridos. Alguns destinos já estão lotados para a Páscoa”, afirma Paulo Testa, diretor da Interpool Turismo. Na Acta Turismo as vendas de pacotes para o carnaval cresceram 10% para os destinos nacionais e 20% para os internacionais. “Como vamos ter poucos feriados, muita gente pode ter aproveitado para viajar mais”, diz José Carlos Vieira, diretor da Acta Turismo. Ele afirma que o número menor de feriados estimula as pessoas a buscarem férias em baixa temporada, quando os preços dos pacotes costumam ser até 50% mais baratos.
Mesmo com um número menor de feriados, a perspectiva do Ministério do Turismo é de que o setor registre avanço em função de eventos internacionais, como a Copa das Confederações da Fifa e a Jornada Mundial da Juventude. Belo Horizonte vai receber turistas de outros países, tanto para os jogos no Mineirão quanto para a semana de preparação para a jornada dos jovens católicos. (GC)
Longa espera pela reação
Brasília – Decepcionado com o crescimento em 2012, o governo retoma as atividades nesta quinta-feira pós-carnaval ainda assombrado pelo ano passado. Temerosos de que os problemas se repitam, mas com poucas opções, integrantes da equipe econômica têm insistido no discurso de que só o que falta para a economia é tempo. “As medidas estão demorando mais do que o esperado para surtir efeito, mas elas vão aparecer”, garante um técnico do governo. A fala, porém, é a mesma de meados do ano passado, quando se esperava uma reação espetacular da economia e ela não veio. Para representantes do setor produtivo e participantes do mercado, apesar do discurso governamental, é preciso urgência na retomada, sobretudo em relação aos investimentos.
“O Brasil cresce a duas velocidades. Os setores ligados à renda vêm tendo um desempenho bastante satisfatório, consequência direta do mercado de trabalho bastante apertado, enquanto os investimentos não decolam”, disse Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil. Diante dessa perspectiva, as expectativas do mercado continuam a piorar. Dados do boletim semanal Focus, divulgados ontem pelo Banco Central, trazem mais uma revisão na projeção para o PIB. O indicador que começou o ano passado com uma previsão de 4,25% para 2013, chegou nesta semana a 3,09%.
Enquanto o ano não começa oficialmente para o Congresso e os parlamentares atrasam ainda mais a aprovação do Orçamento, os investimentos ficam travados no país e o PIB não anda. Gestores públicos que poderiam ter começado 2013 com liberações de verbas para infraestrutura se encontram inibidos pela letargia do Congresso. Mesmo com uma medida provisória que garante recursos, eles temem problemas com o Tribunal de Contas da União (TCU) e devem abrir os cofres apenas depois da aprovação oficial dos recursos.
Ociosidade
Com o setor público travando investimentos, a iniciativa privada também se retrai e espera momentos de mais certeza para tirar projetos da gaveta. Não à toa, o parque fabril brasileiro encontra-se com cerca de 20% de ociosidade e sem perspectiva de melhorar esses números. As projeções para a produção industrial do ano também seguem em constante piora. Entre as duas últimas divulgações do Focus, o indicador encolheu 0,07 ponto percentual, caiu de 3,17% para 3,10%. Os números de produção de bens de capital, equipamentos usados para produção, derreteram em 2012 e ainda não deram sinal de recuperação – apresentaram retração de 11,79% no ano passado.
Para integrantes do mercado, parte da correção desses problemas deve sair da equipe econômica. “Alguma coisa tem que ser feita, mas provavelmente não será através dos juros. Não porque o BC não é independente, mas porque assumiu um duplo mandato e se a inflação tem de ser uma preocupação, a retomada do investimento não pode ser esquecida”, observou Leal. Analistas alertam que se o país não voltar a crescer, o cenário de pleno emprego e de expansão da renda, que tem permitido a classe média ficar tranquila em meio a essas preocupações do governo, pode ficar ameaçado.