Em vez de ganhar fôlego, a economia brasileira perdeu forças no fim de 2012, para desânimo do governo. Segundo cálculos do Banco Central, o IBC-Br, índice usado como prévia do Produto Interno Bruto (PIB), registrou avanço de apenas 0,26% em dezembro, menos da metade do 0,57% do mês anterior, encerrando o ano passado com crescimento de 1,64%, o pior resultado desde 2009.
Com esse desempenho, os analistas sacramentaram as apostas de que, na sexta-feira da semana que vem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrará um “pibinho” entre 0,8% e 1,1% em 2012. Pior: jogaram para baixo as estimativas de 2013. Agora, o mercado fala em incremento do PIB de 2% a 3,7%, um sinal de que a recuperação da atividade será mais lenta que o desejado pela presidente Dilma Rousseff — a projeção oficial vai de 4% a 5%.
Na avaliação do economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, o Brasil está se ressentindo da falta de confiança do capital na condução da política econômica e da fragilidade da atividade internacional. Os investimentos produtivos continuam travados, as exportações encontram resistências no exterior e o consumo das famílias dá sinais de esgotamento diante do elevado nível de endividamento. Pelos cálculos dele, o PIB de 2013 subirá apenas 2%, metade do prometido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Infelizmente, não dá para se entusiasmar com os números do IBC-Br, que são discrepantes dos calculados pelo IBGE. O que vimos foi uma desaceleração da atividade em vez de recuperação. Olhando para frente, não há sinais de melhora", destacou.
Só nos sinais Menos pessimista, o economista Felipe Queiroz, da Austin Rating, aposta em avanço de 1,1% em 2012 e de 3,7% neste ano. “Mesmo que em um ritmo lento, a economia dá sinais de recuperação”, afirmou. Na sua opinião, será preciso, porém, avaliar melhor o cenário, devido aos riscos inflacionários. Caso eles persistam, o Banco Central será obrigado a elevar a taxa básica de juros (Selic), com impacto considerável sobre o ritmo da atividade. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado nos 12 meses terminados em janeiro atingiu 6,15%, muito próximo do teto de meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 6,5%.
O governo unificou o discurso nos últimos dias — tanto Guido Mantega quanto o presidente do BC, Alexandre Tombini, disseram que os juros podem subir para conter os reajustes de preços —, com o intuito de reverter a onda de desconfiança do empresariado e dos investidores. O Palácio do Planalto acredita que, retomando o controle das expectativas dos agentes de mercado, que respondem por um terço do IPCA, o BC conseguirá levar mais rapidamente a inflação para próximo do centro da meta, de 4,5%. Com isso, não será necessário elevar a Selic e não se correrá o risco de abortar a ainda frágil retomada da atividade.
Produtividade em câmera lenta
Londres – A produtividade brasileira ainda trava o crescimento do país. Apesar de a economia do país ter crescido a um ritmo mais rápido nos últimos anos, a produção média por trabalhador não reagiu. Ao contrário, um estudo do Conference Board mostra que o desempenho no Brasil é inferior ao visto em outros grandes emergentes desde 1996.
De acordo com o estudo, a produtividade média do brasileiro subiu 0,4% por ano no período entre 1996 e 2005. O ritmo é o pior entre os grandes emergentes citados pelo estudo. No grupo, todos apresentaram desempenho melhor: Rússia, com expansão média da produtividade de 3,8% por ano, Índia (4,3%), China (7,1%), México (1,4%), Indonésia (1,1%) e Turquia (4,6%). Segundo o Conference Board, a produtividade dos brasileiros melhorou entre 2006 e 2011, quando, na média, o indicador subiu anualmente 2%.
Mesmo com essa reação, o ritmo continuou aquém do observado em outras grandes economias emergentes: Rússia (3,4%), Índia (5,9%), China (10,4%) e Indonésia (3,1%). O desempenho brasileiro, porém, foi melhor nesse período que o da Turquia, que cresceu média de 1% por ano, e o do México, com expansão anual de 0,5%. No fim desse segundo período, a produtividade brasileira começou a desacelerar. Em 2011, o índice brasileiro cresceu 0,7%, abaixo da média de 5,9% dos emergentes e também inferior a todos os outros países da comparação. Em 2012, o índice teve queda de 0,3%.
Clima econômico ainda nublado
Rio de Janeiro – O clima econômico no Brasil piorou no trimestre encerrado em janeiro em comparação ao período de três meses anterior, de agosto a outubro do ano passado. Mesmo assim, o ambiente permanece com avaliações favoráveis, segundo o Indicador Ifo/FGV de Clima Econômico da América Latina (ICE-AL). A sondagem, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) em parceria com o Instituto alemão Ifo, mostra que tanto as avaliações sobre o presente quanto às relacionadas ao futuro no Brasil ficaram piores. O Índice de Situação Atual (ISA) passou de 4,9 pontos, na média do trimestre até outubro de 2012, para 4,6 pontos, na média do trimestre concluído em no mês passado. Na mesma base de comparação, o Índice de Expectativas (IE) passou de 7,3 pontos para 7,2 pontos
“A piora na avaliação da situação atual esteve associada ao consumo, enquanto nas expectativas esteve associada à ligeira piora na avaliação dos investimentos”, justifica o Ibre/FGV, por meio de um comunicado. Em condição semelhante à do Brasil estão a Bolívia, o Equador e a Venezuela, que apresentaram queda nos seus indicadores de clima econômico, embora a Bolívia e o Brasil tenham permanecido com avaliações favoráveis. A sondagem mostra ainda que na Argentina o sinal é de melhora, liderada pelas expectativas, mas a avaliação da situação atual continua ruim. Os destaques positivos da pesquisa, entre os países da América Latina, foram o Chile, o México, o Uruguai, o Peru e o Paraguai, que demonstraram melhora no indicador.