Caso não consigam acordo com o governo federal para alterar pontos da Medida Provisória (MP) 595, que reestrutura os portos do país, os trabalhadores do setor prometem dificultar a descarga de produtos brasileiros em todo o mundo com apoio de duas entidades classistas internacionais: a International Transport Workers Federation (ITF) e a International Dockworkers Council (IDC).
Os trabalhadores também anunciaram paralisação nos portos amanhã (22) e na próxima semana. Em entrevista coletiva de imprensa hoje (21), em Brasília, entidades de trabalhadores alegaram que a Medida Provisória representa, na verdade, uma privatização da atividade portuária.
Segundo disse o presidente da Federação Nacional dos Avulsos (Fenccovib), Mário Teixeira, à Agência Brasil, "caso as discussões não avancem, portuários dos cinco continentes, ligados à ITF e à IDC, poderão ser acionados para recusar desembarcar as cargas originárias do Brasil".
Em protesto contra a Medida Provisória, portuários e estivadores (trabalhadores que fazem o movimento de carga dentro dos barcos) anunciaram a paralisação das atividades amanhã (22), das 7h às 13h, e terça-feira (26), das 13h às 19h. Está prevista também para amanhã uma reunião com representantes da Casa Civil para discutir o assunto.
A MP que trata da modernização dos portos brasileiros tem sido muito criticada pelos sindicalistas. Na semana passada, em reunião com a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, representantes de trabalhadores do setor portuário pediram ao governo federal mais discussão sobre as mudanças introduzidas pela Medida Provisória 595/2012.
“O governo precisa assumir que está privatizando. Vamos fazer nossa resistência para mostrar isso à população, mostrar que a MP poderá acabar precarizando o trabalho portuário”, disse o presidente da Federação Nacional dos Portuários (FNP), Eduardo Guterra, também presente à coletiva.
De acordo com o presidente da Federação Nacional dos Estivadores (FNE), Wilton Barreto, 38 portos brasileiros já estão mobilizados. Entre as críticas, está a de falta de transparência nas discussões que resultaram na Medida Provisória. “Prova disso é que nem o Ministério do Trabalho nem o Ministério Público do Trabalho foram convidados a participar do processo”, disse Barreto.
Os representantes sindicais das categorias garantem que a paralisação não afetará remédios, alimentos perecíveis e outras cargas cujo atraso no desembarque possa prejudicar a população.
“Nossa orientação é de respeito à sociedade. Não vamos deixar que a população sofra em decorrência do nosso movimento”, explicou Guterra, presidente da FNP. “Mas esse é apenas o início da nossa mobilização. Há a possibilidade de ela ficar mais intensa e por mais tempo”, disse o presidente da Fenccovib, Mário Teixeira.
“Amanhã [na reunião com a Casa Civil], se houver sinalização do governo em negociar, poderemos discutir a possibilidade de rever a greve de terça e as prioridades do movimento”, ponderou Barreto.