O dólar abaixo de R$ 1,90 no primeiro quadrimestre de 2012 é apontado pelo presidente da Associação Brasileira do Papelão Ondulado (ABPO), Ricardo Trombini, como uma das principais razões para o fraco desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) da indústria brasileira no ano passado.
A posterior desvalorização do real, pontualmente nos meses de maio e junho e depois de forma mais consistente a partir de novembro passado, ajudou a indústria a recuperar competitividade. O resultado foi a alta de 0,1% no PIB industrial do quarto trimestre, na comparação com o mesmo período de 2011, após dois trimestres de queda. No ano, o indicador encolheu 0,8%, conforme divulgado, nesta sexta-feira, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"Tivemos um começo de ano (2012) muito sentido devido ao câmbio, mas hoje acredito que a tendência do mercado é de melhora. Este ano será melhor que 2012 e em 2014 a situação irá melhorar um pouco mais", afirmou Trombini em entrevista à Agência estado. "Mas talvez não falemos em uma taxa de crescimento nos níveis que falávamos no passado", ponderou.
Os primeiros indicativos de recuperação da atividade industrial brasileira foram registrados pela ABPO no final do ano passado e se repetiram no início de 2013. As vendas de papelão ondulado, produto cujo desempenho dos negócios está atrelado principalmente ao ritmo da indústria de transformação, cresceram 10,09% em janeiro, na comparação com o mesmo período de 2012. Em fevereiro, o indicador deve voltar a crescer na comparação anualizada, a despeito do menor número de dias úteis neste ano.
Segundo Trombini, o movimento de recuperação é uniforme. Por isso, a entidade projeta um crescimento das vendas em aproximadamente 3,5% este ano, em relação ao ano passado. Em 2012, a taxa de crescimento do setor foi de 2,79%. "Com o câmbio na faixa de R$ 2,00 a R$ 2,05, não vemos motivo para não termos um crescimento mais forte este ano", destaca o executivo.
A questão cambial, na visão de Trombini, é tão importante que poderia influenciar mais o desempenho da indústria brasileira do que uma eventual política industrial a ser implementada pelo Governo Federal. Obviamente, complementa o executivo, o câmbio tem outras implicações, como o impacto sobre a inflação, por isso o governo não pode simplesmente estimular um câmbio mais favorável à indústria em detrimento ao andamento da economia como um todo.
Como o dólar deve operar em um patamar próximo a R$ 2,00, é pouco factível imaginar um salto mais expressivo na atividade da indústria no curto prazo. Dessa forma, a situação dos investimentos das indústrias, aquém do sonhado no passado, também não é tão promissora. "Alguns anos atrás, previa-se um crescimento superior ao que temos registrado. E, uma vez que a expansão não aconteceu, a indústria ainda precisa maturar aquilo que foi feito no passado", relembra Trombini.