A empresa recicla hoje em torno de 150 toneladas por mês e os negócios, iniciados em 2010, estão crescendo entre 10% e 15% ao ano. “Para as empresas hoje terem a certificação ambiental, elas precisam dar o destino correto para as sucatas, que é a reciclagem”, explica Vitorino. A grande barreira são os pontos de coleta da sucata. “Muita gente me liga para que eu vá buscar um computador para reciclagem. Aí não é viável. O destino costuma ser o lixo mesmo”, observa.
Mas se depender da intenção da população, a maioria (85%) dos brasileiros que ainda não conta com coleta seletiva estaria disposta a separar o lixo em suas casas caso o serviço fosse oferecido nos municípios, segundo pesquisa do Ibope encomendada pelo WWF-Brasil, no âmbito do programa Água Brasil, do Banco do Brasil. A pesquisa revelou ainda que a maioria da população (64%) não é atendida pela coleta seletiva e 1% não sabe o que é isso.
“Do lixo você tem o luxo, muita riqueza que pode tirar dali. Ela não pode ser destruída, por mais rico que o país seja”, afirma Rodrigo Nogueira, gerente geral da Unidade de Desenvolvimento Sustentável do Banco do Brasil. O Ibope conduziu 2.002 entrevistas em todo o território nacional e investigou como os brasileiros entendem a questão do consumo sustentável. “Hoje, o país é campeão na coleta de latas de alumínio, mas temos que avançar em outras áreas também”, observa Nogueira.
Aviamentos e botões Entre o empresariado, as iniciativas começam a decolar. A estilista carioca Isabela Capeto acaba de lançar uma marca onde reaproveita tudo, desde sobra de tecidos a aviamentos e botões. A nova marca, a Ibô, traz todas as estampas que marcaram a carreira de Isabela. Em apenas cinco meses de operação, a produção da marca já gira em torno de 700 peças ao mês. Um vestido na Ibô custa de R$ 180 a R$ 220. “Meu desejo não era apenas lançar uma outra marca e uma coleção para ela, mas sim mostrar que podemos ser sustentáveis e criativos”, afirma Isabela.
A multinacional francesa Met Trade, especializada na reciclagem de baterias de automóveis, aguarda o resultado do licenciamento ambiental para dar início ao processo de instalação de uma unidade fabril na zona rural do município de Rio Pomba, na Zona da Mata, com investimento na ordem de 100 milhões de euros. A empresa, além da França, mantém unidades na Índia e em outros 10 países.
A multinacional fez o primeiro contato com o estado em setembro de 2010 e já havia avaliado a possibilidade de se instalar no município de Cataguases. No entanto, a disponibilidade da área, de 100 mil metros quadrados, foi mais rápida em Rio Pomba. A expectativa é de que sejam gerados 150 empregos diretos. “Uma indústria desse porte movimenta toda uma cadeia produtiva e de fornecedores. Será muito benéfica para a região, sem falar que 25% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) recolhido retornam para o município”, diz o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais na Zona da Mata (Fiemg-Zona da Mata), Francisco Campolina.
Localização A logística de Rio Pomba foi considerada estratégica, já que tem fácil escoamento da produção para Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. “A futura planta também é beneficiada pelo aeroporto de Goianá, que já está sendo bastante utilizado pelos franceses”, diz Campolina. Indústria de consumo intensivista no uso de energia, a Met Trade já recebeu sinal verde também do grupo Energisa, responsável pelo fornecimento na cidade. A estimativa é que as obras durem cerca de um ano.
A unidade de Rio Pomba vai atuar na separação e recuperação dos componentes das baterias utilizadas em veículos, material que volta para o mercado para ser reutilizado. O prefeito de Rio Pomba, Fernando Macedo (PMDB), diz que a expectativa é grande quanto à vinda do empreendimento para o município e que agiu rápido no sentido de disponibilizar uma grande área para a multinacional. “Acreditamos que uma parte da mão de obra que deve ser treinada e qualificada para atender a indústria poderá ser da região de Rio Pomba.”
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Política de resíduos
A Lei 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), traça metas para o Brasil alcançar o índice de reciclagem de resíduos de 20% em 2015. Uma delas é a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado). Institui a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos: dos fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, o cidadão e titulares de serviços de manejo dos resíduos sólidos urbanos na logística dos resíduos e embalagens pós-consumo.