A energia elétrica foi o item que mais contribuiu para a desaceleração da inflação medida pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), que passou de 0,31% em janeiro para 0,20% em fevereiro. A tarifa de energia caiu 13,91% para o consumidor final no mês passado. Em janeiro, a energia já havia registrado queda de 5,19% no varejo. Com isso, não é esperada nova contribuição da energia no IGP-DI daqui para frente, já que a queda determinada pelo governo foi de 18%.
"Provavelmente, em março, a inflação vai subir um pouco porque vai terminar o efeito da energia elétrica. A alimentação vai continuar a baixar, mas a energia vai compensar. Se nada mais de importante acontecer, o IPC ( Índice de Preços ao Consumidor, dentro do IGP-DI) vai aumentar um pouco. A queda é transitória. O IPC não irá permanecer nesse patamar", disse o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) Salomão Quadros, ressaltando a pressão dos preços dos serviços, que continuam alimentando o núcleo da inflação. Do outro lado, os alimentos, que já demonstram redução de preços no atacado, devem, ao longo do tempo, contribuir para a redução dos preços no varejo também.
A opinião do economista é que, embora a inflação de fevereiro tenha vindo em um patamar mais baixo, ela não pode ser tomada como referência pelo governo na condução da taxa básica de juros. "Não faria sentido subir a Selic depois de o governo falar tantas vezes que manteria a política por um longo período. Há uma mudança na orientação?", questionou.
Em fevereiro, a desaceleração do IPC, de 1,01% para 0,33%, foi influenciada, além da energia, pelo grupo alimentação (2,18% para 1,33%), principalmente por causa do item alimentação no domicílio (de 2,79% para 1,33%). O principal exemplo nesse caso são as hortaliças e legumes (de 20,02% para 10,39%) e "ainda há um potencial grande de desaceleração nesse segmento", afirmou Quadros. Entre as hortaliças e legumes, o destaque ficou por conta do tomate (de 34,57% para 13,40%).
Quadros ressaltou como influência na desaceleração dos preços no varejo o grupo de vestuários (de -0,17% para -1,28%), por motivos sazonais, e das despesas diversas (de 4,22% para 0,85%), principalmente por causa do item cigarro (de 9,31% para 1,02%). Além disso, o grupo educação, leitura e recreação perdeu a influência sobre o IPC, com o fim do reajuste das mensalidades escolares típicas de janeiro. Na contramão das desacelerações está a gasolina, reajustada nas refinarias no fim de janeiro (de 0,03% para 5,02%).