A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) reduziu de R$ 6,7 bilhões para R$ 5,1 bilhões a base de remuneração líquida da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) para os investimentos realizados nos últimos cinco anos. Com isso, o aumento da conta de luz dos consumidores mineiros, que passará a valer em 8 de abril, poderá ficar menor do que o pleiteado pela empresa – 9,06% para consumidores residenciais de baixa tensão e 18% para pequenas e médias indústrias mineiras que são consumidoras cativas da estatal. O mercado reagiu à medida da Aneel com o receio de que a decisão poderá ocorrer com as demais distribuidoras, fazendo as ações do setor elétrico pressionar a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O Ibovespa fechou o dia em queda de 0,59% aos 56.030,03 pontos. O destaque negativo foram as preferenciais da Cemig, que recuaram 13,95%. Papéis da Light (-6,20%), Copel ( -3,06%) Eletrobras (ELET6, -4,33%), entre os de outras companhias de energia, também ficaram no vermelho.
Com a nova remuneração, o Ebitda – lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização – da distribuidora vai sofrer uma redução de 20%, estimam Bruno Piagentini e Marco Barbosa, analistas de investimento em energia da corretora Coinvalores. Segundo eles, a geração de caixa da Cemig Distribuição representa 40% do Ebitda consolidado da concessionária.
Analistas do banco Credit Suisse enviaram comentário a clientes destacando que a redução do valor da base de remuneração da Cemig a ser considerada no terceiro ciclo de revisão tarifária da empresa implicará uma redução de 24% no Ebitda da distribuidora. A decisão da Aneel partiu de questionamentos feitos pela Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace) durante audiência pública realizada pela agência reguladora em 5 de março para discutir a revisão tarifária da concessionária. A mudança nos cálculos ocorreu uma semana depois. A Cemig poderá recorrer. Durante o evento, Fernando Umbria, coordenador de energia elétrica da Abrace, divergiu dos cálculos feitos pela Cemig para fundamentar o pleito de reajuste, apontando inconsistências nas contas apresentadas pela companhia à Aneel.
Foram dois os pontos de divergência apontados pelo especialista. Em primeiro lugar, de acordo com Umbria, a Cemig informou que os investimentos ao longo do último ciclo de revisão tarifária (2008-2013) somaram R$ 8,9 bilhões, mas a Abrace refez contas, aplicando a metodologia da Aneel, e chegou a apenas R$ 4 bilhões. Outro questionamento diz respeito aos bens depreciados, avaliados pela concessionária em R$ 750 milhões. “Nas demonstrações financeiras da Cemig, esse número é de R$ 1,55 bilhão e, nesse caso, quanto maior o número menor tende a ser o reajuste”, sustentou Umbria.
Impacto
Nessa quarta-feira em conferência com analistas de investimentos, o diretor de Finanças e Relações com Investidores da Cemig, Luiz Fernando Rolla, afirmou que o processo de revisão tarifária ainda está em discussão na Aneel e que ainda é cedo para calcular o impacto da decisão. Ele disse que a companhia vai apresentar argumentos para justificar seu pedido de reajuste, mas não especificou quais seriam esses argumentos. Sobre a redução na tarifa pleiteada junto à agência reguladora, Rolla afirmou que será preciso aguardar a primeira semana de abril para conhecer os resultados definitivos.