Pela primeira vez em 12 anos o rombo nas contas externas não será coberto por Investimento Estrangeiro Direto (IED). Previsões divulgadas ontem pelo Banco Central mostram que esse capital externo direcionado para o setor produtivo deve fechar 2013 em US$ 65 bilhões, valor insuficiente para tapar o buraco deixado por importações, gastos, aluguéis e compra de equipamentos e serviços no exterior. Pelos números da instituição, seriam necessários US$ 2 bilhões a mais para manter o equilíbrio das contas externas. Essa diferença terá de vir de capital especulativo, recursos de investidores estrangeiros aplicados no mercado financeiro e altamente sensíveis a crises e turbulências.
No mês passado, ainda segundo dados da autoridade monetária, esse envio de lucros para fora somou US$ 2,1 bilhões, três vezes mais que o registrado em igual mês de 2012. No bimestre, essa saída de recursos chegou a US$ 4,2 bilhões. Segundo o BC, para o ano, a previsão é de que as remessas cheguem a US$ 30 bilhões.
Mesmo com a piora dos números das contas externas e com o déficit ultrapassando os investimentos diretos, Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do Banco Central, se disse confortável. “Há uma tendência de ampliação dos déficits. Ao mesmo tempo, isso significa transferência de poupança externa para o país”, disse. “Vejo com naturalidade a ampliação do déficit em um cenário de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)”, observou.
Ainda segundo Maciel, essa piora dos números não deve mudar a visão dos investidores sobre o Brasil. Na avaliação de Gabriela Fernandes, economista do Itaú Unibanco, os dados divulgados surpreenderam para pior. “Os números do primeiro bimestre de 2013 não foram muito positivos, com aumento do déficit em conta-corrente e a redução de investimentos diretos”, frisou.
O Banco Central ainda fez revisões para os números da balança comercial, reduziu o saldo de US$ 17 bilhões para US$ 15 bilhões. Nos cálculos da instituição, o país terá um volume menor de exportações que o previsto inicialmente, em vez de US$ 268 bilhões, serão US$ 264 bilhões. As importações também apresentaram recuo nas projeções: caíram de US$ 251 bilhões para US$ 249 bilhões.