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Estado de Minas ESTRATÉGIA DE DEFESA A LONGO PRAZO

Maritacas parecem inofensivas, mas causam sérios prejuízos a agricultores mineiros

Expectativa é de que resultado do estudo que será enviado ao Ibama com planos de controle das aves só fique pronto de 9 meses a um ano. Até lá, barulho, telas e falcões são alternativa


postado em 25/03/2013 09:46

Apesar da urgência em encontrar soluções para os ataques de maritacas e, em menor escala, de outras aves em plantações do estado, não se trata de um processo rápido. No caso do Campo das Vertentes, o estudo tem duração esperada de nove meses a um ano, de acordo com José Geraldo Viana, fiscal assistente agropecuário do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) em Barbacena. Ele explica que não há como fazer um diagnóstico sem passar por todos os processos de análise. “O trabalho de campo a ser feito pelo grupo reunido pelo sindicato vai ser acompanhado pelo IMA, que vai ficar responsável por atestar a veracidade das avaliações e, em cima disso, fazer o relatório técnico.”

A bióloga Michelle Barbosa Mateus tem experiência nesse tipo de projeto graças à sua dissertação de mestrado, que avalia os prejuízos de alguns produtores rurais na Zona da Mata com o ataque de aves na fruticultura e na lavoura de milho, especialmente no município de Paula Cândido. Além da maritaca, há registros de ações de pombos e, em menor quantidade, queixas relacionadas a sanhaço, jacu, saracura e sabiá, ainda que essas últimas aves não causem perdas.

“Vi bandos de 300 pombos em um milharal uma vez”, conta Michelle. No caso de Barbacena e região, a especialista sugeriu começar o estudo com a avaliação do prejuízo dos produtores. “Para definirmos o plano de manejo, é essencial ter esse dado, até para saber se as estratégias são viáveis financeiramente e se podem ser liberadas pelo Ibama.” Os produtores chegaram a sugerir que fossem plantados coquinhos, alimentos dos quais as maritacas gostam, mas, além de o coqueiro demorar a crescer, pode atrair ainda mais aves. A caça esportiva, outra sugestão levantada na reunião, também tem uma série de obstáculos legais, inclusive a questão do porte de espingardas.

Quem são elas?

A equipe de especialistas vai também identificar quais são as espécies responsáveis pelos ataques. Para Michelle, provavelmente são diferentes das estudadas em Paula Cândido. Para minimizar o prejuízo a curto prazo, enquanto o plano de manejo não é desenvolvido e submetido à autorização, o ideal é adotar boas práticas. Segundo a bióloga, isso significa evitar perder a produção por outros fatores que não sejam os ataques das aves, seja na colheita ou no transporte das frutas e do milho. “Em Paula Cândido, alguns produtores chegaram a abandonar os pomares. Em Barbacena, isso não é possível, por ser o único ramo de atividade desses produtores”, destaca a bióloga.

De acordo com a especialista, há estudos com repelentes químicos em andamento, nenhum ainda aprovado. Entre as possibilidades, eles serviriam como inibidores reprodutivos ou simulariam o cheiro de predadores. Outras estratégias usadas por produtores no estado incluem o uso de canhões de propano, que são botijões de gás que dão estampidos periódicos e são colocados em lugares estratégicos das plantações.

“Eles têm um sensor que detecta a revoada das aves e dá ‘tiros’, que na verdade são só barulhos para assustar os animais”, explica Júnio Augusto dos Santos Silva, analista ambiental do Ibama em Minas Gerais. Também existe a falcoaria, em que se usam predadores, os falcões, em sobrevoos periódicos e monitorados por especialistas, a fim de espantar as aves. Já a possibilidade de abate é bastante remota. Júnio explica que esse tipo de manejo é muito restrito, autorizado apenas em caso de grau exacerbado de prejuízo e nocividade, como o autorizado para javalis, recentemente. “Cabe às empresas e aos proprietários quantificar os ataques, identificar as espécies, avaliar o motivo pelo qual é fácil para as aves entrarem nas culturas e quais as estratégias de manejo. O Ibama avalia o estudo e autoriza ou não as medidas.”

Insetos são outros vilões


Não só as aves estão causando prejuízos e deixando produtores rurais em alerta. Pierre Vilela, coordenador da Assessoria Técnica da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), afirma que existem registros de outras pragas por aqui e em estados próximos, que preocupam pelo fato de não haver isolamento geográfico. No Sul de Minas, a ocorrência é de mariposas nas lavouras de café, que estão sendo monitoradas há pelo menos três anos e são consideradas pragas secundárias, por ainda não gerarem prejuízo.

Outra preocupação é a disseminação da vespa-das-galhas, que atinge a cultura de eucalipto. Em 2008, surgiram os primeiros relatos do inseto na Bahia, e mais recentemente, há registros no Paraná, o que significa que a praga provavelmente já atravessou Minas Gerais. Também está no radar dos produtores o ataque de lagartas na cultura do milho transgênico em Mato Grosso, Goiás e Bahia. Esse tipo de milho foi desenvolvido justamente para ser resistente à praga, por meio de modificação genética. “São constantes novos problemas a serem enfrentados no manejo das pragas. Elas não surgem espontaneamente, mas entram no país pelas fronteiras, pelo transporte marítimo e aéreo. Há uma falha no processo de fiscalização da entrada delas. Tudo isso mostra que é preciso ter um investimento em inovação e tecnologia nessa área, por meio do governo e da iniciativa privada”, afirma Pierre.

Segundo ele, os ataques têm se intensificado devido às adversidades climáticas. No Norte de Minas, gafanhotos estão causando estragos nas lavouras. A seca na região atinge os predadores dessas pragas que, por causa das condições climáticas, migram para outros lugares. Já no Campo das Vertentes, a chuva abaixo do esperado causa desequilíbrio na fonte de alimentos para as aves. “Com a diminuição da oferta natural de alimentos, elas vão em busca das lavouras comercias, que têm meios de cultivar mesmo em condições adversas”, explica Pierre.

Wagner Brant Monteiro, assistente técnico da Coordenadoria Regional de Montes Claros do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), afirma que foi realizada, no mês passado, uma vistoria de campo em Francisco Sá, município mais afetado pela ação dos gafanhotos. Em algumas propriedades foram identificados ataques severos na lavoura de milho, que causaram perda total nessas plantações. Em outras, os produtores têm feito controle químico, mas os técnicos perceberam que houve a reentrada da praga, vinda de áreas vizinhas em que não foi feito o manejo.” Estamos passando por um período crítico de baixo índice de chuvas na região e a pastagem encontra-se com pouca massa. Isso favorece o desenvolvimento do gafanhoto, uma vez que não há como fazer um manejo ideal das pastagens”, explica Wagner.

Segundo ele, os prejuízos causados pela praga aumentam pelo fato de o milho e o sorgo que seriam usados na alimentação dos animais no período de seca estarem sendo destruídos. “O controle químico é uma medida necessária e urgente, mas é de extrema importância a atuação das instituições de pesquisa para identificar e avaliar as alternativas de controle e convívio com o gafanhoto”, afirma Wagner. (CL)


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