De áreas agrícolas para importantes polos comerciais e de serviços. As regiões Nordeste e Noroeste de Belo Horizonte, que juntas somam 560 mil moradores (24% da população) e 33.990 empresas (19,5% do total), abrigam bairros como Alípio de Melo, União e Palmares, marcados pela mudança em suas paisagens. No primeiro, a expansão do crédito e a baixa taxa de desemprego na capital mineira atraíram grandes redes, cujo melhor exemplo está na Avenida Abílio Machado. No segundo e no terceiro, a construção de hotéis e de um complexo comercial vão impulsionar ainda mais o emprego. A economia no Nordeste e no Noroeste da capital mineira é o tema da terceira reportagem da série “Fora do eixo”, que o Estado de Minas publica até amanhã.
A origem da Região Nordeste de Belo Horizonte remete à Fazenda São João Batista, cuja sede ocupava a área que hoje divide os bairros União e Palmares. O local está prestes a se transformar num polo hoteleiro, onde os dois empreendimentos já em atividade – Ouro Minas e Ímpar Suítes – vão ganhar a companhia de uma unidade do Ramada, outra do Almada e, por fim, uma terceira para a qual os empresários captam investidores. Os cinco hotéis, todos localizados num raio de menos de um quilômetro, estão de olho numa futura engrenagem daquelas bandas, o novo centro de convenções da capital, que será construído às margens da Avenida Cristiano Machado, num terreno entre o Minas Shopping e o Minascasa.
Os dois centros comerciais, aliás, se preparam para o novo polo hoteleiro. O Minascasa, por exemplo, receberá, em seu terreno, uma torre do Ramada. O estabelecimento está sendo erguido pela Lider e vai ser administrado pela Vert Hotéis, representante do grupo Wyndham. “Por ser construído dentro de um shopping, os hóspedes poderão usufruir de serviços, como banco 24 horas, salão de beleza, papelaria, loja de decoração, padaria…”, propagandeia Sandra Costa, vice-presidente do conselho de sócios da Lider.
O hotel, por sua vez, beneficiará os clientes do mall, pois uma praça de alimentação será construída no primeiro pavimento do Ramada Minascasa. O superintendente do shopping, Wallace Pinto, acredita que o fluxo de pessoas aumentará em 10%: “Por seu caráter diferenciado, com conceito gourmet, as lojas da nova praça vão atrair moradores e trabalhadores da região, além dos hóspedes”. O Minas Shopping também se apressou em garantir uma parcela dos clientes do futuro polo hoteleiro e em dezembro passado ampliou o mix em 60 lojas. O investimento foi de R$ 40 milhões.
O gerente-geral do mall, Cícero Mello Sant’Anna, espera crescimento de 25% nas vendas em razão do aumento na área interna: “A construção dos hotéis vai contribuir diretamente para esse percentual”. Mas a maior tacada da AD Shopping, que administra o Minas, será gerenciar um grande empreendimento multiuso que está sendo erguido, em terreno vizinho ao shopping, pela EPO Engenharia. Trata-se de um complexo comercial e de serviços de 137 mil metros quadrados, que vai reunir dois edifícios, o Center Minas e Global Tower, sendo este último com heliporto.
O Center Minas terá seis pavimentos, quase 2,3 mil vagas para automóveis, 50 lojas, home center, 12 fast foods, oito âncoras – uma delas é a francesa Leroy Merlin. A primeira etapa deve ser inaugurada em abril, quando a Leroy entrará em funcionamento. Apenas nessa fase o aporte é de R$ 80 milhões. Já a segunda torre do complexo, a Global, terá 28 pavimentos. O edifício será destinado a empresas de serviços. O diretor-presidente da EPO, Gilmar Dias dos Santos, diz que a “área é um ponto estratégico em franca expansão”.
Via de investimentos
O polo hoteleiro e o complexo comercial surgem não só em razão do futuro centro de convenções de BH: a Avenida Cristiano Machado, principal caminho para as novas empresas, é um dos corredores que faz parte da Linha Verde, a via expressa que liga o Centro da capital ao Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins. A combinação da importância da via com a chegada dos megaempreendimentos também vai beneficiar empresários de menor porte.
Fernando Zamforlim, dono da Hipperfrios Delikatessen, será um deles. O seu empreendimento, aberto há um ano e meio, no Bairro União, está no mesmo quarteirão do Ímpar Suítes e a menos de 700 metros do Ouro Minas e do Minascasa. “Os hotéis hoje representam cerca de 15% de minhas vendas, mas elas vão crescer bem depois da inauguração dos novos empreendimentos. Tanto que já estou ampliando a adega e o espaço para cerveja”, explica o comerciante.
Zamforlim ainda não estimou qual será o aumento nas vendas, mas acredita num percentual elevado. É a economia ditando os novos ritmos na Região Nordeste. Lá, segundo a Associação Comercial de Minas, há 14.182 empresas. (PHL)
'Formigueiro' anima lojistas
Construída para ser a moradia de operários que ajudaram a erguer a nova capital de Minas (Bairro Padre Eustáquio) e para o abastecimento agrícola de Belo Horizonte (Carlos Prates), a Região Noroeste, onde há 19,8 mil empresas, não é mais a mesma da fundação de Belo Horizonte: a área se valorizou, atraiu grandes investimentos e obrigou a prefeitura a tirar da gaveta projetos viários importantes para comportar o crescimento. A ligação da Avenida Pedro II, no Padre Eustáquio, à Presidente Tancredo Neves, no Bairro Castelo, encurtou o caminho entre as regiões Nordeste e Pampulha.
O aumento da renda do brasileiro, aliás, é notado em todo o país. No Bairro Alípio de Melo, porém, a boa-nova fica bem evidente para quem vai à Abílio Machado. A principal via do bairro já abriga grandes redes, como Ricardo Eletro, Ponto Frio, Magazine Luiza. O último destaque lá chegou em novembro de 2012. Trata-se de uma unidade das Lojas Americanas. Fica ao lado do shopping popular Xingu, outro exemplo de como o vaivém de pessoas naquele corredor desperta a cobiça do varejo.
Bom para o novo centro comercial, mas também para os chamados lojistas de rua. Na Gabrielly Carolina Calçados, a vendedora Roseli da Costa conta que o movimento de clientes, principalmente nas principais datas do calendário varejista, é tão grande que quase sempre os funcionários das lojas precisam se abdicar do horário integral do almoço. “Não dá tempo para nada”, reforçou a vendedora, acrescentando que atende consumidores de todas as classes sociais. “Temos clientes do Castelo, do Pindorama, do Glória, do Padre Eustáquio…” Roseli faz questão de destacar que no Natal e no Dia das Mães, consideradas as melhores datas para vendas no varejo nacional, o fluxo de consumidores ao longo da Abílio Machado é superior ao das vias do Hipercentro de Belo Horizonte. Moradora do Glória, Raquel Reis bate na mesma tecla: “Aqui fica como se fosse um formigueiro”. Para ela, o segredo do sucesso de público ao longo de vias da região é o comércio diversificado.
A região conta até com a Feira Coberta, no Padre Eustáquio, onde produtos da roça dividem espaço com mercadorias importadas. Getúlio Quintino, de 71 anos, é negociante de milho, pimentão, ovos, abóbora, entre outros produtos. “Busco na Ceasa. A clientela gosta, pois é tudo fresco”, diz o homem, que chegou ao local no início da década de 1970. Para ele, a feira é um pedacinho do interior na capital.