A indústria e o comércio afundaram a economia em fevereiro. Segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central, indicador que tenta prever o comportamento da atividade econômica antes da divulgação do Produto Interno Bruto (PIB), o país encolheu 0,52% no mês. O resultado é o pior para um mês desde setembro de 2012 e o menor para fevereiro desde 2005. Segundo o indicador do BC, no acumulado de 12 meses o país avançou apenas 0,83%. Nos três meses encerrados em fevereiro, na comparação com o trimestre imediatamente anterior, a expansão foi de apenas 0,72%. “Esses dados corroboram um crescimento no primeiro trimestre inferior a 1%”, calcula Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos.
Mas a desaceleração econômica não deve impedir que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumente a taxa básica de juros (Selic), hoje em 7,25% ao ano, na semana que vem. O governo elevou fortemente, ontem, o tom do discurso pelo qual vem prometendo combater o custo de vida e consolidou no mercado a convicção de que o BC vai aumentar a Selic. No Rio de Janeiro, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, quebrou a regra de manter silêncio na véspera dos encontros do Copom afirmando que “não haverá tolerância com a inflação”.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi ainda mais taxativo. “Nós não vamos titubear em tomar medidas, mesmo impopulares, como em relação às taxas de juros”, disse ele, durante evento em São Paulo. O discurso afinado dos principais comandantes da política econômica não somente tornou unânime, entre os analistas, a previsão de alta dos juros, mas também fez crescer significativamente o número dos que apostam em uma subida mais forte, de 0,5%, da Selic. Até agora, a maioria dos que previam um ajuste da taxa falava em correção de 0,25%. E, depois do recado dado ontem por Tombini e Mantega, ninguém mais acredita que o BC vai adiar para maio a decisão de apertar a política monetária.
Sem tolerância
“O Banco Central tem dito que não há e não haverá tolerância com a inflação. Nós estamos neste momento monitorando atentamente todos os indicadores e, obviamente, no futuro vamos tomar decisões sobre o melhor curso para a política monetária”, acrescentou Tombini. Para especialistas, o principal sinal dado pelo presidente do BC foi a inclusão da palavra “atentamente” na sua declaração. Eles lembraram que, no passado, essa foi a senha usada pelo Copom todas as vezes que começou um ciclo de alta dos juros.
Depois das declarações de Mantega e Tombini, o mercado futuro reagiu e mudou as apostas. Tornou-se unanimidade a previsão de alta da Selic na quarta-feira. A dúvida, agora, é se o aperto será de 0,25 ponto percentual ou 0,50. Durante parte do pregão, chegou-se a 90% o total de apostadores que colocaram suas fichas no ajuste mais intenso. No decorrer do dia, porém, esse percentual caiu para 35%. Ainda assim, todos estavam convencidos de que a Selic sairá dos atuais 7,25% ao ano para um nível maior.
Para Newton Rosa, o BC vai responder à piora das expectativas e da inflação, a despeito do baixo crescimento, com um aperto monetário. Mesmo sem um ritmo de expansão mais robusto, a autoridade monetária está pressionada pela opinião pública, que tem reclamado muito dos preços, sobretudo depois de o tomate bater em R$ 9 o quilo — o item ficou mais caro que algumas carnes.
À espera de mudança
Depois de uma alta em janeiro acima das expectativas, a atividade econômica nacional volta a recuar num vaivém motivado principalmente pela indústria. A explicação para a mudança de rumo, segundo a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), pode estar na antecipação da produção no início do ano, o que contribuiu para gerar estoque. Mas, desta vez, a indústria não está só. A alta da inflação forçou a quedas também no setor varejista.
Diante da perda de ritmo na maior parte dos setores, a indústria brasileira registrou perda de 2,5% de janeiro para fevereiro, o pior resultado desde dezembro de 2008. Em Minas, a queda foi bem mais acentuada, de 11%. Com isso, a indústria volta a clamar por ações do governo. “Só medidas paliativas não resolvem o problema. É preciso que sejam feitas reformas (tributária e fiscal) e acelerado o ritmo de obras de infraestrutura”, afirma o economista da Fiemg Paulo Casaca, que vislumbra crescimento próximo de 1% para o PIB, enquanto Minas deve apresentar cenário de estagnação.
A participação da queda do varejo na redução do PIB é a mostra de que diferentemente de outros anos o consumo familiar não deve manter o ritmo de crescimento de anos anteriores. O economista André Perfeito avalia que a inflação elevada e a redução do número de vagas criadas no mercado de trabalho sugerem uma “fatiga nesse crescimento”. “A inflação deve moderar nos serviços com mais clareza nos próximos meses e com isto se torna irrelevante a alta da taxa básica de juros na semana que vem. O Banco Central só subirá os juros para controlar as expectativas”, afirma.
Na avaliação da economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) Ana Paula Bastos, a oscilação em fevereiro era esperada devido à situação do setor industrial. Ela acredita que o Brasil necessita de mudar o modelo para possibilitar maior competitividade, mas enquanto não saem do papel medidas que reduzam o custo-Brasil é preciso mudar os rumos do câmbio para privilegiar a produção nacional em detrimento dos produtos estrangeiros.