Criados em sua maioria há mais de meio século e parte deles com terrenos doados pela prefeitura, os clubes esportivos e sociais de Belo Horizonte ocupam espaços pra lá de nobres da capital. A associação de lotes gigantescos com alto valor do metro quadrado de bairros das regiões Centro-Sul e da Pampulha faz com que empreendedores cresçam o olho, principalmente num período de recuperação financeira das entidades. Em alguns casos, as cartadas surtem efeitos. Parte dos imóveis são cedidos e a parceria torna-se solução para os clubes terem condições de voltar a investir e atrair novos e antigos sócios.
O caso do Barroca Tênis Clube, no Bairro Gutierrez, é emblemático. Com uma dívida de R$ 3 milhões, o clube cortou na carne: aceitou uma proposta das construtoras Patrimar e Direcional e cedeu 2,4 mil metros quadrados para que fosse erguido um edifício. Em troca, as empresas quitaram o débito e ainda investiram aproximadamente R$ 2,5 milhões na construção de quadras de esportes, salão de jogos, bar, lanchonete e estacionamento. “Resolveu nosso problema financeiro e ganhamos espaço de lazer. Foi difícil ‘vender o peixe’, mas hoje todo mundo entende que a realidade não poderia ser melhor”, afirma o presidente do Barroca, Giovani Magalhães.
REORGANIZAÇÃO Pioneiro nesse tipo de parceria, o Esporte Clube Ginástico cedeu o antigo ginásio para a construção de um supermercado e ao lado também foi construída uma academia. Com o caixa fora do vermelho, as associações permitiram ao clube voltar a investir na recuperação do quadro social. Nos últimos dois anos, o crescimento do número de associados é de 25%, e aos poucos, o clube aproxima-se da marca limite de cotas. Hoje são 320 cotistas proprietários (além dos 50 usuários) e o máximo comportado é 450. “Conseguimos reorganizar o clube e voltar a prestar um serviço de qualidade”, afirma o presidente Márcio Tibo, reiterando que as perdas de espaço foram compensadas. No caso do ginásio, um centro de treinamento no Bairro Buritis foi cedido, e quanto à academia, os associados têm desconto de 50% na mensalidade.
Assim como o Barroca, que, segundo números do mercado imobiliário vale R$ 40 milhões (considerando a área de 8 mil metros quadrados e o valor médio de R$ 5 mil para cada metro quadrado da região), outros clubes têm em mãos patrimônio invejável. O Minas Tênis Clube é o principal exemplo. Localizadas em dois dos bairros mais nobres da cidade – Lourdes e Mangabeiras –, as unidades 1 e 2 do clube têm juntas área de 104 mil metros quadrados, além dos espaços de mais de 350 mil metros quadrados do Country e do Náutico. Mas, com número recorde de associados (72 mil), o clube consegue expandir sem necessitar desse tipo de parceria.
Situação semelhante à do Minas vive o Jaraguá Country Club. Diferentemente da maioria dos clubes, ele não sofreu com a perda de associados em razão da expansão dos condomínios verticais com áreas de lazer, tendo atingido o teto do número de sócios e visto explodir o valor da cota, hoje a R$ 10 mil, mas sem disponibilidade para venda, exceto caso algum sócio queira vender. “Apesar de destinados à classe média, a maioria dos prédios da região não tem estrutura de lazer”, justifica o presidente do clube, Felizberto Góes. A manutenção do número de sócios permitiu a aquisição de terrenos nas proximidades para expansão do clube, além da melhoria de instalações, como a construção de piscina aquecida. “Nosso caso não é permitido esse tipo de parceria. Queremos é crescer”, afirma Góes, que, além da expansão, investe na programação social para manter o clube sempre cheio, como festas, torneios de esportes e eventos voltados para crianças e para a terceira idade.
Renda extra limenta retorno
O aumento da renda dos brasileiros nos últimos anos também está na lista de fatores responsáveis por reacender a paixão dos belo-horizontinos por clubes. Com mais dinheiro no bolso, famílias que antes se viram obrigadas a riscar gastos com lazer das contas conseguem reviver momentos do passado. No caso do Iate Tênis Clube, a perda de associados entre meados dos anos 1990 e os primeiros anos do novo século comprova a ligação direta. “A última coisa em que a pessoa investe é o lazer. O clube é um deles. A economia está estável. Ai é hora de tentar atrair”, resume o vice-presidente do Iate, Zaner de Araújo Abreu.
Os preços das cotas de alguns dos principais clubes de Belo Horizonte variam de R$ 600 a R$ 40 mil, cobrados por Labareda e Minas Tênis Clube, respectivamente. Mas na hora de escolher a melhor opção é preciso comparar também o valor mensal dos condomínios e o número de dependentes incluídos em cada plano. No Minas, por exemplo, a mensalidade é de R$ 200 e filhos de até 17 anos pagam apenas R$ 12. Enquanto isso, o Campestre cobra R$ 464, mas é possível incluir na lista de usuários pais e sogros acima de 75 anos, além de os filhos não pagarem acréscimo até os 23 anos. (PRF)