Em dois anos, o Brasil poderá deixar para trás as dificuldades de abastecimento de insulina, hormônio humano responsável pela redução da taxa de açúcar no sangue, indispensável para o controle da glicemia dos diabéticos. Junto com os problemas de logística, deverá ficar no passado a vulnerabilidade do país em relação aos preços do medicamento praticados no mercado internacional. Para isso, pouco mais de uma década depois de ser criada, a Biomm Technology, que nasceu como sucessora da Biobrás, e concentrou-se no desenvolvimento tecnológico e na comercialização internacional desse conhecimento, vai pisar outra vez o chão de fábrica para produzir insulina em Minas Gerais. Para isso, conta com um empurrão dos governos federal e estadual.
A fábrica será instalada em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, com investimentos de R$ 330 milhões e deve entrar em operação no fim de 2014. Entre os sócios da empresa estão os empresários Walfrido dos Mares Guia e Guilherme Emrich – que há 12 anos venderam a Biobrás para a Novo Nordisk –, o BNDES Participações (BNDES Par), detentor de 25,42% das ações preferenciais, e o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BMDG), com 8,8%. O laboratório será, ao lado do ucraniano Indar, que fechou contrato de cooperação com o Ministério da Saúde (MS) por meio do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pela volta da produção do hormônio em território nacional. A iniciativa deixará quase 1 milhão de diabéticos no país mais tranquilos, que dependem da insulina entregue de graça na rede pública para viver.
Somente o contrato com o Indar, que também fabrica insulina recombinante, vai suprir 50% da demanda do mercado público de insulina. Na assinatura do acordo, em 2007, o MS estimava economizar mais de R$ 300 milhões em quatro anos. O diretor do Farmanguinhos à época da assinatura do contrato, Eduardo Costa, diz que o mercado mundial de insulina naquele ano vivia um oligopólio com apenas três fabricantes, dois dos quais atendiam ao MS – a Novo Nordisk e a Lilly. Agora fabricantes chineses já participam das licitações promovidas pelo ministério.
"Comprada a Biobrás, a Novo Nordisk fez o que se esperava. Elevou rapidamente seus preços de fornecimento ao MS e passou a combinar importação e produção local, dependendo de suas vantagens em função dos compromissos internacionais até a paralisação total da produção local", diz Hayne Felipe da Silva, atual diretor da Farmanguinhos. A Novo Nordisk diz que produz em sua fábrica de Montes Claros, no Norte de Minas, o cristal de insulina e faz também o envasamento do medicamento.
A Biobrás, fundada em 1976 pelo cientista Marcos Mares Guia e pelo engenheiro Guilherme Emrich, foi comprada pela dinamarquesa Novo Nordisk por US$ 75 milhões em dezembro de 2001, mas a transação só foi liberada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em agosto de 2003. A empresa dominava o mercado nacional de insulina recombinante – insulina humana produzida em bactérias transgênicas – e faturava na época cerca de R$ 50 milhões ao ano. A Biobrás tinha mais acionistas do que funcionários. No auge da operação, eram 500 empregados e 600 acionistas.