Depois de um longo período de ostracismo devido às perdas de associados em razão da construção de condomínios equipados com áreas de lazer, os clubes esportivos e sociais se reinventam e conseguem resgatar antigos cotistas. Numa mudança radical de concepção, na qual os sócios têm à disposição espaços que extrapolam em muito piscinas e quadras esportivas, os clubes alteram o perfil e criam áreas e serviços para que os usuários se sintam em casa. A consequência é a valorização de quase 2.000% das cotas e o aumento do número de associados em mais de 40%.
Em busca da transformação dos clubes em um pedacinho da casa dos associados, as diretorias investem pesado em atividades diferenciadas para garantir conforto aos associados. Academias de ginástica, aulas de ioga, pilates, artes marciais, reforço escolar, equipe de corrida e até cabeleireiro estão entre as atividades incluídas na lista de serviços prestados pelos clubes. E mais: a vasta programação social (shows, festas, campeonatos etc.) aproxima o associado, fortalecendo o conceito familiar.
Prova da volta do por cima, o Pampulha Iate Clube (PIC) passou anos de certo esvaziamento, com antigos sócios entregando cotas. Além do fator área de lazer, no caso do PIC, assim como de outros próximos (Iate, Clube Belo Horizonte, Libanês), pesava ainda a distância em relação ao Centro. Para mudar o rumo, a direção decidiu investir em espaço para crianças, com berçário e um setor de três andares com atividades voltadas somente para o público infantil, além de agregar serviços para os pais, como atendimento informatizado de restaurante e bar molhado, entre outros. “O clube é uma opção segura de lazer para as famílias, diferente dos shoppings”, afirma o presidente do PIC, Edison Simão.
Na comparação entre 2009 e 2012, os visitantes anuais tiveram alta de 176%, passando de 250 mil para 440 mil. Além dos investimentos, uma forma de aumentar o número foi a formatação de um programa para atender filhos de sócios e antigos cotistas. O programa permite aos dois perfis frequentar o clube sem necessidade de adquirir cota. Com isso, mais de 1,1 mil associados já retornaram ao clube. O empresário Euler Fuad é um dos antigos sócios que voltaram a frequentar o PIC com a família. Pelo menos uma vez por semana ele está no clube. Seja para usar a sauna, caminhar, jogar futebol com o filho, almoçar com a família, tomar drinques com os amigos ou até mesmo cortar o cabelo. Fuad “não achava boa a programação, e a evasão de sócios era grande”. Foi o que provocou sua saída, há mais de uma década. A mudança de comportamento das últimas diretorias, segundo ele, deu novo gás. “A nova administração revigorou o clube. São festas e eventos mais integradores, além de uma oportunidade de mais contato com os filhos”, afirma o empresário.
O modelo de associado temporário ou usuário se repete em boa parte dos clubes que não atingiram o limite de cotistas estabelecido no estatuto. Cada um à sua maneira, Iate, Mackenzie, Recreativo e Ginástico criaram o programa também para reforçar o caixa, tendo em vista que a mensalidade é a principal fonte de renda dos clubes. “O programa é uma forma de atrair mais sócios. Normalmente é só uma pessoa solteira que pode chamar amigos”, explica o presidente do Esporte Clube Ginástico, Márcio Tibo. O clube tem aproximadamente 50 sócios-usuários, o que representa cerca de 15% do total de cotas.
“Os clubes passaram por crise por causa da mudança do perfil da classe média. Antes, a opção de lazer nos condomínios era mais restrita”, afirma o conselheiro da Câmara do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI-MG), Ariano Cavalcanti de Paula. Além disso, diz ele, as famílias foram obrigadas a cortar despesas e a maioria dos clubes acabou ficando sucateada, devido à diminuição do número de sócios. “Com isso, ficaram sem capacidade de investimento”, observa Ariano de Paula. Mas como a maior parte dos empreendimentos está em áreas nobres e valorizadas, ocorre certa inversão. “Está ocorrendo uma reestruturação para voltar a atrair os associados”, diz.
SEGREDO DO SUCESSO O Minas Tênis Clube é um dos poucos que conseguiram evitar uma década de marasmo, com a inclusão de dezenas de serviços e principalmente a excelência nos esportes e a proximidade de atletas de renome no dia a dia. Prova disso é que o valor da cota familiar teve variação astronômica. Enquanto há pouco mais de 10 anos era preciso pagar cerca de R$ 2 mil para se associar, hoje o valor é de R$ 40 mil, mais que suficiente para comprar um carro popular. “Um clube é uma entidade de prestação de serviços. É preciso ter atividades para todas as idades para que a pessoa tenha um ganho sendo sócio. Não basta piscina e quadra, porque qualquer condomínio hoje tem”, afirma o presidente do Minas, Sérgio Bruno Zech Coelho.
O aposentado Lincoln Grecco aproveita com afinco as incontáveis atividades disponibilizadas. “O clube é a extensão da minha casa”, relata ele, que todos os dias atravessa a Rua Antônio de Albuquerque para ir à unidade de Lourdes do Minas, onde pratica pilates, faz musculação e se prepara para sua 112ª corrida. “Fico mal quando não vou ao clube. É lá que me sinto bem”, afirma ele, que parou de jogar peteca para evitar problemas musculares, depois de 25 anos de quadras. Enquanto isso, a mulher, Anilde, as três filhas e os sete netos aproveitam piscina, quadras e curtem outras atividades.