Depois de ser tombado como patrimônio do estado e do país, o queijo artesanal feito em Minas vai ser a grande estrela do programa australiano Cheese slices, série internacional focada em queijos produzidos a partir do leite cru, e transmitida para 22 países. Comandado por um superespecialista no assunto, o australiano Will Studd, o Cheese slices escolheu o templo do queijo canastra para iniciar suas filmagens. No Mercado Central, Studd, que veio ao Brasil atraído pelo produto mineiro, experimentou um típico queijo meia-cura e aprovou. De certa forma, sua observação traduz o paladar do mineiro, que só no Mercado Central garante a venda de mais de 5 mil quilos de queijo por dia: “Muito bom. O gosto é intenso e pode ser um queijo muito viciante. Uma vez que você prova é difícil parar de consumi-lo.”
Os queijos artesanais de Minas farão a abertura da nova série de episódios do Cheese slices que vai ao ar no ano que vem, mostrando produtos de outros sete países. O programa já foi assistido por 35 milhões de espectadores e traduzido para 11 línguas. “Viemos até o Brasil para provar o queijo canastra e mostrar ao mundo esse produto”, diz
Studd, que há mais de três décadas trabalha como especialista em queijos e já foi premiado pelo governo francês. Ele elogiou o sabor diferenciado de todos os produtos que provou, inclusive do requeijão com raspas.
“O queijo canastra representa as regiões onde é fabricado, a habilidade dos fazendeiros, a variedade da produção, a história, garante a continuidade da agricultura familiar e mantém a identidade de toda uma região. Veja bem, ainda assim é ilegal”, diz o especialista australiano defendendo o processo de fabricação, que em alguns países, como o Brasil, esbarra na legislação.
No ano passado, a Lei Estadual 14.185, que proibia a venda do queijo meia-cura, foi revogada pela Lei 20.549. As regras sanitárias foram mantidas, mas o queijo, que representa 99% da produção do estado, antes proibido, poderá ser comercializado após regulamentação do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). O órgão trabalha em pesquisas para definir a partir de quantos dias de maturação o meia-cura poderá ser liberado para a venda. “A lei estadual legaliza o comércio dentro do estado e deve ser regulamentada no ano que vem”, explica João Carlos Leite, produtor e presidente da Associação de Produtores de Queijo da Serra da Canastra.
Sem balança que dê a medida exata da produção artesanal, a receita passa de pai para filho nos quatros cantos de Minas. Com 27% da produção nacional, o estado é dono da maior bacia leiteira do país e também é o maior produtor de queijos a partir do leite cru. Aluísio Marques, consultor da ONG SerTãoBras, trabalhou em um levantamento da produção e estima que no Mercado Central mais de 5 mil quilos de queijo sejam vendidos por dia. “Minas sempre viveu o conflito da liberdade responsável com o controle excessivo.” Que o diga Cláudio Costa, que antes de nascer estava no Mercado Central, onde sua mãe, grávida, já vendia os famosos queijos no comércio da família, a Casa Costa, fundada em 1958. “Em dias de movimento chegamos a vender 300 quilos por dia. A prateleira rapidamente fica vazia.” Edmilson da Fonseca, que trabalha há 13 anos na Queijaria Salim, confirma o sucesso do queijo.
“Mesmo com uma lei que proíbe a venda do queijo, olhem para isso, os consumidores garantem o mercado e compram”, comemora o apresentador australiano. O empresário Breno Castilho se considera dependente do queijo artesanal mineiro feito na Serra da Canastra. “Tem sabor diferenciado. Já visitei a região onde é feito e fiquei impressionado com a dedicação e carinho dos produtores.” A série Cheese slices está no ar mostrando a rota mundial do queijo desde 2004. “Quanto mais artesanal, mais sabor”, garante Studd.