Resistente e em nível elevado, a inflação ainda não arrefeceu como o esperado, pelo contrário, interrompeu o ciclo de desaceleração, situação que, para os economistas, acende um alerta. A prévia da carestia oficial, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15), se elevou entre março e abril, subiu de 0,49% para 0,51% – acima das expectativas do mercado, cuja mediana era de 0,46%. Alimentos, habitação e serviços continuaram a pressionar. Com o desempenho desses grupos, sete em cada 10 preços aumentaram em abril. Além disso, a inflação acumulada em 12 meses está acima da meta em seis das 11 capitais pesquisadas. Em Belo Horizonte, a taxa registrou alta de 0,71% em abril – a segunda maior do país – e acumula elevação de 6,79% em 12 meses.
O receio dos especialistas é que, diante da piora do indicador, o número fechado do mês também surpreenda para pior e deixe o acumulado em 12 meses ainda acima da meta de inflação, de 6,5%. Na prévia do mês, o indicador, nessa base de comparação, estourou o teto da meta ao passar de 6,43% para 6,51%. A avaliação, seja entre economistas ou consumidores nos supermercados, é que os preços não cedem. “A alta dos alimentos vem desacelerando, mas a um ritmo aquém do esperado, sugerindo maior persistência. Os núcleos da inflação voltaram a subir, assim como os serviços”, ponderou Elson Teles, economista do Itaú Unibanco.
Não fosse o resultado do frango, que ficou 2,04% mais barato no mês, e dos preços das carnes, que diminuíram em 2,58%, o resultado do IPCA-15 teria sido ainda pior. Para Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, começa a chegar ao consumidor a queda dos preços no atacado, sobretudo de ovos e aves. “Isso pode fazer com que o frango seja o herói da inflação substituindo o vilão tomate nos próximos indicadores”, argumentou.
Pressão
O economista pondera, entretanto, que, apesar do arrefecimento em alguns itens, é possível observar nos dados a existência de uma pressão causada por um consumo ainda intenso. Nos cálculos dele, 32% do índice cresce a uma taxa acima de 8%, o que coloca em risco a missão da autoridade monetária de manter os preços sob controle. “A inflação vai fechar o ano mais baixa que em 2012, mas o BC sabe que tem uma parte da inflação que independe de desonerações e do choque de oferta”, observou. “O fato de ter subido juros (Selic) mesmo com todas as desoneraçõe em curso é uma prova cabal de que o BC tem o diagnóstico correto. Ele está preocupado com os serviços”, disse.
Para os especialistas, as pressões inflacionárias estão longe de se dissipar porque os salários vão continuar a crescer acima da produção. A regra do salário mínimo, que garante ganho real para os trabalhadores até 2015, reforça a disparidade que existe entre produtividade e ganho de renda. Integrantes da equipe econômica, nos bastidores, têm se incomodado com as regras do mínimo pelo custo fiscal e por ser mais um indexador para a economia que dificulta o trabalho da política monetária. A avaliação desses economistas, porém, é que não haverá mudança até 2015, o primeiro ano de mandato de quem vencer a eleição de 2014.
Demanda
“Não é só choque de oferta. A inflação de alimentos tem forte componente de demanda”, avaliou Zeina Latif, economista e sócia da Gibraltar Consulting. Ela e outros economistas ouvidos pelo Estado de Minas explicam que o perigo de permitir o crescimento da inflação é de ela consolidar patamares elevados de preços, ou seja, se houver um choque severo de oferta de produtos, o Banco Central terá pouca margem para reequilibrar a economia.
O BC, diante desse quadro e preocupado com a resistência inflacionária, elevou os juros básicos em 0,25 ponto percentual na quarta-feira, movimento que tirou a Selic de 7,25% ao ano — piso histórico — para 7,50% ao ano. Entre os produtos que mais subiram na prévia da inflação de abril, destacam-se o tomate, que subiu 16,62%; a cebola, com alta de 17,29%; o feijão carioca (7,28%) e a farinha de mandioca (3,44%).
Mantega
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defenderá hoje, na reunião do Comitê Financeiro e Monetário Internacional (IMFC, na sigla em inglês), que os países emergentes também devem ter liberdade para usar políticas não convencionais para neutralizar efeitos da crise financeira internacional e manter aquecidos seus mercados domésticos. Isso inclui a utilização de mecanismos de controle de capitais, os quais, segundo ele, o Fundo Monetário Internacional (FMI) “tolera com relutância”.