Brasília – O Banco Central vai continuar a subir a taxa de juros em maio. Esse é o principal recado da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de abril e do diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton Araújo. O executivo, durante discurso em São Paulo, foi mais enfático que o documento divulgado pelo BC e causou reações no mercado futuro, em que cresceram as apostas de alta da taxa básica (Selic), hoje em 7,5% ao ano. No jargão dos economistas, Hamilton trocou a plumagem de pombo por uma de falcão, passou a ser classificado como hawkshi, termo em inglês que adjetiva as autoridades monetárias mais severas com a carestia. O Banco Central, na ata, deixou claro ainda que a atual política monetária tem como alvo a inflação em 2014, cuja projeção foi elevada frente a reunião anterior do Copom.
Depois da divulgação de uma ata que foi considerada coerente com a decisão tomada pela diretoria do BC na reunião da semana passada, que enfatizou mais uma vez a necessidade de cautela na condução da política monetária, Carlos Hamilton surpreendeu e atacou a inflação. “Gostaria de registrar que cresce em mim a convicção de que o Copom poderá ser instado a refletir sobre a possibilidade de intensificar o uso do instrumento de política monetária (da taxa Selic)”, afirmou
Contradição
Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos, considerou a fala de Carlos Hamilton contraditória à cautela que, na visão dele, permeia todo o texto da ata da reunião do Copom. “O BC se tornou expert em dar sinais contraditórios”, criticou. “Depois de uma ata dovish vem o Carlos Hamilton e dá uma declaração desse quilate”, disse. Para os analistas, a despeito do respeito que o diretor tem dentro do Banco Central, a fala dele pode ter sido apenas uma visão pessoal de que a inflação exige medidas mais duras, não uma posição do colegiado.
Na fala do diretor, chamou a atenção ainda o cálculo de potencial de crescimento para o Brasil. Segundo ele, devido ao nível de investimentos do país, a economia tem condições de crescer apenas em torno de 3,1%, a previsão oficial da instituição. Na visão dele, se o Produto Interno Bruto (PIB) for maior que isso, crescem também as pressões inflacionárias. Ele projetou ainda que o país avançou 1% no primeiro trimestre de 2013, o equivalente a 4% em termos anualizados.
O diretor listou ainda os motivos para a inflação estar elevada e ter estourado o teto da meta, de 6,5%, em março. Na lista descrita por ele, apenas um motivo não pode ser considerado de responsabilidade do governo: os choques desfavoráveis domésticos e externos. Todos os outros elementos que pioraram o custo de vida no último ano ocorreram por causa de decisões da equipe econômica, como a desvalorização do real frente o dólar, o aumento do salário mínimo acima da produtividade, a política fiscal expansionista e a política monetária de redução de juros.