O adversário mexicano do brasileiro Roberto Azevêdo à direção geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Herminio Blanco, disse à AFP que pretende recuperar o papel de liderança mundial da instituição. "O principal desafio é o 'M' de OMC, a palavra mundial", declarou, em entrevista concedida oito dias antes do encerramento da campanha eleitoral para a escolha do próximo diretor-geral.
"As negociações da Rodada de Doha para facilitar o acesso os países mais pobres ao comércio internacional, inciada em 2001, estão em ponto morto há vários anos, já que alguns países e regiões apenas negociam acordos bilaterais", lembrou.
Diante desta situação, devem ser encontrados os meios para "transferir toda esta energia para Genebra", sede da OMC, com o intuito de mostrar que esta organização tem verdadeira utilidade, com vocação mundial. Blanco, de 62 anos, é ex-secretário (ministro) mexicano do Comércio, e disputa o cargo de diretor-geral da OMC com o brasileiro Roberto Azevêdo. O vencedor substituirá o francês Pascal Lamy, que conclui seu segundo mandato em meados de agosto.
Roberto Azevêdo, de 55 anos, é atualmente embaixador do Brasil na OMC. O nome do candidato vencedor, escolhido por consenso, será decidido na próxima semana, em 7 ou 8 de maio, após a última rodada de seleção em Genebra entre os 159 membros da OMC.
Para Blanco, a OMC deve se questionar sobre "o que será o comércio em 10 ou 15 anos" e "se adaptar à nova situação no mundo do comércio internacional". "Nos últimos anos, as barreiras e os obstáculos ao comércio se mostraram muito mais sofisticados", declarou, explicando que a OMC deve abandonar sua atitude "defensiva e mudar", caso queira conservar um lugar de líder.
Perguntado sobre suas bases para manter-se no posto, disse ter uma tripla experiência: como negociador, como ministro e como responsável no setor privado. "Fui ministro em um período muito difícil para o México, em 1995", disse, considerando que isso será muito útil para "falar com chefes de estado ou de governo, assim como ministros".
Blanco também lembrou que realizou "negociações muito difíceis com Estados Unidos, Europa, Japão e América Central". E o fato de ser mexicano, país que saiu da crise graças ao comércio, é uma base também, afirma Blanco. "O México considerou o comércio como uma ferramenta muito eficaz para seu desenvolvimento".
Hoje, Blanco diz contar com o apoio de mais de cem países da África, Ásia, Europa e América. "A campanha continua, temos grandes chances de vitória, mas sigo concentrado até o final", prometeu. Em uma semana, o candidato mexicano viajou para Haiti, México, Genebra e Bruxelas.
Nove candidatos fizeram campanha para substituir Lamy, sendo três latino-americanos: Blanco, Azevêdo e a costarriquenha Anabel González, ministra do Comércio Exterior. O próximo diretor geral virá da América Latina pela primeira vez na história da organização, criada em 1995. Os candidatos eliminados no primeiro turno representavam Quênia, Gana, Jordânia e a Costa Rica. No segundo turno, foram eliminados três candidatos, vindos de Indonésia, Coreia do Sul e Nova Zelândia.