As duas centrais sindicais de Portugal promoveram manifestações separadas no mesmo horário (14h30 hora local) em regiões diferentes de Lisboa, para marcar a passagem do Dia do Trabalho. A Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) fez uma passeata do Largo Martim Moniz à Alameda D. Afonso Henriques contra o empobrecimento e contra o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho; a União Geral dos Trabalhadores (UGT) percorreu a Avenida Liberdade, no centro da cidade , pedindo uma política de crescimento e mais empregos.
A separação das duas centrais e a diferença de tom nas manifestações tem a ver com a orientação política de cada uma delas. A CGTP, criada em 1970, tem vínculo histórico com o Partido Comunista Português e a UGT, que surgiu em 1978 tem na sua direção quadros dos partidos Socialista e Social-Democrata. As duas correntes são as maiores de Portugal, desde a redemocratização do país se alternam no poder e já estiveram coligadas para compor maioria parlamentar.
As duas centrais enfrentam a pior crise econômica que Portugal vive desde a Revolução dos Cravos (1974), quase 1 milhão de pessoas estão desempregadas. O país tem a terceira pior taxa de desemprego (17,5%) da Europa. Dados divulgados ontem (30) pelo Eurostat mostram que a taxa de Portugal só é inferior à da Grécia e à da Espanha (em torno de 27%).
Nos 27 países da União Europeia, a taxa de desemprego é de 10,9%; e nos 13 países onde circula o euro, a taxa de pessoas sem trabalho é 12,1% - No Brasil, nas seis principais regiões metropolitanas, a taxa ficou em 5,7% em março, próxima ao percentual da Alemanha, 5,4%, a principal economia europeia.
Amanhã (2) as duas centrais se reúnem com empresários e com o governo no Conselho Econômico Social (CES) para discutir a chamada Estratégia de Crescimento, Emprego e Fomento Industrial elaborada pelo gabinete de Pedro Passos Coelho. A estratégia a ser submetida à Assembleia da República para aprovação pode influenciar na atuação do governo, que em quase dois anos de mandato deu prioridade às medidas de austeridade exigidas pelos credores internacionais: cortou investimentos, aumentou impostos e diminuiu gastos sociais.
Recentemente empossado como secretário-geral da UGT, o sindicalista Carlos Silva disse à Agência Brasil que vai à reunião disposto a negociar. “Ser proativo é continuar disponível para a negociação e para o diálogo; mas é também mobilizar os trabalhadores para defenderem as suas conquistas desses últimos 39 anos. Não é um consenso a qualquer preço”.
A data de 1º maio, além de ser o Dia do Trabalho, tem um especial significado para Portugal. Nesse dia em 1974, os portugueses fizeram uma grande manifestação de massa - ainda hoje considerada a maior da história do país - para comemorar a queda do regime do Estado Novo, implantado em 1933.