Com a expectativa de uma possível normalização das vendas dos bens não duráveis a partir do segundo trimestre, os empresários do comércio estão um pouco mais otimistas sobre o desempenho do setor nos próximos meses. É o que indica a sondagem elaborada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) por meio de uma pesquisa com 1,232 mil empresas em abril deste ano. "As expectativas do segmento estão menos negativas. Há algumas sinalizações de que o ambiente está mudando", afirmou o superintendente adjunto de Ciclos Econômicos do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), Aloisio Campelo Junior.
Os dados da sondagem mostram que o comércio passou do primeiro trimestre de 2013 para o segundo trimestre do ano com um ritmo ainda mais fraco na comparação com o ano passado, em razão da desaceleração das vendas dos bens duráveis com a retomada gradual do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Tanto que o Índice de Confiança do Comércio (Icom) passou de uma queda de 2,3% no trimestre findo em março para baixa de 2,9% no trimestre encerrado em abril, refletindo o cenário atual do setor.
Porém, olhando para o futuro, os sinais são um pouco melhores. Prova disso é que o Índice de Expectativa passou de uma queda 6,4% no trimestre findo em março deste ano para -5,2% no trimestre encerrado em abril de 2013. Analisada a comparação mensal, o índice passou de -8,9% em março para -1,3% em abril. "Esse parece ser o primeiro sinal significativo de mudança de ânimo em relação aos meses seguintes, no sentido do setor estar menos pessimista e mais neutro em relação ao futuro", afirmou Campelo Junior.
Para o especialista, a acomodação da inflação, a desoneração dos itens da cesta básica e o crescimento da renda da população tendem a recuperar as vendas dos bens não duráveis, o que traz um sinal um pouco melhor para o setor do Comércio. "O segmento de bens duráveis terá um comportamento mais volátil", acrescentou. Muito dessa volatilidade se deve às incertezas sobre a política de desoneração fiscal promovida pelo governo. Para o setor de automóveis, por exemplo, a prorrogação do IPI reduzido até o fim do ano teve um efeito positivo nas vendas de veículos.
Além das incertezas sobre as medidas do governo para incentivar a indústria de bens duráveis, outros fatores que limitam o crescimento desse segmento são a retomada do ciclo de alta da taxa de juros e o alto endividamento das famílias. "As desonerações fiscais em 2012 anteciparam o consumo dos bens duráveis, e as famílias ficaram endividadas", explicou Campelo Junior.
A percepção dos empresários para as vendas de materiais para construção teve uma melhora. O Índice da Situação Atual (ISA) para este item passou de -12,1% em março para -2,1% em abril. Embora ressalte a importância de se olhar a consistência desse número nos próximos meses, o economista disse que essa melhora pode estar ligada aos investimentos com mobilidade urbana, aos projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e ao próprio ciclo de investimentos da construção civil, que teve um boom nos últimos anos no País.
Outro indicador que reforça esse quadro de início de recuperação do setor é o sobre a tendência das vendas previstas. Segundo a pesquisa, o porcentual dos que acreditam em vendas mais fortes nos próximos meses passou de 45,2% em março para 50,2% em abril. "As expectativas melhoraram. Existe uma percepção de que, nos próximos meses, as vendas voltarão a se normalizar. Houve desaceleração nos últimos meses, embora o setor venha mantendo uma taxa de crescimento forte nos últimos anos", afirmou Campelo Junior.
Apesar desse cenário, o economista não trabalha com a expectativa de que o desempenho do setor em 2013 supere o resultado de 2012, em função do ritmo mais lento da atividade no começo deste ano.