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Estado de Minas

Latino-americano comandará a OMC pela primeira vez

Brasileiro é eleito diretor-geral da Organização Mundial do Comércio


postado em 08/05/2013 06:00 / atualizado em 08/05/2013 07:44

Roberto Azevêdo derrotou mexicano com apoio de países emergentes e com votos em todos os continentes(foto: FABRICE COFFRINI/AFP %u2013 31/1/13)
Roberto Azevêdo derrotou mexicano com apoio de países emergentes e com votos em todos os continentes (foto: FABRICE COFFRINI/AFP %u2013 31/1/13)

Com o apoio massivo e decisivo dos países emergentes, o diplomata brasileiro Roberto Carvalho de Azevêdo será o próximo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). É o cargo mais alto ocupado por um brasileiro na diplomacia mundial. Azevêdo assume em 1.º de setembro, para um mandato de quatro anos, um velho sonho do Itamaraty. Ontem, a OMC concluiu o processo, que envolveu nove candidatos. Azevêdo recebeu o maior número de votos e também o apoio de países em todos continentes – condição para que um candidato fosse escolhido. Na fim, Azevêdo superou a votação recebida pelo mexicano Hermínio Blanco, que tinha o apoio dos Estados Unidos e da Europa e era visto como o preferido dos países ricos.

A escolha de Azevêdo para a diretoria da OMC é mais do que o fortalecimento do Brasil no cenário internacional. A vitória dele muda o xadrez político global e dá mais poder às economias emergentes. Pela primeira vez os países pobres derrubam a vontade das nações chamadas desenvolvidas e, a expectativa é de que, a partir de agora, a OMC olhe mais atentamente para essas regiões. É um resultado importante. Os países emergentes demonstram capacidade de liderança. Uma liderança que tem apoio no mundo em desenvolvimento, mas com reconhecimento no mundo desenvolvido", afirmou o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota.

Com a vitória, Azevêdo se tornou o primeiro latino-americano a chefiar a entidade desde sua criação, em 1995. Apesar do apoio dos países emergentes e pobres, e de ter chegado ao posto contra o desejo dos EUA, o novo diretor-geral da OMC deve ter pouco espaço para promover mudanças mais intensas na entidade. “O fato de ele ter sido escolhido por países pobres fará com que ele tenha um olhar diferenciado para as economias dessas regiões, diferente do que outros teriam. Não quer dizer, porém, que vai fazer grandes alterações. Existem forças poderosas e ele precisará negociar com elas”, observou Haroldo Mota, professor de economia da Fundação Dom Cabral.

Para Fernando Sarti, coordenador do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a chegada de Azevêdo à OMC reforça a tese do Itamaraty de que os países em desenvolvimento têm um novo protagonismo nas relações internacionais. “A fase de excessiva passividade e de uma subaproveitação desses países nos organismos internacionais passou. A estrutura antiga caducou diante de uma nova dinâmica na estrutura econômica mundial”, argumentou.

Nova agenda


Segundo Sarti, a vitória do brasileiro pode significar uma nova agenda para a OMC. “Simboliza a força da demanda dos países em desenvolvimento por uma mudança na ordem internacional e por uma participação mais adequada e condizente com um protagonismo já assumido do ponto de visto econômico, de investimentos, de fluxos de comércio.”

O resultado do pleito, que durou seis meses e atraiu nove candidatos — até agora o maior número na história da OMC — , será anunciado ao público hoje. Azevêdo deve ser confirmado como diretor-geral em uma reunião em 14 de maio. Geraldo Nunes, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), estava descrente na vitória do brasileiro. “Achei que ficaria complicado vencer. Pensei que os votos dos países ricos iam pesar mais”, disse. “A vitória fortalece os Brics e demonstra para a comunidade internacional a importância desse bloco no comércio mundial”, avaliou.

Ainda na visão de Nunes, o brasileiro deve seguir um caminho desenvolvimentista, ao contrário do oponente derrotado, o mexicano Hermínio Blanco. “O Azevêdo fazia parte do grupo dos desenvolvimentistas, que defendem uma negociação mais ampla entre os parceiros. A crise na Zona do Euro certamente influenciou no resultado”, analisou.

Engenheiro negociador


Brasília – A candidatura de Roberto Carvalho de Azevêdo para disputar a Organização Mundial do Comércio (OMC) nasceu a partir das sugestões de países membros do órgão que trabalham em Genebra, na Suíça. O escolhido da presidente Dilma Rousseff era o único dos candidatos a falar fluentemente as três línguas oficiais da OMC: inglês, francês e espanhol, e isso também ajudou no seu desempenho em relação aos concorrentes. Ele atua no órgão desde o fim dos anos 1990.


O engenheiro Azevêdo, de 55 anos, é visto no Itamaraty como o melhor negociador do Ministério das Relações Exteriores (MRE) hoje em exercício. O embaixador é, inclusive, considerado capaz de chegar ao cargo de ministro, de acordo com fontes palacianas.

Há pouco mais de dez anos, o então secretário Roberto Azevêdo ocupava uma mesa modesta na missão do Brasil em Genebra, onde mal cabiam todos os papéis e que ainda tinham de dividir espaço com um modelo de um avião da Embraer. Ele, na época, trabalhava na disputa entre Brasil e Canadá por conta dos subsídios aéreos. Uma década depois, ocupa o cargo mais importante do comércio internacional, numa carreira meteórica.

Azevêdo entrou no MRE em 1984 e teve uma carreira bastante peculiar. Chegou ao cargo de secretário adjunto de Assuntos Econômicos e Tecnológicos da pasta antes mesmo de se tornar embaixador, em 2007. Participou da Rodada Doha, de negociações livre comércio, desde o seu lançamento, em 2001. Isso, para ele e para especialistas, é um dos seus principais pontos a seu favor, pois já conhece a forma como todos os países-membros se comportam à mesa de discussões multilaterais.

Os mais próximos acham que o fato de Azevêdo ser libriano o ajuda a ser equilibrado na diplomacia. Além disso, destacam que ele tem o toque de Midas. "Ele é bom em tudo o que faz. Desde o trabalho, além do futebol, passando pelo tênis até a natação", revelou um colega de longa data no Itamaraty que pediu anonimato. Se não tivesse seguido a carreira de diplomata, ele poderia ter sido tenista profissional, contam.

A retomada de Doha é a sua principal bandeira, já que o novo chefe da OMC conduzirá o principal encontro ministerial do órgão, em dezembro, em Bali, na Indonésia. "Nas nossas atuais circunstâncias, não creio que tenhamos o tempo de treinar o próximo diretor-geral para exercer o cargo", disse Azevêdo durante o anúncio da sua candidatura, quando esteve no Brasil, em dezembro. "Minhas credenciais me fazem confiar que posso ajudar os membros", completou, à época.


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