São Paulo – O presidente da Federação Alemã da Indústria (BDI), Ulrich Grillo, fez um apelo velado, nessa segunda-feira, contra medidas de protecionismo na área comercial ao governo brasileiro e ao novo diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevêdo. “Esperamos que Roberto Azevêdo dê novos impulsos à liberdade econômica”, afirmou, na abertura do 31º Encontro Econômico Brasil-Alemanha, evento que marca o início da Temporada Alemanha + Brasil 2013-2014, com cerca de 400 programações envolvendo economia, cooperação tecnológica e manifestações culturais no país até o ano que vem.
Em resposta à crítica do industrial alemão, um dos anfitriões do encontro, o presidente da Confederação Nacional da Indústria(CNI), Robson Braga de Andrade, contestou a visão de um Brasil fechado. “Países como a própria Alemanha são mais protecionistas que o Brasil”, reagiu, argumentando o déficit de pelo menos US$ 6 bilhões da balança de comércio do país. No saldo negativo, Robson Braga destacou a participação de produtos sofisticados e de alto conteúdo tecnológico, como máquinas e equipamentos.
“Isso (o déficit) mostra que o país importa muito mais e na própria balança de comércio com a Alemanha, há vantagens enormes nas exportações ao Brasil”, insistiu o presidente da CNI. O Brasil exportou US$ 7,277 bilhões à Alemanha no ano passado e importou US$ 14,2 bilhões. O país germânico ficou na sexta posição do ranking de principais destinos dos embarques brasileiros em 2012, depois da China, Estados Unidos, Argentina, Países Baixos e Japão, nesta ordem.
Aos participantes do Encontro Econômico Brasil-Alemanha – 2 mil empresários vão se reunir até o fim da tarde de hoje em debates e rodadas de negócios em São Paulo – o presidente da Federação Alemã da Indústria disse que a vitória de Azevêdo demonstrou que o poder econômico do Brasil ganhou importância. O recado de Ulrich Grillo veio em seguida: “Muitos países derrotam barreiras e isso é correto. Fortalecer acordos bilaterais é importante, mas é necessário maior esforço para um acordo dentro da OMC”. O industrial argumentou que o protecionismo é um perigo para a capacidade de concorrência de um país.
Na contramão da crise financeira na Europa, segundo Grillo, a Alemanha passa melhor pela turbulência em relação a outros países e quer estreitar os laços comerciais com o Brasil. Maior parceiro da nação germânica na América Latina, o Brasil sedia negócios de 1,6 mil empresas alemãs, maior grupo fora da Alemanha, empregando 250 mil pessoas. Os investimentos alemães em terras brasileiras acumulam aportes históricos de US$ 30 bilhões, mas de acordo com o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, o Brasil tem de buscar mais ganhos nessas relações.
Dessas 1,6 mil empresas alemãs, 1,2 mil atuam no estado de São Paulo. Skaf destacou que na Alemanha a indústria se constituiu num modelo importante para a economia que pode servir para o Brasil. As pequenas e médias indústrias germânicas representam 99% do setor e respondem por dois terços do Produto Interno Bruto (PIB, é a soma da produção de bens e serviços de um país em determinado período) alemão. Uma das principais metas dos dois países, agora, é transferir o know how alemão de desenvolvimento tecnológico e inovação para o aprimoramento das pequenas e médias empresas brasileiras. Até 2015, as universidades alemãs vão oferecer 10,2 mil bolsas a estudantes brasileiros.
Desafios
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Fernando Pimentel, que também participou da abertura do Encontro Econômico Brasil-Alemanha, evitou a discussão sobre protecionismo e abertura comercial. De acordo com Pimentel, o Brasil e a Alemanha são economias quase complementares, com a diferença de que o país germânico tem uma indústria extremamente madura e inovadora. “O encontro dessas duas economias se dará na área da ciência, tecnologia e inovação, que é para onde caminhamos”, afirmou o ministro. As indústrias alemãs têm particular interesse em investir em logística, portos e aeroportos no Brasil, e em projetos de geração de energias renováveis, como eólica e solar. O presidente da Federação Alemã da Indústria destacou que nesses campos, a economia alemã está bem à frente do Brasil em tecnologia e alertou para os desafios que considerou “colossais” na solução de problemas de infraestrutura e mobilidade urbana.
• A repórter viajou a convite dos organizadores da Temporada da Alemanha no Brasil.
Pequenos e ainda poderosos
O faturamento das micro e pequenas empresas mineiras (MPEs)respondeu por 37,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do estado em 2009, uma queda de 1,6% em comparação com 2002. No período, a participação de todos os segmentos das MPE na economia mineira encolheu, com exceção do setor de serviços. É o que mostra um levantantamento inédito realizado pelo Sebrae Minas em parceria com a Tendências Consultoria Integrada, a Pesquisa Participação das Micro e Pequenas Empresas no PIB de Minas Gerais, realizado em 2012. Na agropecuária, a participação foi reduzida de 76,3% para 71%. Na indústria, saiu de 33,1% para 26,2%. Já no setor de serviços, a fatia passou de 35,8% para 38,1%.
A retração aparente, porém, não significa que houve recuo no desempenho das empresas de micro e pequeno porte. De acordo com Fábio Veras, diretor de operações do Sebrae Minas, entre 2002 e 2009, o valor adicionado das MPEs, que corresponde à formação da riqueza gerada por elas, cresceu de forma ininterrupta. Na indústria, saltou de R$ 10,5 bilhões em 2002 para R$ 19,9 bilhões em 2009. No setor de serviços, saiu de R$ 24,4 bilhões para R$ 58,5 bilhões. No comércio, de R$ 8,4 bilhões para R$ 20,4 bilhões. Na construção civil, foi de R$ 3,2 bilhões para R$ 7,2 bilhões e na agropecuária, de R$ 8,5 bilhões para 16,1 bilhões. No total, nesses sete anos, o valor adicionado pulou de R$ 43,4 bilhões para R$ 94,5 bilhões.
“Não houve desaceleração nas MPEs. A aparente contradição dos números ocorre porque as médias e grandes empresas também cresceram”, explica Veras. Em Minas Gerais, segundo o estudo, as MPEs respondem por 99,2% do total de estabelecimentos formais e empregam 55,8% da mão de obra formal, que corresponde a cerca de 1,65 milhão de trabalhadores. Os cálculos foram feitos pelo Sebrae a partir das informações da Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego (Rais).
De 2009 para cá, a expectativa é de que a fatia de participação dos pequenos negócios tenha aumentado, já que há quatro anos havia 673 mil MPEs no estado e em 2011 esse número saltou para 713 mil, mas ainda não há dados suficientes para medir esse desempenho. Entre 2002 e 2009, a participação do segmento na soma de riquezas produzidas no estado foi puxada pelo desempenho do setor de serviços e pela construção civil. Somente os pequenos negócios que atuam nessa área somaram R$ 94,5 bilhões no estado, no período.