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Estado de Minas

Demanda alta aquece preço da quentinha em BH

Com o tempo cada vez mais escasso e o custo do trabalho doméstico em alta, o marmitex ganha espaço na mesa das famílias. Como resultado, as empresas se multiplicam e o preço dispara


postado em 16/05/2013 06:00 / atualizado em 16/05/2013 07:32

A cozinheira da Marmitex Alkimia, Maria dos Anjos da Silva, trabalha na montagem dos pratos que serão liberados para a entrega(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
A cozinheira da Marmitex Alkimia, Maria dos Anjos da Silva, trabalha na montagem dos pratos que serão liberados para a entrega (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Oferecer soluções para facilitar a logística doméstica é um dos nichos que mais têm crescido no país. As tradicionais quentinhas não são novidade no mercado, mas questões bastante atuais, como o encarecimento da contratação de empregados domésticos, aumentaram ainda mais a demanda pelo serviço e, consequentemente, o preço. Entregues no conforto de casa e sem deixar rastros na cozinha – uma combinação que faz brilhar os olhos de qualquer dona de casa –, as marmitas ainda saem geralmente mais baratas que um almoço em restaurante, mas vale a pena pesquisar. Nas empresas que oferecem o serviço em Belo Horizonte, a variação de preço pode chegar a 50%, com valores que vão de R$ 8 a R$ 12 por um marmitex grande.


De olho no aumento da procura, os fornecedores têm apostado na fidelização dos clientes, seja pela oferta variada no cardápio ou pela possibilidade de efetuar os pagamentos semanal e mensalmente, no caso de quem faz encomendas todos os dias. São estratégias que interessam tanto a pais que passam o dia fora e encomendam o marmitex para os filhos quanto às famílias que ainda conseguem se sentar à mesa mas preferem a comodidade do serviço.

Na casa da dentista Luciana Nogueira, as quentinhas se tornaram a salvação desde que a empregada deixou o serviço. Trabalhando fora quase todos os dias e com filhos de 8 e 13 anos, que têm diferentes horários de aula e atividades extracurriculares, Luciana precisou se adequar à nova rotina. “Normalmente, almoço com minha filha mais nova e deixo a marmita do meu filho mais velho para que ele esquente no micro-ondas quando chegar da escola. Muitas vezes, mesmo quando estou em casa peço também, porque não quero cozinhar nem ter o trabalho de lavar panelas”, explica.

A dentista afirma que o serviço não é barato – ela gasta quase R$ 1 mil todo mês –, mas acredita que a relação custo/benefício compensa. “Vale a pena quando encontramos empresas que prezam pela qualidade do serviço. Já tinha pedido em outras empresas e tive problemas de a comida atrasar muito, por exemplo. Gosto que os alimentos venham arrumadinhos e que tenha legumes e verduras para as crianças.”

Quem fornece os marmitex para Luciana é a empresa Marmitex Alkimia, localizada no Bairro Vila Paris, na Região Centro-Sul. A proprietária, Rosângela Bechelany, abriu a empresa há três anos e, desde então, tem apostado na simplicidade e qualidade dos pratos, a fim de atender clientes de diferentes níveis sociais. A empresária afirma que tem expectativa de ver sua clientela fixa diária aumentar com as mudanças na relação de trabalho entre patrões e empregados domésticos. “Boa parte dos clientes tem diaristas e pede marmitas apenas três vezes por semana, porque, nos outros dias, as refeições são feitas em casa. A maioria, porém, ainda vê a encomenda de marmitex como algo emergencial, somente para cobrir um buraco”, comenta Rosângela, que entrega entre 90 e 110 marmitex por dia, que custam de R$ 10 a R$ 12.

Em casa, a dentista Luciana Nogueira aproveita a praticidade do serviço para ganhar tempo e minimizar o trabalho doméstico(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Em casa, a dentista Luciana Nogueira aproveita a praticidade do serviço para ganhar tempo e minimizar o trabalho doméstico (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Um dos grandes desafios das empresas é trabalhar com um prazo curto entre o pedido e a entrega. Os clientes querem receber a comida no mesmo horário, geralmente ao meio-dia, o que exige uma logística afinada. Alguns estabelecimentos só aceitam encomendas até um certo horário, outros dividem os pedidos em primeira e segunda remessa e há também aqueles que trabalham nos moldes das pizzarias, em que é possível ligar e fazer o pedido a qualquer momento, desde que dentro do horário de funcionamento.

A qualquer hora


Nesse último caso encaixa-se a empresa Novo Sabor, no Bairro Caiçara, Região Noroeste. O proprietário, Éber Junior Silva, investiu em infraestrutura para atender clientes de qualquer bairro da cidade com prazo de 50 minutos a uma hora, entre as 11h e as 14h. “Alugamos um espaço e, em um ano de existência, já tivemos que ampliá-lo para atender a demanda. A casa conta com cozinha industrial, call center, refeitório e lavabo para os 11 funcionários, entre cozinheiros, chefe de cozinha, atendentes, motoristas e motoboys”, afirma o empresário, que vende 1,9 mil marmitex por mês, com uma margem de lucro de R$ 1 por marmita.

A diversidade de opções de pratos do dia e guarnições é uma estratégia para que os clientes não enjoem das marmitas, mas o tradicional arroz com feijão, além da feijoada e do feijão-tropeiro em dias específicos, não podem faltar. Seja como for, algumas famílias não abrem mão de um toque individualizado nas refeições. A professora aposentada Mônica Maria Pimenta faz questão de complementar os marmitex que pede para ela, o marido e o filho com uma salada feita em casa. Esse, porém, é o único trabalho que tem na hora do almoço. “Pode ser que, se eu cozinhasse, ficasse mais barato, mas é o preço que eu pago pela comodidade. Além disso, fazer um sacolão semanalmente não fica menos de R$ 70, fora o preço dos outros alimentos.”

Ronald Resente, proprietário da Tudo de Bom, reclama da concorrência desleal dos informais(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Ronald Resente, proprietário da Tudo de Bom, reclama da concorrência desleal dos informais (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Inflação maior que do quilo

Segundo pesquisa do site Mercado Mineiro que considerou os preços cobrados pelo marmitex em 37 estabelecimentos de Belo Horizonte, a médiaavançou 11,6% entre maio de 2012 e abril de 2013, superando o percentual do quilo de comida nos restaurantes da capital, onde o índice avançou 8,41% no mesmo período. O preço médio do marmitex servido no próprio restaurante saltou de R$ 8,76 para R$ 9,81, enquanto o da comida a quilo passou de R$ 28,63 para R$ 31,04. A inflação oficial do país no acumulado dos últimos 12 meses, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no entanto, foi de 6,49%, bem abaixo das altas do marmitex e da comida a quilo.

Para o diretor-executivo do Mercado Mineiro, Feliciano Abreu, a demanda não pode justificar a alta nos preços. “Nesse segmento, a procura é sempre forte. Só há queda quando os preços estão inviáveis”, afirma. De acordo com ele, a tendência é de que haja um aumento na demanda de famílias que não contam mais com empregadas domésticas.

De acordo com Éber Junior Silva, da empresa Novo Sabor, trata-se de um mercado competitivo, que sofre a influência externa, como o preço dos alimentos. “Há um ano eu conseguia comprar uma saca de feijão por R$ 84. Hoje, pago R$ 145.” Desde o ano passado, ele já fez dois reajustes nos preços dos marmitex, que passaram de R$ 7 para R$ 9, o grande, e de R$ 6 para R$ 7,50, o pequeno.

Para Ronald Seabra Resende, dono da Tudo de Bom, no Bairro Anchieta, Região Centro-Sul de BH, o grande problema é a concorrência com negócios informais. “É a vovó que faz os pratos e o neto que entrega, sem pagar impostos”, questiona. Assim como Éber, Ronaldo se assusta com aumento dos preços dos alimentos, mas sabe que não é possível repassar esse encarecimento ao consumidor final. “Em novembro, comprava o quilo do tomate por
R$ 1,80, e hoje está a quase R$ 10. Porém, só consegui reajustar em 10% o valor dos marmitex, que hoje custam R$ 9 (grande) e R$ 8 (pequeno), quando deveriam custar R$ 11 e R$ 10.”

Além de segurar a alta dos preços, a estratégia de Ronald para manter o número de entregas – entre 100 e 110 marmitas por dia – é distribuir 30 mil panfletos por mês para divulgar a empresa. Já Emerson Ezequiel Fernandes da Silva, dono do recém-aberto Marmitex Dona Rosa, no Barreiro, tem contado com a propaganda dos clientes que já conquistou. Emerson trabalhou por dois anos como motoboy em um restaurante, entregando marmitex, até decidir abrir a própria empresa. “Percebi o aumento do número de entregas e achei que seria um bom mercado. Já tinha a moto e chamei minha mãe para cozinhar os pratos. Acho que o setor está aquecido e é bem promissor.” (Colaborou Carolina Mansur)


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