De olho no aumento da procura, os fornecedores têm apostado na fidelização dos clientes, seja pela oferta variada no cardápio ou pela possibilidade de efetuar os pagamentos semanal e mensalmente, no caso de quem faz encomendas todos os dias. São estratégias que interessam tanto a pais que passam o dia fora e encomendam o marmitex para os filhos quanto às famílias que ainda conseguem se sentar à mesa mas preferem a comodidade do serviço.
Na casa da dentista Luciana Nogueira, as quentinhas se tornaram a salvação desde que a empregada deixou o serviço. Trabalhando fora quase todos os dias e com filhos de 8 e 13 anos, que têm diferentes horários de aula e atividades extracurriculares, Luciana precisou se adequar à nova rotina. “Normalmente, almoço com minha filha mais nova e deixo a marmita do meu filho mais velho para que ele esquente no micro-ondas quando chegar da escola. Muitas vezes, mesmo quando estou em casa peço também, porque não quero cozinhar nem ter o trabalho de lavar panelas”, explica.
A dentista afirma que o serviço não é barato – ela gasta quase R$ 1 mil todo mês –, mas acredita que a relação custo/benefício compensa. “Vale a pena quando encontramos empresas que prezam pela qualidade do serviço. Já tinha pedido em outras empresas e tive problemas de a comida atrasar muito, por exemplo. Gosto que os alimentos venham arrumadinhos e que tenha legumes e verduras para as crianças.”
Quem fornece os marmitex para Luciana é a empresa Marmitex Alkimia, localizada no Bairro Vila Paris, na Região Centro-Sul. A proprietária, Rosângela Bechelany, abriu a empresa há três anos e, desde então, tem apostado na simplicidade e qualidade dos pratos, a fim de atender clientes de diferentes níveis sociais. A empresária afirma que tem expectativa de ver sua clientela fixa diária aumentar com as mudanças na relação de trabalho entre patrões e empregados domésticos. “Boa parte dos clientes tem diaristas e pede marmitas apenas três vezes por semana, porque, nos outros dias, as refeições são feitas em casa. A maioria, porém, ainda vê a encomenda de marmitex como algo emergencial, somente para cobrir um buraco”, comenta Rosângela, que entrega entre 90 e 110 marmitex por dia, que custam de R$ 10 a R$ 12.
A qualquer hora
Nesse último caso encaixa-se a empresa Novo Sabor, no Bairro Caiçara, Região Noroeste. O proprietário, Éber Junior Silva, investiu em infraestrutura para atender clientes de qualquer bairro da cidade com prazo de 50 minutos a uma hora, entre as 11h e as 14h. “Alugamos um espaço e, em um ano de existência, já tivemos que ampliá-lo para atender a demanda. A casa conta com cozinha industrial, call center, refeitório e lavabo para os 11 funcionários, entre cozinheiros, chefe de cozinha, atendentes, motoristas e motoboys”, afirma o empresário, que vende 1,9 mil marmitex por mês, com uma margem de lucro de R$ 1 por marmita.
A diversidade de opções de pratos do dia e guarnições é uma estratégia para que os clientes não enjoem das marmitas, mas o tradicional arroz com feijão, além da feijoada e do feijão-tropeiro em dias específicos, não podem faltar. Seja como for, algumas famílias não abrem mão de um toque individualizado nas refeições. A professora aposentada Mônica Maria Pimenta faz questão de complementar os marmitex que pede para ela, o marido e o filho com uma salada feita em casa. Esse, porém, é o único trabalho que tem na hora do almoço. “Pode ser que, se eu cozinhasse, ficasse mais barato, mas é o preço que eu pago pela comodidade. Além disso, fazer um sacolão semanalmente não fica menos de R$ 70, fora o preço dos outros alimentos.”
Inflação maior que do quilo
Segundo pesquisa do site Mercado Mineiro que considerou os preços cobrados pelo marmitex em 37 estabelecimentos de Belo Horizonte, a médiaavançou 11,6% entre maio de 2012 e abril de 2013, superando o percentual do quilo de comida nos restaurantes da capital, onde o índice avançou 8,41% no mesmo período. O preço médio do marmitex servido no próprio restaurante saltou de R$ 8,76 para R$ 9,81, enquanto o da comida a quilo passou de R$ 28,63 para R$ 31,04. A inflação oficial do país no acumulado dos últimos 12 meses, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no entanto, foi de 6,49%, bem abaixo das altas do marmitex e da comida a quilo.
Para o diretor-executivo do Mercado Mineiro, Feliciano Abreu, a demanda não pode justificar a alta nos preços. “Nesse segmento, a procura é sempre forte. Só há queda quando os preços estão inviáveis”, afirma. De acordo com ele, a tendência é de que haja um aumento na demanda de famílias que não contam mais com empregadas domésticas.
De acordo com Éber Junior Silva, da empresa Novo Sabor, trata-se de um mercado competitivo, que sofre a influência externa, como o preço dos alimentos. “Há um ano eu conseguia comprar uma saca de feijão por R$ 84. Hoje, pago R$ 145.” Desde o ano passado, ele já fez dois reajustes nos preços dos marmitex, que passaram de R$ 7 para R$ 9, o grande, e de R$ 6 para R$ 7,50, o pequeno.
Para Ronald Seabra Resende, dono da Tudo de Bom, no Bairro Anchieta, Região Centro-Sul de BH, o grande problema é a concorrência com negócios informais. “É a vovó que faz os pratos e o neto que entrega, sem pagar impostos”, questiona. Assim como Éber, Ronaldo se assusta com aumento dos preços dos alimentos, mas sabe que não é possível repassar esse encarecimento ao consumidor final. “Em novembro, comprava o quilo do tomate por
R$ 1,80, e hoje está a quase R$ 10. Porém, só consegui reajustar em 10% o valor dos marmitex, que hoje custam R$ 9 (grande) e R$ 8 (pequeno), quando deveriam custar R$ 11 e R$ 10.”
Além de segurar a alta dos preços, a estratégia de Ronald para manter o número de entregas – entre 100 e 110 marmitas por dia – é distribuir 30 mil panfletos por mês para divulgar a empresa. Já Emerson Ezequiel Fernandes da Silva, dono do recém-aberto Marmitex Dona Rosa, no Barreiro, tem contado com a propaganda dos clientes que já conquistou. Emerson trabalhou por dois anos como motoboy em um restaurante, entregando marmitex, até decidir abrir a própria empresa. “Percebi o aumento do número de entregas e achei que seria um bom mercado. Já tinha a moto e chamei minha mãe para cozinhar os pratos. Acho que o setor está aquecido e é bem promissor.” (Colaborou Carolina Mansur)