No lugar de piscinas, quadras e campo de futebol, um condomínio com vários apartamentos. Tradicional ponto de encontro de belo-horizontinos há cerca de 30 anos, o complexo de lazer do América Futebol Clube, na Região da Pampulha, vai dar lugar a prédios residenciais e comerciais. As atividades se encerram no fim deste mês, após a negociação do imóvel de 18 mil metros quadrados com duas grandes construtoras. Outro terreno, que serve de estacionamento para os sócios, também foi negociado para a construção de mais apartamentos e salas comerciais.
O integrante do conselho de administração do América, Paulo Lasmar, disse em entrevista ao em.com.br que os terrenos já eram cobiçados há alguns anos por várias construtoras. Agora, o clube decidiu negociar mais um de seus patrimônios como forma de atrair receita para o clube. "Estamos requalificando nossos ativos imobiliários, como foi o caso do Boulevard Shopping, onde temos um percentual bruto de toda a receita gerada lá. A ideia é transformar nosso patrimônio em algo que gere receita fixa relevante e constante para o clube". Outro patrimônio que promete render lucros elevados para o América é o terreno de Três Barras, localizado no centro de Contagem, com 80 mil metros quadrados. "O América já está negociando a área e espera obter uma renda considerável, que será investida no Centro de Treinamento", disse.
O ponto de partida para o fim das atividades do clube foi a fraca arrecadação. Segundo a administração, a renda mensal gira em torno de R$ 18 mil. "O retorno que temos hoje é muito baixo e a expectativa é ampliar esse valor para R$ 150 a R$ 200 mil por mês", disse Lasmar, que comparou a receita anual do América com a de outros clubes mineiros, como o Atlético e o Cruzeiro. "Nossa renda não chega a nem 10% dos outros clubes, o América precisa de dinheiro".
O valor envolvido nas negociações ainda não foi calculado já que os projetos não foram desenvolvidos, mas conforme o conselho, o América terá direito a 22,5% de cada apartamento vendido. "Em relação às lojas comerciais, ainda não decidimos se vamos ficar com elas ou se compraremos em outros locais, como na Savassi, por exemplo", afirmou.
Por meio de nota, a Direcional Engenharia, que será responsável pela construção do condomínio residencial, não quis dar muitos detalhes e se limitou a dizer que "a negociação com o América está ocorrendo, mas ainda não teve nenhuma formalização". Já a Novolar, do Grupo Patrimar, que ficará com o terreno em frente ao complexo de lazer, confirmou que o projeto foi aprovado pelo conselho administrativo do América, mas disse que a construtora ainda não desenvolveu o projeto. "Vamos construir um prédio residencial e outro comercial, com salas e lojas", confirmou Lucas Guerra Martins, diretor comercial e de marketing da Patrimar.
Sócios e comerciantes se sentem prejudicados
O fim das atividades do clube frustrou a maioria dos comerciantes que trabalham no centro de lazer. Eles pretendem entrar com ação na Justiça contra o América. No local há salão de beleza, academia, lanchonete self-service e butique. Sem dar muitos detalhes, os comerciantes afirmaram que o prazo para o despejo é muito curto. "Esses comerciantes são terceirizados e já sabiam disso há muito tempo, não é surpresa para ninguém", justificou o diretor Paulo Lasmar. Segundo ele, tudo foi feito com aprovação prévia da assembleia de Associados e do Conselho Deliberativo do clube.
Já os sócios foram comunicados sobre o encerramento por meio de carta. A advogada Maria Amélia Vasconcelos frequenta o clube desde 2003 e lamentou: "Fiquei chateada, o clube era muito bom, dava um movimento legal no bairro e atendia a gente que morava aqui perto". O que também preocupa a moradora é o trânsito da Rua Mantena, onde o clube está localizado. "O trânsito aqui é muito perigoso e com as construções dos prédios e o aumento do movimento de moradores pode ser que piore", disse. Segundo a diretoria do América, a parceria com outros clubes da região já está em fase de negociação.