O navio Zumbi dos Palmares, o segundo construído pelo Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Pernambuco, será entregue à Petrobras Transporte S.A. (Transpetro) na segunda-feira, 20, dois meses após apresentar falhas no motor principal. De acordo com fontes ouvidas pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, no teste de mar, feito em março, foi detectada falha no motor. Em julho, uma pane semelhante foi constatada no João Cândido, o primeiro entregue pelo EAS, em maio de 2012, com mais de dois anos de atraso.
O João Cândido e o Zumbi - que entrará em operação na segunda-feira, em cerimônia que contará com a presença da presidente Dilma Rousseff - fazem parte do Programa de Expansão e Modernização da Frota (Promef) da Transpetro. O programa amarga atrasos recorrentes, atribuídos pelas empresas à "curva de aprendizagem" de estaleiros recém-instalados. O EAS faz parte do grupo dos "estaleiros virtuais", assim chamados por serem construídos simultaneamente às encomendas.
Em nota enviada ao Broadcast nesta sexta-feira, a Transpetro negou a dificuldade. "A prova de mar, última etapa antes da entrega de um navio ao armador, comprovou que o motor está em perfeitas condições", diz a empresa, em relação ao petroleiro Zumbi dos Palmares. De acordo com a nota, o cronograma de entrega foi ajustado em função dos atrasos na construção do primeiro navio. Agora, a Transpetro contabiliza o "atraso contratual" de apenas 23 dias. No início do programa, porém, o cronograma previa a entrega da embarcação em 2011.
Os incidentes com os motores dos navios (que seguem projetos idênticos) causaram uma crise entre a subsidiária de transporte da Petrobras e a MAN Diesel, fabricante alemã dos motores dos petroleiros. A preocupação da Transpetro era que o defeito acontecesse em outras encomendas feitas à fornecedora. Em relatório interno, técnicos da Transpetro advertiam para a possibilidade de outros navios, como o Panemax Anita Garibaldi, em construção pelo Estaleiro Mauá, serem afetados.
No caso do João Cândido, o contratempo foi na válvula de descarga do motor principal, equipamento de segurança acionado quando há um excesso de pressão. O episódio motivou, no fim de 2012, uma carta da Transpetro à direção da MAN Diesel, à qual foi encomendado o primeiro lote de cinco motores. Os equipamentos, todos da mesma série, equipariam os petroleiros do tipo Suezmax em construção no EAS.
Cada motor, segundo fontes do setor naval, custa em torno de US$ 8 milhões. Na carta, a Transpetro destaca a perda de confiança no fornecedor e afirma que o embaraço constatado no João Cândido depois que o petroleiro entrou em operação acarretou riscos para a tripulação, o meio ambiente e o navio.
Em dezembro, representantes da diretoria mundial da MAN Diesel estiveram no Brasil, para uma reunião na Transpetro. Três meses depois, o transtorno no motor do petroleiro Zumbi dos Palmares teria sido detectado. Conforme fontes, uma peça de reposição foi enviada, em regime de urgência, da Coreia do Sul, pela Doosan, revendedora autorizada da MAN.
Em 2012, a subsidiária da Petrobras teve dificuldades até mesmo de receber atendimento da Doosan para identificar e solucionar a falha do João Cândido. A Transpetro argumentou, na carta enviada à fornecedora, ter conseguido apenas uma solução temporária da avaria e que o conserto afetou o retorno financeiro esperado do navio.
Na resposta enviada ao Broadcast, a Transpetro destacou que "não possui estaleiros nem constrói navios". "Nossos contratos são de compra e venda, com cláusulas de garantia. Portanto, a compra dos equipamentos cabe ao estaleiro. O Estaleiro Atlântico Sul comprou o motor dos navios encomendados à MAN, o maior e mais tradicional fornecedor de motores de navio em todo o mundo. A contratação do estaleiro foi feita através de licitação internacional por preço fechado. Portanto, o valor do motor, assim como de todos os equipamentos, é uma decisão do estaleiro e não impacta o valor contratado do navio, via licitação."
Parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Promef foi lançado em 2004 e prevê a construção de 49 navios para o transporte de petróleo e derivados. O orçamento é de R$ 10,8 bilhões. Também procurados pelo Broadcast para falar sobre o assunto, o EAS e a MAN não enviaram resposta até a publicação dessa reportagem.