Casar em Belo Horizonte está mais caro e a inflação já chegou às igrejas. Os preços médios para contratação de cerimônias religiosas dispararam nos últimos 12 meses. Na igreja católica, o valor, que era de R$ 405 em maio de 2012, está em R$ 580, com aumento de 43%. Já nos templos evangélicos (para não membros da igreja), os preços subiram de
R$ 712,60 para R$ 891, alta de 25%. Os números são do site Mercado Mineiro, que realizou pesquisa entre os dias 6 e 15 de maio, com 128 estabelecimentos. A inflação dos preços cobrados pelas igrejas para a celebração da união chega a ser seis vezes maior que a inflação oficial do país no acumulado dos últimos 12 meses, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que é de 6,42%. No último ano, o teto cobrado pelas igrejas para celebrar um casamento passou de R$ 400 para R$ 600, o que também desponta como justificativa para a inflação ter chegado até o altar.
Na Cadetral de Nossa Senhora da Boa Viagem, no Centro de Belo Horizonte, a mesma taxa passou de R$ 250 para R$ 600, na última alteração da tabela de emolumentos, definida em maio do ano passado pela cúria metropolitana, órgão administrativo da arquidiocese de Belo Horizonte. Na Cadetral Nossa Senhora de Lourdes, uma das mais procuradas pelas noivas, a celebração passou de
R$ 400 para R$ 600, assim como ocorreu no Santuário São Judas Tadeu, no Bairro da Graça, na Região Nordeste, onde tem o mesmo valor, fora os serviços adicionais.
Embora a maioria das igrejas cobre R$ 600 pela cerimônia, há as que oferecem preços menores que o teto. Segundo a pesquisa, na Paróquia Sagrada Família, por exemplo, a mesma taxa custa aos noivos R$ 450. O vice-chanceler da arquidiocese de BH, padre Nivaldo Magela de Almeida Rodrigues, explica que a tabela estabelece os preços a serem cobrados pelos sacramentos, que vão da gratuidade ao teto, que não pode ser ultrapassado pelas igrejas. “A tabela estabelece o máximo de R$ 600 e o pároco tem liberdade de cobrar menos em casos específicos, se julgar necessário”, explica.
O vice-chanceler reforça ainda que o valor pago pelos noivos é utilizado para a manutenção da igreja. “Temos gastos fixos e custos operacionais. Não somos instituição filantrópica, pagamos todos os tributos, exceto imposto predial”, explica. Nos templos evangélicos, Janaína Garcia, que é secretária da Igreja Metodista Izabela Hendrix, explica que os preços são livres. “Cobramos dois salários mínimos para a sexta e sábado e há desconto de 40% nos outros dias. Cada igreja pede o valor que quer”, diz.
Ainda segundo o Mercado Mineiro, o preço médio de todos os serviços para uma cerimônia religiosa e festa para 300 convidados subiu 11,49%. Se no ano passado os noivos desembolsavam R$ 33.287,34, em média, este ano a mesma cerimônia custa R$ 37.112,58. Vale lembrar que há casamentos que saem bem mais caros, de acordo com o padrão escolhido pelos noivos: há festas acima de R$ 1 milhão.
DETALHES IMPORTANTES Entre os destaques da pesquisa, estão variações de até 2.200% para o aluguel de vestido de noiva, que pode custar de R$ 100 a R$ 2.300 (veja quadro). Para evitar as dívidas e ao mesmo tempo prejuízos emocionais na contratação de serviços de baixa qualidade, o diretor do site de pesquisas Mercado Mineiro, Feliciano Abreu, sugere que o entusiasmo fique de lado na hora da contratação. “A melhor saída é ter um parâmetro de mercado e buscar as referências de outros noivos sobre serviços e fornecedores, negociando dentro da realidade do casal.”
A mais de um ano para o casamento, a advogada Thalita Coelho e o noivo, Henrique da Cunha Pereira, se preparam para não extrapolar o orçamento. “Em se tratando de casamento qualquer reajuste fica além da inflação. Por isso estamos pesquisando muito e não estamos fechando na primeira oferta”, conta a noiva. O casal considera que é importante “controlar os impulsos”. Mesmo assim eles devem gastar cerca de R$ 100 mil para se casar na igreja e fazer uma festa para pouco mais de 200 convidados. Recém-casada, a enfermeira Jussarah Santos conta que para ter o casamento dos sonhos sem comprometer a sua renda foi preciso recorrer a uma prima, que se casou no ano passado. Ainda assim, a noiva se surpreendeu. “A decoradora me cobrou R$ 3 mil a mais pela mesma decoração”, lembra.
O casamento da fisioterapeuta Camila Castro com o médico Otávio Xavier foi em março de 2012. Neste ano, ela tem pelo menos cinco amigas a caminho do altar. “Todas elas estão reclamando dos valores. Tudo subiu muito de um ano para o outro”, conta Camila. “A procura aumenta e colocam o preço que querem. O investimento compensa porque é um momento único e tudo fica lindo”, observa. Para ela, a decoração e o bufê estão entre os itens que mais pesam no orçamento do casamento.
Explosão de apaixonados
Animada com o aquecimento do mercado que segue forte até setembro – mês que também fica entre os preferidos pelas noivas – a gerente da Favaretto Noivas, Simone Comonian, comemora os bons resultados do primeiro ano de funcionamento. “Não temos mais agenda para os sábados até o mês que vem”, afirma. Para atrair a clientela e garantir a venda dos vestidos, Simone conta que um dos segredos da loja é trabalhar com preço único (R$ 1.800) para todos os modelos e um atendimento personalizado.
Ainda dentro das maiores variações apontadas pela pesquisa estão os serviços de cerimoniais. O serviço com um cerimonialista e dois auxiliares de coordenação chega a custar de R$ 622,20 a R$ 1.500, com variação de 141,08%. Já a opção com um cerimonialista e três auxiliares de coordenação apresentou variação de 194,74%, podendo custar de R$ 950 a R$ 2.800.
No mercado há 19 anos, a cerimonialista Regina Tosta lembra que muitos de seus clientes surgem da indicação de amigos. “Não invisto em propaganda e sempre mantenho minha média de clientes”, comemora. No entanto, ela garante que o setor está aquecido e com muitas opções, o que exige atenção redobrada dos noivos. “O mercado de casamento cresceu, expandiu. Muitos profissionais estão entrando e nem todos têm compromisso. É preciso tomar cuidado porque casamento é um momento único para o casal ”, finaliza. (Colaborou Graziela Reis).