A qualidade do atendimento e o fechamento de hospitais pediátricos estão na mira dos usuários dos planos de saúde, ou melhor, das mães dos pequenos usuários dos convênios, que prometem, a partir deste mês, bombardear a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) com uma série de reclamações sobre o serviço, estrangulado nos últimos cinco anos. Ontem, o Hospital Vila da Serra, que seria o 19º na Grande BH a fechar as portas do pronto atendimento (PA) pediátrico, avisou que vai manter o serviço, após anunciar que pretendia fechá-lo este mês.
“A notícia de que o hospital ficará aberto é muito boa, mas é só uma pequena ponta da batalha que temos pela frente”, diz Nathália Bini, mãe de Miguel, de 1 ano e 10 meses, e representante do grupo Padecendo no Paraíso, que reúne no Facebook mais de 2,6 mil mães. Levantamento da Sociedade Mineira de Pediatria (SMP) aponta que o setor enfrenta uma crise, não só pelo desinteresse de médicos. A baixa remuneração, se comparada a outras especialidades, tem provocado o desinteresse também de hospitais, razão do fechamento em série dos chamados PAs. Em nota, o Vila da Serra justifica que interrompeu os seus planos de fechar as portas para as crianças porque conseguiu negociar com os convênios. “Foi estabelecido um acordo com as fontes pagadoras que viabiliza, neste momento, a manutenção dos serviços”, informou o hospital.
Nathália Bini diz que o grupo está recolhendo depoimentos e histórias de mães que não conseguiram atendimento, ou mesmo que enfrentaram via-sacra por hospitais a longa espera. Todos os relatos serão encaminhados à agência reguladora. “O objetivo é pressionar para que a ANS regulamente o atendimento nos plantões, estabeleça um número mínimo de pediatras, o tempo de espera. E que se posicione de forma mais prática, inclusive quanto à remuneração desses profissionais”, diz Nathália. “O tempo das doenças respiratórias chegou e os hospitais ficam mais cheios. Vamos cobrar da ANS uma resposta”, avisa.
“O fechamento do (pronto atendimento pediátrico do) Hospital Vila da Serra tornaria ainda mais difícil o já deficitário atendimento na capital”, reforça Raquel Pitchon, presidente da Sociedade Mineira de Pediatria. O presidente da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), Lincoln Lopes Ferreira, diz que recebe a notícia de manutenção do atendimento no PA infantil “com um misto de alegria e tristeza.” Segundo ele, resultados positivos são pontuais. “A política do setor tem sido de reduzir ao mínimo a remuneração. Muitos hospitais não conseguiram negociar e fecharam as portas.”
LIBERDADE VIGIADA A remuneração é um acordo livre entre planos e prestadores de serviços de saúde, médicos, hospitais, laboratórios. A ANS não interfere na negociação. O advogado da ONG S.O.S. Vida, especializada no atendimento à saúde, Antônio Carlos Teodoro, destaca que o atendimento à criança e ao idoso é prioritário. Segundo ele, a agência pode regulamentar o atendimento em urgências e emergências. “A longa exposição em filas e demora no atendimento geram uma situação degradante para o usuário, e a Justiça já definiu que não é um mero aborrecimento. Cabe, inclusive, indenização.”
O Estado de Minas procurou o Hospital Vila da Serra, que preferiu se posicionar por meio de nota oficial, sem informar o percentual de reajuste negociado com os planos.