Principal dor de cabeça dos brasileiros no início deste ano, a inflação acabou sendo a grande responsável pelo crescimento quase irrisório de apenas 0,6% do PIB nacional, na comparação com os últimos três meses do ano passado. Nem o bom desempenho dos investimentos — após uma longa temporada de percentuais negativos — nem as safras recordes que levaram a agropecuária a dar saltos nunca antes vistos conseguiram acelerar a economia. Isso porque a alta dos preços corroeu o rendimento real das famílias e inibiu o poder de consumo dos brasileiros, indicador que vinha segurando o PIB diante de um cenário de indústria em declínio e setor de serviços com avanços moderados. Minimizada pelo governo, a carestia rendeu mais um resultado decepcionante.
Com a forte desaceleração do crédito e o fim de incentivos fiscais, sublinhou o IBGE, não teve jeito: o consumo das famílias ficou praticamente estável, com alta de apenas 0,1% ante o trimestre anterior. Embora na comparação com igual período do ano passado o aumento de 2,1% seja o 38º seguido na série histórica, o ritmo do consumo foi claramente afetado pela inflação, que “poluiu” o rendimento real dos consumidores e mudou o perfil de crescimento do país, segundo a gerente da Coordenação de Contas Nacionais do instituto, Rebeca Palis.
Mesmo com desemprego e taxas de juros em níveis historicamente baixos, o volume de compras de janeiro a março foi quase igual ao de outubro a dezembro. O avanço de 0,1% é o menor em um ano e meio, ou seja, desde que o governo deixou o combate à inflação em segundo plano e editou sucessivos pacotes de alívio tributário e estímulo ao crédito. Outras hipóteses levantadas são a alta do endividamento e a retirada gradual de incentivos oficiais, como no caso da tributação de móveis e eletrodomésticos
Na comparação com outros países, o PIB trimestral brasileiro se igualou ao dos Estados Unidos, e no ranking do desempenho dos países, divulgado pelo IBGE, ficou atrás apenas da Coreia do Sul e do Japão, ambos com crescimento de 0,9% na comparação com o trimestre anterior. Entre os Brics, a comparação é feita com base no resultado de igual período do ano passado: o Brasil, com 1,9%, empatou com a África do Sul, ficou à frente da Rússia (1,6%) e bem atrás da China ( 7,7%). A Índia só fechará os números do primeiro trimestre amanhã.
IGP-M ficou estável em maio
O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) ficou estável em maio. A taxa teve variação de 0,15% em abril e de 1,02% em maio do ano passado. No acumulado desde janeiro, houve elevação de 0,99% e, nos últimos 12 meses, de 6,22%. O levantamento feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que o no acumulado o indicador utilizado como base de cálculo nas renovações dos contratos de aluguel (com variação anual) foi menor do que em abril, quando havia alcançado 7,3%. Esse resultado foi puxado pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), um três componentes do IGP-M, com variação de -0,30% ante -0,12%. Colaboraram, principalmente, para esse recuo mais expressivo os alimentos in natura (de 6,19% para -1,11%).