Rio de Janeiro – O modelo de crescimento baseado no estímulo ao consumo deu claros sinais de esgotamento, na avaliação do economista e professor da Fundação Getulio Vargas Rogério Sobreira. Para ele, a acomodação do indicador dos gastos das famílias (alta de apenas 0,1%) no primeiro trimestre deste ano revela que as políticas de incentivo adotadas pelo governo ao longo de 2012 surtiram um efeito momentâneo e insuficiente para reaquecer a atividade brasileira. “Ninguém, em tese, sai comprando geladeira todo semestre ou carro todo ano”, diz o economista.
“A taxa em si (de 0,6%), abaixo da expectativa do mercado, já foi uma ducha de água fria, mas a composição do PIB indica alguns pontos que chamam ainda mais a atenção”, afirma Sobreira. Se a acomodação do consumo das famílias, por exemplo, se configurar uma tendência, é sinal claro de que o modelo de crescimento fortemente baseado no consumo chegou ao esgotamento.”
O vice-diretor de Análise de Políticas Públicas da FGV reforça o sentimento de frustração do mercado com o pífio avanço de 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB) no início de 2013 e acredita que a taxa anual ficará entre 2,8% e 2,9%. “No melhor dos cenários, 3%, não mais que isso.”
“Os gargalos na infraestrutura são um problema grave. Justamente porque servem de obstáculo para os investimentos. O país só conseguirá atrair os investimentos necessários quando superar esse problema. A situação é complicada. Leilões e concessões recentes não parecem suficientes, e entre os empresários ainda há uma sensação de que estão todos ‘pagando para ver’”, explica Rogério Sobreira. “Em relação ao aumento dos investimentos, é preciso cautela: o indicador ainda não revela uma retomada, mas sim um retorno a níveis anteriores. Não dá para afirmar que o ritmo será mantido”
Selic
Para Sobreira, a alta de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central na última quarta-feira, acima do esperado pelo mercado, tem a ver com a análise que o governo faz da conjuntura sob o ponto de vista eleitoral e essa preocupação deve ficar ainda mais clara com a divulgação da ata da última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), na próxima quinta-feira. A disposição de conter a inflação, mesmo que para isso seja preciso sacrificar o crescimento do país, parece ter sido o que norteou a decisão da autoridade monetária, na avaliação do economista. “Se tiver de sacrificar alguma coisa, mesmo para 2014, será o crescimento. Nesse sentido, não há espaço para uma política monetária ultrarrestritiva”, afirma Sobreira.
Sob o ponto de vista eleitoral, completa o especialista, a inflação é um indicador muito mais relevante que o crescimento. “O governo topa reduzir o risco de expansão do PIB este ano, até porque ainda prevalece uma sensação de conforto e pleno emprego. Agora, a prioridade é segurar qualquer possibilidade de a inflação provocar um impacto ainda mais negativo.”