Dose extra de juros e o esfriamento da economia no primeiro trimestre foram insuficientes para demover os acionistas do Mercantil do Brasil dos planos de acelerar a expansão do banco, com um pacote de investimentos superior ao aplicado no ano passado em tecnologia, redes de comunicação de dados, voz e imagem, além de novas agências no interior de Minas Gerais e São Paulo. A instituição prepara o quarto aumento de capital promovido pela família Araújo desde 2010, com emissão de ações de subscrição privada, para financiar um crescimento ousado, mas não arriscado, como faz questão de definir o vice-presidente-executivo do Mercantil, André Brasil.
“Nos últimos cinco anos crescemos acima da média do mercado e vamos continuar ampliando a base de clientes e a carteira de crédito. Estamos bem focados e navegamos numa rede – como banco de varejo de porte médio – que as grandes instituições não estão atendendo bem”, afirma. Com 3,5 mil funcionários e 186 agências, o banco mineiro chegou aos 70 anos, dos quais mais de quatro décadas sob o abrigo de uma sede austera em pleno Centro ruidoso de Belo Horizonte que preserva a política de dar assistência aos clientes nos moldes tradicionais da conversa com os gerentes de confiança e não só pelas ferramentas do mundo virtual.
O que levou o banco a antecipar o seu programa de expansão, num cenário de aperto monetário e crescimento da economia inferior ao esperado?
Embora a curva de crescimento da economia brasileira tenha diminuído, o seu ímpeto ainda é positivo. O Brasil poderá alcançar um momento de estabilidade. É difícil prever isso, como ocorre nos mercados mais maduros dos Estados Unidos e da Europa, mas as nossas previsões indicam que o mercado ainda vai continuar crescendo nos próximos três anos em base de clientes e operações de crédito. Trabalhamos com as metas de aumentar a base de clientes (1,8 milhão) em 20% neste ano e o crédito em 25%. No ano passado, conseguimos elevar as nossas operações em 33%, ante uma expansão de 16%, em média, do mercado. Agora, as previsões do Banco Central e da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) são de que o crédito vai crescer de 12% a 13%.
É possível que a elevação dos juros básicos da economia comprometa essa expectativa em relação às operações de crédito?
O aumento dos juros tornou-se inevitável neste momento, frente ao recrudescimento da inflação, mas nós esperamos que seja uma situação transitória e que o Brasil retome a partir desse processo a rota dos juros baixos, que nos anos recentes foi muito melhor para todo mundo: para o empresariado, as pessoas físicas e os bancos. As aplicações de DI futuro projetam uma taxa de juros de 8% a 8,5% (ao ano) para janeiro de 2014. Eu considero uma estimativa bastante razoável. Não é um patamar tão alto assim e em se tratando de um nível suficiente para acalmar o ímpeto inflacionário, nós achamos que é o melhor.
Com que instrumentos a instituição conta para continuar a crescer?
É claro que para alcançar os números dos últimos anos não tivemos apenas as virtudes e o esforço do Mercantil do Brasil O país viveu o pleno emprego e esse cenário ainda permanece. Houve acesso de segmentos da população ao aumento da renda, a famosa “bancarização” e a entrada no mercado de consumo da classe C. Tivemos a felicidade de estar prontos para atuar de maneira competitiva no momento em que o Brasil estava crescendo e as pessoas físicas buscavam serviços e crédito. Nos últimos cinco anos crescemos acima da média do mercado e vamos continuar ampliando a base de clientes e a carteira de crédito. Estamos bem focados e navegamos numa rede – como banco de varejo de porte médio – que as grandes instituições não estão atendendo bem. Outra característica que nos favorece é a flexibilidade de atuação nos segmentos de pessoas físicas, jurídicas e grandes empresas, além do mercado representando pelos beneficiários do INSS. Isso nos permite direcionar o foco das nossas atividades dependendo da circunstância da economia.
Essa estratégia estaria mais voltada para qual desses segmentos em 2013?
Como banco que atua no varejo em geral, o Mercantil tem condições de mudar o foco toda vez em que um dos segmentos fica comprometido. Essa flexibilidade nos confere mais perenidade e segurança. No caso das pessoas físicas, nós só operamos com correntistas, ou seja, com aqueles tradicionais clientes do banco, com quem nós temos um histórico de relacionamento e de transações de longo prazo. Temos, basicamente, os mesmos produtos e a sofisticação de grandes bancos, mas não a escala. Então, enfrentamos o maior desafio de disponibilizar todos esses recursos para os clientes. Nosso diferencial é a qualidade do atendimento. Atendemos clientes que gostam de tecnologia, mas não se satisfazem com isso. Eles querem operar no internet banking, usar informações no sistema de mobile banking, mas desejam conversar com o gerente. Quando vão à agência, querem atendimento naquele momento de alguém que compreenda as suas demandas. Essa talvez seja a grande alavanca do crescimento do banco acima da média de mercado nos últimos cinco anos. A nossa a forma de comunicação com o cliente é olho no olho, um estilo de simplicidade sem grandes ousadias.
Como ficam, então, os investimentos para 2013?
O Mercantil do Brasil investe de R$ 15 milhões a R$ 20 milhões, todo ano, em tecnologia, estrutura física, incluindo as redes de agências e de comunicação de dados, voz e imagem, segurança bancária em tecnologia da informação, e capacitação de recursos humanos (são 3.500 empregados, em 186 agências). Este ano, o valor deve extrapolar os R$ 20 milhões porque resolvemos acelerar o nosso programa de expansão. Alcançaríamos 200 agências até 2014, mas vamos antecipar essa estrutura para este ano. Aceleramos justamente para capturar um momento mais favorável. Somos ousados, mas não arriscados, porque estamos investindo no que está dando certo e funciona bem. A rede de atendimento crescerá prioritariamente no interior de Minas e de São Paulo. Temos uma boa presença também em Goiás, no Espírito Santo e Rio de Janeiro.