Marta Vieira e Carolina Mansur *
O repique do dólar a R$ 2,14, numa semana de surpresas na economia, leva os brasileiros a repensar os custos que tendem a ficar maiores de cruzar as fronteiras do país a passeio, mas as companhias aéreas não deixam de investir em novos voos para estimular as viagens internacionais. A Aerolíneas Argentinas fez na madrugada de ontem a decolagem inaugural partindo do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, de Confins, na Grande Belo Horizonte, direto a Buenos Aires, com 60% de assentos vendidos e duração de três horas e quinze minutos. O voo diário, saindo do terminal à 01h45, em aeronave Embraer, vai oferecer 96 lugares. As passagens estão sendo vendidas por US$ 199, ida e volta (R$ 425,263 pelo câmbio de sexta-feira), em bilhetes emitidos até dia 10, acrescidos de taxas.
Se o câmbio permitir, a rota Confins/Buenos Aires abrirá a via mais promissora, hoje, do turismo ao estado, segundo o secretário de turismo, Agostinho Patrús Filho, devido ao fato de a Argentina ter assumido o posto de principal país emissor de turistas ao Brasil. Para Minas Gerais, a lista é liderada pelos Estados Unidos, enquanto a nação latina desfruta de um modesto quarto lugar. “Há um potencial imenso de crescimento do fluxo internacional de turistas ao estado . Conquistamos este e outros voos pelos atrativos que temos e pela hospitalidade dos mineiros”, afirmou Patrús Filho.
Os planos do governo estadual, no entanto, dependem dos rumos do dólar. Em setembro do ano passado, quando a moeda norte-americana chegava à casa de R$ 2, o presidente nacional da Associação Brasileira de Agências de Viagem (Abav), com 3 mil empresas filiadas, Antônio Azevedo, alertava sobre as consequências indigestas da valorização cambial sobre as vendas. Na sexta-feira passada, o dólar atingiu R$ 2,137, cotação mais alta desde maio de 2009, portanto, há quatro anos, para a surpresa do Banco Central, que esperava queda influenciada pelo aumento de 7,5% a 8% ao ano da taxa básica de juros, a taxa Selic, que remunera os títulos do governo no mercado financeiro e serve de referência para as operações nos bancos e no comércio.
A elevação da moeda americana em 6,3% num intervalo de 60 dias – ante R$ 2,010 em 1º de abril – acendeu o alerta no orçamento que a adovagada Flávia Cruzeiro Caruba vai começar a montar para viagem de 17 dias, em setembro, a San Francisco (EUA). Com as passagens compradas, Flávia passou a considerar as hipóteses de eliminar roteiros adicionais, como visitas a Nova York e Las Vegas, restringir compras locais e, dependendo do fôlego do dólar, até mesmo mudar a data da partida. “Fui seis vezes ao exterior e me acostumei a não criar expectativa de baixa do dólar entre um roteiro e outro”, afirma.
Analistas como Antônio Evaristo Teixeira Lanzana, professor da área de economia da Fundação Dom Cabral e coordenador de programas de MBA da Universidade de São Paulo (USP), acreditam que o BC deverá intervir esta semana no mercado de compra e venda de dólar para tentar reverter a subida. “O dólar está num momento de correção. É pouco provável que a cotação da moeda caia no futuro, mas acredito que flutuará perto de R$ 2,10, não mais que isso”, afirma. A recomendação para a advogada Flávia Caruba é de que ela compre dólares aos poucos, evitando deixar a operação para as vésperas da viagem. Assim, se beneficiará de um preço médio, entre baixas e picos eventuais.
Câmbio x turismo Como moeda vencedora em meio à crise internacional, Antônio Lanzana observa que o dólar sobe no Brasil como no resto do mundo, movimento típico da aldeia global em que o planeta se transformou. Como a economia norte-americana dá sinais de recuperação e as famílias estão menos endividadas, a moeda é mais procurada e se valoriza. No mercado brasileiro, outro motivo de valorização está na perda das exportações que provocam déficit no comércio com o exterior. A alta do dólar favorece as vendas externas e melhora o balanço de pagamentos do país.
Para a Aerolíneas Argentinas, nem mesmo a valorização da moeda norte-americana afetará os planos para o novo voo saindo de Confins com o início da temporada de inverno, avalia o promotor de vendas da companhia no Brasil, Wilson Campanelli. “Acreditamos que a grande demanda nessa época do ano e a novidade de um voo direto vão superar a instabilidade da moeda”, afirma o executivo. A empresa quer atender, além dos mineiros a passeio ou férias, os intercambistas que vão do Brasil para países da Oceania. No segundo semestre, deverá ser lançado outro voo para Buenos Aires, partindo de Brasília, e há perspectivas, também, de incluir Salvador nas rotas da operadora argentina.
*Repórter viajou a Buenos Aires a convite da Aerolíneas Argentinas
Fluxo cresce acima da média
O fluxo de passageiros no embarque e desembarque internacionais no aeroporto de Confins alcançou 445,612 mil pessoas no ano passado, representando crescimento de 5,5% frente a 2011, ritmo superior ao da média nacional, de 3,9%, no período comparado, de acordo com a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). Ao todo, passaram por Confins 10,398 milhões de passageiros em 2012, dos quais 4,28% partindo ou chegando do exterior. No Brasil, 193,119 milhões transitaram pelos aeroportos, sendo 18,915 milhões em rotas internacionais.
O voo inaugurado pela Aerolíneas Argentinas é a quinta linha internacional oferecida por Confins, que pôs a cidade no caminho da internacionalização com ligações diretas a Miami, Lisboa e Panamá. Para dar suporte ao voo a Buenos Aires, a Secretaria de Estado de Turismo receberá, amanhã e quarta-feira, 20 operadores de turismo argentinos e jornalistas especializados em roteiros turísticos, que vão participar de rodadas de negócios e conhecerão roteiros turísticos na Grande BH.
O secretário de Turismo, Patrús Filho, afirma que as conexões do aeroporto com o exterior são fundamentais, inclusive, para que o estado se aproveite dos grandes eventos da Copa das Confederações e do Mundial de Futebol de 2014. “Estamos trabalhando com outras companhias da América do Sul e da Europa para trazer novos voos”, diz. Wilson Campanelli, promotor de vendas da Aerolíneas Argentinas no Brasil, disse que a empresa não descarta inaugurar um escritório mineiro.
A despeito do dólar mais alto, as cotações em reais de pacotes turísticos internacionais com valores próximos aos de passeios no Brasil é que levaram Terezinha e Perpétua Girundi a optarem pela viagem a Buenos Aires na madrugada de ontem. “Cotamos pacotes e os preços estavam bem próximos das viagens para o Nordeste, que era a nossa primeira opção”, conta a sobrinha Maria Aparecida Girundi, que integrou grupo de sete pessoas da mesma família no voo inaugural da rota. O próximo destino será Portugal.
Para o casal Paula Pompei e Cláudio Roberto Fernandes, que mora em Timóteo, no Vale do Aço mineiro, pesou na decisão pela viagem o voo mais curto para aproveitar o passeio. “Para quem mora no interior, reduzir as escalas é uma grande vantagem”, afirma. (MV e CM)