O embaixador da Grã-Bretanha no Brasil, Alan Charlton, afirmou nesta quarta-feira que o país precisará se "internacionalizar" para assegurar que seja percebido no mundo com todo o potencial que tem. "É difícil desenvolver a inovação e se tornar competitivo se você não está aberto para o mundo e à competitividade", disse, em palestra organizada pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo.
Charlton vive no Brasil desde 2008, quando assumiu a embaixada. Na visão dele, é errado pensar que países de dimensões continentais não precisam se abrir ao comércio internacional tanto quanto as economias pequenas. "Eu não acho que essa é uma realidade se o Brasil tem ambições para o século 21. Vivemos num mundo conectado e interdependente. Sucesso requer visão e cooperação internacional."
"É importante consolidar indústria e serviços e garantir emprego. Proteção e regulação de conteúdo local podem funcionar por um período de transição", disse Charlton, que complementou, na sequência: "Isso pode levar, contudo, a uma economia de alto custo e não necessariamente de alta tecnologia em todas as áreas". Empresas estrangeiras estabelecidas no País gostam do protecionismo nacional, pois não precisam se preocupar com a competição, afirmou. Isso é prejudicial, segundo o embaixador da Grã-Bretanha, pois não incentiva a eficiência, a produtividade ou o avanço da tecnologia, nem aumenta as exportações.
"Não seria fácil para o Brasil se abrir imediatamente para a competição internacional, enquanto lida com a inflação e a taxa de câmbio elevadas", afirmou. Apesar de saber das dificuldades nacionais, Charlton disse que é preciso traçar um caminho para a competitividade em preço e tecnologia.
Um maior protecionismo - não só no Brasil, mas no mundo - pode ser uma resposta para as dificuldades econômicas que os países enfrentam, disse. "Esse é um caminho para um crescimento ainda menor. O mundo precisa promover mais crescimento, o que significa menos barreiras. Ter um sistema forte multilateral é a chave para todos: países desenvolvidos, emergentes e pobres."
Presente no evento, o embaixador Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia da Faap, declarou que o Brasil precisa ter "uma grande vocação de favorecer as negociações multilaterais". Conforme Ricupero, embora a presidente Dilma Rousseff seja engajada, ela "não tem a mesma vocação para as relações internacionais do que o presidente Lula". "Em parte, talvez porque os problemas econômicos sejam mais sérios", acredita.
Durante a exposição, Charlton cobrou mais engajamento brasileiro nas questões internacionais e defendeu a entrada do País como membro permanente do Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU). "O Reino Unido gostaria de ver o Brasil no Conselho de Segurança como um membro permanente, como parte de uma reforma maior", julgou. "Isso deve, infelizmente, levar algum tempo. No meio tempo, gostaríamos de ver o Brasil engajado cada vez mais em questões de segurança internacional", cobrou.
Economia e sociedade
O embaixador da Grã-Bretanha afirmou que o Plano Real e os presidentes brasileiros, desde então, transformaram o país num dos mais estáveis do mundo. Os fundamentos sólidos da economia, na análise de Charlton, foram essenciais para que o Brasil enfrentasse a crise econômica mundial de 2008. "Se em décadas passadas a economia brasileira seria muito atingida por uma crise internacional, nesta ocasião o País se manteve firme e se recuperou com forte crescimento em 2010", admitiu.
A solidez econômica e o enfrentamento da crise aumentaram a confiança no País, com a transição para uma economia de consumo de classe média, com altas taxas de emprego. "Este fortalecimento da classe média tem consequências políticas também", explicou. Na avaliação do embaixador, houve um fortalecimento da sociedade civil no Brasil, seguindo o mesmo movimento. Charlton exemplifica com a liderança brasileira em discussões ambientais, o movimento pela aprovação da Ficha Limpa, entre outros pontos.